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Os irmãos Taviani em Curitiba para uma mostra retrospectiva

Os irmãos Taviani em Curitiba, quem diria? Calma! Por enquanto, a passagem dos cineastas Paolo e Vittorio pela cidade, dentro de um roteiro brasileiro, é um projeto distante. Bem mais próximo, entretanto, é a perspectiva de se trazer um evento intitulado "A Bottega dos Taviani", que já foi vista por milhares de pessoas na Itália e França - e que irá também a Nova Iorque e outras cidades americanas. A Bottega é o original título que foi dado a uma grande homenagem aos realizadores de "Bom Dia, Babilônia", reunindo dez de seus filmes - incluindo documentários e séries feitas para a REI (televisão italiana), posters, peças de cenografia e guarda-roupa de filmes, roteiros, trilhas sonoras, etc. A Alitalia e a Embaixada da Itália começam a estudar esta promoção cultural - prevista para o primeiro semestre de 1900, a partir da iniciativa do cineasta Pedro Jorge Castro, que acaba de retornar de Roma, trazendo em sua bagagem nada menos que 18 horas de gravações em fita para a partir deste imenso material, mostrar dois documentários com o mesmo título - "O Segredo dos Taviani". Um, 30 minutos, destinado a televisão (inclusive a italiana, alemã e francesa) e um segundo, mais extenso, a ser cedido para todas as escolas de cinema que se interessarem. xxx Professor de cinema na Universidade de Brasília, Pedro Jorge de Castro, 45 anos, residiu por 5 anos (1965/70) na Itália, estudando literatura e cinema - e estabelecendo vínculos culturais que soube cultivar. Cearense, rodou em 1984/85, "Tigipió", baseado em conto de Herman Lima (1897/1981), premiado no II FestRio (85), entre outros festivais. No ano passado, estava com a produção de seu segundo longa-metragem, "O Calor da Pele", montado quando a Embrafilme lhe deixou a ver navios. Para compensar esta frustração, Pedro Jorge teve aprovado seu pedido de uma bolsa de pós-graduação na Itália pelo Conselho Nacional de Pesquisa. Durante nove meses trabalhou num projeto da maior profundidade sobre os irmãos Paolo, 58 e Vittorio, 60 anos, nascidos em San Ministo (Pisa) e que a partir de 1977, quando "Pai Patrão" recebeu a Palma de Ouro em Cannes, passaram a serem reconhecidos internacionalmente como cineastas de primeira grandeza. Entretanto, desde 1954 que os irmãos Taviani já vinham realizando curtas e documentários, paralelamente a atividades em movimentos literários e políticos após a queda do fascismo. Realizaram ciclos de espetáculos de vanguarda no Teatro di Cronca e apoiaram um círculo de cinema em Pisa. Associaram-se com Valentino Orsini e os três iniciaram uma colaboração bem sucedida especialmente em documentários, chegando depois a longas dramáticos - a partir de "I Sobversivi" (1967). No Brasil, ficaram conhecidos por "Pai Patrão" e seus filmes seguintes - "A Noite de São Lourenço" (81), "Kaos" (84, baseado em 4 histórias de Pirandello) e, especialmente, "Good Morning, Babilônia" (86, exibido há um mês no Cine Groff) solidificaram seu prestígio. xxx Entendendo a seriedade do projeto de Pedro Jorge - que já os conhecia anteriormente - os Taviani não só permitiram que o cineasta cearense acompanhasse toda a filmagem do seu último longa, "O Sol também é Noite", inspirado em um conto do russo Leon Tolstoi (1828-1910), como o auxiliaram. Para acompanhar os Taviani (as filmagens acabaram dia 5 de agosto e agora estão iniciando a montagem do filme, que só estreará em 1990, possivelmente reservado para o Festival de Berlim ou Cannes), Pedro Jorge teve o apoio de dois produtores radicados em Nova Iorque, o brasileiro Marcelo Dantas e o suíço Olivier Pfeiffer, apaixonados pela obra dos Taviani, que se uniram a realização. A Associação Cultural de Pisa - espécie de Secretaria Municipal de Cultura - deu a infra-estrutura e, assim, Pedro Jorge pode percorrer todas as regiões nos quais os Taviani rodaram seus filmes - sempre voltados a personagens da zona agrária - além de fazer entrevistas com atores, cenógrafos, fotógrafos e o compositor Nicole Piovanni, autor das trilhas dos últimos filmes dos irmãos Taviani. xxx Solidificando-se uma amizade com os cineastas Paolo e Vittorio, e entusiasmado com a qualidade do evento "A Bottega dos Taviani" - que conheceu já em sua inauguração, em Pisa, Pedro Jorge se dispõe a trazer esta produção ao Brasil. Já estabeleceu os primeiros contatos que fixam quatro capitais num roteiro básico - Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Salvador, aos quais acrescentará, "com a maior satisfação, pela simpatia que tenho pelo Paraná", também Curitiba. Para tanto, basta apenas existir o mínimo apoio - já que sendo bancada pela Alitalia e Embaixada da Itália (e nada impedindo que regionalmente tenha um patrocínio via Lei Sarney - por que não de uma firma ligada as coisa da Itália?) o evento poderá acontecer também em nossa Capital. A vinda dos irmãos Taviani dependerá da disponibilidade de tempo dos mesmos - mas, de princípio, eles estão com simpatia pela idéia de conhecerem o Brasil. E os 10 filmes selecionados (a exibição do último, agora em fase de montagem, dependerá de outros fatores) dará uma idéia geral da importância destes realizadores que, nos últimos 12 anos, trouxeram uma nova visão da Itália. xxx Há 10 anos, em sua segunda administração, o prefeito Jaime Lerner - sempre um cinéfilo entusiasta - apoiou uma idéia que previa trazer Fellini ao Brasil. Chegou-se até a pensar em fazer da pedreira do Pilarzinho - agora Espaço Leminski - uma espécie de Aldeia Amarcorde. O projeto da vinda de Frederico Fellini vir ao Brasil acabou não dando certo, mas a motivação produziu um bom fruto: para "mostrar" ao realizador de "A Doce Vida" o que era Curitiba, Valêncio Xavier, na época diretor da Cinemateca, realizou um esplêndido curta-metragem, "Carta ao Signore Fellini", que acabou recebendo o principal prêmio na Jornada de Cinema da Bahia. Só que Fellini nunca viu este filme criado, de uma forma muito original. O pintor Franco Giglio (1937-1982), que aparecia na última seqüência, chegou a levar a Itália uma cópia para encaminhar a Fellini, mas nunca conseguiu acesso a alguém que fizesse o mais famoso cineasta italiano assistir o curta-metragem.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
27/08/1989

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