Login do usuário

Aramis

Os livros que falam da arte da política

Era de se esperar um boom de livros de temas políticos motivados pelo clima de eleições. Mas talvez partindo do princípio de que os eleitores e candidatos estavam mais preocupados em votar do que teorizar, poucos foram os livros de política que apareceram nos últimos meses. É claro que a Editora da Universidade de Brasília lançou a mastodôntica edição do "Diconário de Política" (1.328 páginas, Cz$ 780,00), com 307 verbetes, do senador e teórico italiano Norberto Babbio, 77 anos. Obra de referência e consulta, este diconário ainda está sendo pouco comercializado fora de Brasília - limitado talvez pelo seu custo. xxx Num outro extremo, num volume de menos de 60 páginas, edição de bolso, o líder do Partido dos Trabalhadores, Francisco Weffort, publicou "O que é Deputado" (volume 178 da coleção "Primeiros Passos", editora Brasiliense), no qual busca explicar as orígens históricas dos deputados e discute o papel destes no atual momento político. Parecendo mais um folheto eleitoral, a nova editora Anima lançou "Partido Verde - uma proposta de ecologia política" (96 páginas Cz$ 48,00), abrindo com um texto-manifesto de Fernando Gabeira, candidato do PT (e dos "verdes") ao governo do Rio de Janeiro, e reunindo textos breves de outros intelectuais ligados ao Partido Verde: Alfredo Sirkis, Julio César Monteiro Martins, Carlos Minc, Herbert Daniel, José Augusto Pádua, Antônio Lago, Luiz Alberto Py, Vilmar Berna, Liszt Vieira e Denise Crispum. xxx Outra pequena editora, a Papirus, de Campinas, SP, lançou dois volumes teóricos: "Estado e Teoria Política" de Martin Carnou (339 páginas, Cz$ 179,00) e "Sacralização da Política", de Alcir Lenharo (216 páginas, Cz$ 110,00). Martin Carnoy em "Estado e Teoria Política" confronta a importância da política e a questão do Estado, concepções antagônicas em sua ótica, "tal como foram elaboradas ao longo dos últimos séculos na teoria política". De um lado, a tradição liberal-clássica, de raízes burguesas, e sua evolução até os dias de hoje, configuradas nas teorias democrático-pluralistas dominantes no pensamento norte-americano. De outro, a tradição marxista, que opõe à concepção do Estado do bem comum a perspectiva da natureza da classe do Estado. Já em "Sacralização da Política", Alcir Lenharo, 40 anos, faz um estudo profundo e complexo sobre as relações de Estado Novo e o golpe de 1964, com a utilização da imagem do Estado como um "corpo" para significar o conceito de nação. Assim como o Cristianismo se utiliza do "corpo de Cristo" em suas liturgias, há uma sacralização do "corpo que trabalha" no entendimento de Lenharo, que aprofunda seu estudo em torno das contradições da história, do Poder e da Política de Getúlio Vargas até a Nova República. Dois aspectos são especialmente dimensionados: a política trabalhista, retirando direitos e lesando trabalhadores e o sistema indireto de eleições, pelo qual se promoveu uma aparência de democracia.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
2
16/11/1986

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br