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Aramis

Os judeus paranaenses (II)

O crescimento da comunidade judaíca em Curitiba foi intenso no período entre as duas guerras mundiais - 1918-1939. A professora Regina Rottenberg Gouveia, em sua dissertação de mestrado, defendida em junho último no Departamento de História da UFP, lembra dois fatos que provocaram a imigra''cão dos judeus. "Por um lado, o Brasil saía da I Guerra Mundial com um parque industrial pouco mais diversificado e com seu saldo comercial superavitário, favorecendo investimentos. Por outro lado, recrudescia na Europa, em especial na Alemanha, na Austria e na Polônia, o anti-semitismo, enquanto as nações tradicionalmente receptivas aos imigrantes, como os Estados Unidos, Canadá e Argentina limitavam a entrada de estrangeiros. Curitiba participou desse processo, perceptível no aparecimento de um número significativo de fábricas, principalmente no setor alimentício. O ambiente era de tal forma propício ao comércio que a população judaica da capital cresceu, aparecendo, pela primeira vez, a possibilidade concreta de criação de duas instituições importantes: a Escola e o Cemitério. Logo no início da década de 20, membros da comunidade tentaram construir um cemitério próprio, no que foram desestimulados pelo prefeito da época, que argumentava já existir o Cemitério Municipal, amplo e franqueado a todos, no qual se respeitava qualquer rito fúnebre. Depois de negociações entre Salomão Guelmann e o arcebispo de Curitiba, em 1926, a Prefeitura construiu, na Avenida ãgua Verde, o cemitério Israelita ao lado do já existente cemitério cristão (já nos anos 60, seria construído um segundo cemitério israelita, em Santa Cândida). Xxx Já a escola israelita teria seu espaço próprio a partir de 1927. Não que fosse desnecessária anteriormente. Em 1921 já havia um grande número de crianças em idade escolar, sem existir uma unidade especializada em sua instrução. A ICA (Jewish Colonization Association), agência que auxiliava a emigração de judeus, fundada em 1891 pelo banqueiro judeu-alemão Maurice Hirsh (1831-1896), enviou, em 1925, um professor, cujas aulas eram ministradas na sede do Centro Israelita do Paraná. Tal experiencia durou apenas seis meses as aulas só foram retomadas em 1927, com a chegada de um casal de professores, cujo pagamento era dividido entre a ICA e a comunidade. A escola ganhou um novo endereço, uma casa alugada na rua do Rosário e o governo estadual nomeou dois professores para o ensino de Português, História, Geografia e Ciências. Em 1935, à Escola Israelita Brasileira Salomão Guelmann - como passou a ser denominada em retribuição ao homem que doou sua sede própria, na Rua Lourenço Pinto (onde funciona até hoje) passou a ser uma instituição oficializada, que em convênio com o Estado, passou a aceitar alunos não judeus. Xxx Examinando os locais de nascimento dos imigrantes, a professora Regina Gouveia concluiu que o fluxo dirigido ao Paraná foi parte do mesmo fenômeno emigratório, iniciado no fim do século XIX na Europa Oriental, cuja motivação principal era o antisemitismo. Observando-se ao longo de todos os períodos do total de imigrantes vindos para Curitiba, 82,9% eram da Europa Oriental. Os judeus imigrantes para Curitiba, especialmente os vindos da Polônia, eram provenientes de pequenas aldeias, de fácil comunicação entre si, com fortes características rurais, mas permitindo aos seus habitantes uma participação na intermediação comercial entre a cidade e o campo. Assim, sua vida se concretava mais nas cidades e em atividades fundamentalmente urbanas, o que os levava, na emigração, a procurar países e regiões mais desenvolvidos. Isso explica em parte o porquê da pouca procura de um estado como o Paraná, que, na época dos pioneiros, pouco ultrapassava a fronteira do rural. A vinda das familias Flaks é Rosenmann para a colônia Tomás Coelho estava ligada à sua experiência no comércio de gêneros agrícolas (cereais, em especial). Não vieram com outros judeus, mas nunca corrente migratória não judaica. Os judeus preferiam nos EUA, Canadá e Argentina (onde está a maior comunidade israelita da América do Sul) e no Brasil, se fixaram em São Paulo, Rio e Rio Grande do Sul. Em 1926, de uma imigração judaica, dos 3.906 chegados, apenas 22 vieram para Curitiba. Numa segunda leva imigratória do mesmo ano, das 284 pessoas, apenas dez vieram para Curitiba. As restrições impostas pelo EUA, Canadá e Argentina, levavam os imigrantes a virem ao Brasil, com possibilidades amplas para os que aqui chegavam, fazendo a corrente imigratória subir especialmente entre 1920/29. Já entre 1938/49 houve uma acentuada queda, devido às restrições do Estado Novo, quando Getúlio Vargas baixou decretos restringindo a vinda de estrangeiros. Xxx Sendo o curso de pós graduação especializado em História Demográfica, a dissertação de mestrado de Regina Gouveia se fixa especialmente nestes aspectos. Assim, salienta que "o que é importante reter aqui é o fato de que, mesmo com a liberalização da imigração no pós-guerra (1946), Curitiba não receberia mais um número importante de novos elementos judaicos. E pela observação do último período estudado, de 1960 a 1970, verifica-se uma tendência no sentido decrescente. Com isso, consolida-se a idéia da nacionalização e da sua integração, na medida em que não chegavam novos imigrantes para reacender o espírito do judaismo": Um dado importante para se conhecer o grau de integração na nova pátria é o das naturalizações. Comprova-se que os imigrantes judeus chegados no primeiro período foram os mais reticentes, quanto à adoção da nova nacionalidade. E isso porque muitos estavam ainda ligados à Europa e às perseguições sofridas, o que os deixava desconfiados quanto aos perigos de uma maior integração representava na perda de identidade. Da mesma forma, a Europa ainda abrigava um grande número de judeus amigos e familiares, aos quais pretendiam juntar-se um dia, caso desejassem ou fosse necessário. No período de 1950/59 houve a maior concentração de naturalizações. Em geral de judeus chegados no pós-guerra, que foram os que mais rapidamente pediram a cidadania brasileira. Nesse caso, já observava-se a perda da ilusão de um retorno, pois os massacres perpetrados pelos nazistas superavam as tristes experiências de seus antecessores na Rússia Czarista, dos "pogroms" e da interdição de posse da terra.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
6
19/08/1980

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