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Aramis

Os Kikitos auxiliam carreiras dos filmes

Uma coisa é certa: as premiações de Gramado já contam muito no processo de comercialização de um filme. Sergio Rezende, 38 anos, o grande premiado no ano passado com seu "O Homem da Capa Preta" - e agora preparando-se para fazer um longa com o grupo de rock RPM - diz: - "Os prêmios de Gramado ajudaram a carreira do meu filme. Foi um aval, uma alavanca..." Mesmo quando a incompetência da Embrafilme prejudica o lançamento de um filme - caso de "Marvada Carne", de André Klotzel, o grande premiado em 1985, os Kikitos creditam à produção. Klotzel, sem projetos definidos ainda de filmar um novo longa, admite que os 15 meses que separaram a premiação em Gramado e o lançamento de seu filme esvaziaram promocionalmente a fita, no que havia ganho de destaque há dois anos. - "Entretanto, os Kikitos foram importantes." Klotzel foi o produtor executivo de "Anjos da Noite", uma modesta produção paulista, um thriller-dark, do diretor estreante Wilson de Barros, 39 anos, que saindo com seis Kikitos - inclusive o de melhor diretor, prêmio da crítica, atriz (Marília Pêra, dividida com Betty Faria por "Anjos do Arrabalde"), tem, agora, melhores condições de comercialização. Também "Anjos do Arrabalde - As Professorinhas", de Carlos Reichenbach, que havia tido um lançamento obscuro, em São Paulo, será agora reciclado promocionalmente: além dos Kikitos de melhor filme, atriz principal e atriz coadjuvante (Vanessa ALves), ganhou o troféu Embratur e o prêmio Manchete, que significa uma mídia nacional para a estréia deste filme de fundo social, com toques de um neo-realismo - e que já pode ser visto, pelos apressadinhos, em vídeo cassete. Francisco Ramalho Júnior, 47 anos, diretor de "Besame Mucho", não escondia sua frustração na madrugada de sábado: seu aguardado e belo filme havia levado apenas dois Kikitos - roteiro (dele e de Mário Prata) e figurino. Na opinião de muitos, "Besame Mucho" merecia muito mais, especialmente os prêmios de melhor ator para Antonio Fagundes que foi para Wilsom Grey (por "A Dança dos Bonecos", de Helvetio Ratton) e melhor atriz para Christiane Torloni (que perdeu para Betty Faria e Marília Pêra). Christiane Torloni, óculos escuros, sem maquiagem, ao lado de um novo namorado. estava acabrunhada no bar do Hotel Serrano. Ramalho analisava os critérios de premiação e não escondia sua chateação, rebatendo as críticas de que havia realizado uma superprodução. - "Fiz apenas um filme bem acabado, com um custo médio - US$ 550 mil, para apresentar ao público uma obra capaz de agradar." Realmente, de todos os filmes em competição em Gramado, neste ano, "Besame Mucho" é o que tem maiores chances de bilheteria: levando ao cinema a peça de Mário Prata, Ramalho, talentoso cineasta que há 12 anos havia sido premiado em Gramado com "A Flor da Pele" (da peça de Leilah Assumpção) faz uma crônica sentimental, suave da amizade de dois amigos, Xico (José Wilker) e Tuca (Fagundes), que casaram com duas amigas, Olga (Glória Pires) e Dina (Christiane Torloni) e viveram sonhos, realizados ou não. O filme começa na época atual, com a crise das relações dos dois casais: Xico e Olga estão se separando e Tuca está enlouquecido ameaçando Dina com uma faca de cangaceiro. A partir destes fatos a história passa a ser narrada do fim para o começo. Primeiro vem o efeito e depois vão se descobrindo a causa. É um filme-emoção. Ramalho admite influências de "Amigos Para Sempre" ("Four Friends", de Arthur Penn) e "Os Maridos" ("Husbands", de John Cassavetes), na ideologia do enaltecimento a amizade - e em torno dela os fatos sociais. - "Esse retorno mágico e realista no tempo descreve a amizade entre dois homens que viveram a alegria dos anos 60, o desencanto dos anos 70 e a queda no real dos 80. Um retorno que, no final, chega as causas que fizeram dos personagens o que eles são: o namoro com as duas garotas, ingênuas e simples, ao som da música de Consuelo Velasquez." A trilha sonora de Wagner Tiso é interessante, inclusive no arranjo que faz sobre o tema-título. No final, a seqüência do baile de debutantes, em Pirassununga, com a orquestra de Silvio Mazzuca é deslumbrante: o fotógrafo José Tadeu Ribeiro conseguiu cores e efeitos que lembram, declaradamente, "Billings", de David Hamilton. Nunca Christiane Torloni e Glória Pires estiveram tão espontâneas e lindas e só esta seqüência já encantará o público. Com o lançamento previsto para a próxima semana, em São Paulo, "Besame Mucho" é um filme de primeira categoria. Emocionante, profundo e confirmando o talento de um cineasta do maior vigor. LEGENDA FOTO - Antonio Fagundes e Christiane Torloni em "Besame Mucho".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
5
10/05/1987

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