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Aramis

Os melhores filmes dos anos 80 serão exibidos pelo MIS

Numa saudável preocupação de fazer com que o auditório Brasílio Itiberê, hoje um dos melhores da cidade (poltronas novas, cabine de projeção em 35/16mm) funcione intensamente, o secretário René Dotti recomendou ao diretor do Museu da Imagem e do Som, Valêncio Xavier, que inicie uma programação cinematográfica de alto nível, dando aos cinéfilos a oportunidade de melhor apreciarem filmes importantíssimos - em várias metragens. Idealizador e o grande responsável pela implantação da Cinemateca do Museu Guido Viaro, há 12 anos, Valêncio Xavier já estabeleceu contatos para fazer com que a sala da Secretaria da Cultura se torne uma opção realmente cultural, suprindo as deficiências cada vez maiores existentes no circuito oficial de exibição da Secretaria Municipal de Cultura, hoje com 5 espaços - os cines (comerciais) Groff, Ritz, Luz e Guarani mais a asfixiante, oficialmente batizada de Arnaldo Fontana, em homenagem ao falecido crítico de cinema - mas cujo nome nunca é lembrado pela própria Fundação - que praticamente esqueceu o patrono da sala, num desrespeito a sua memória. Apesar das dificuldades de operacionalizar uma sala que não tem condições de manter uma programação fixa de projeções (se isto fosse possível, poderia entrar no circuito programado pelo Conselho Nacional dos Cineclubes, que, como registramos na coluna de quinta-feira, 4, assessora salas em várias capitais), Xavier pensa em organizar um ciclo com os filmes dos anos 80. Com base no levantamento de amanhã do ALMANAQUE - que reuniu as indicações não só de críticos e cinéfilos brasileiros, mas também as revelações dos filmes da década de 80 no poll das revistas "Cahiers do Cinéma" (França), "American Film" (EUA), "Ulisses" (Itália) e "Set" (Brasil), se poderá ter ao menos alguns dos filmes mais representativos deste período - mesmo se aproveitando o recurso do vídeo. Infelizmente, em mais uma demonstração de insensibilidade, a Fucucu desperdiçou a oportunidade de apresentar um ciclo dos 10 melhores filmes de 1989 e também os da década. Na pressa de queimar reprises das mais importantes, filmes que estarão entre os 10 melhores do ano - como "Bird" de Clint Eastwood e "Os Vivos e os Mortos de John Huston - foram reprisados nas últimas semanas, sem qualquer promoção mais cuidada. O mais grave, entretanto, ocorreu agora: tendo lançado no último dia 22 de dezembro, três dos filmes mencionados em quase todas as relações dos melhores dos anos 80 - "A Noite de São Lourenço", 1981, de Paolo e Vitorio Taviani; "Fanny e Alexander", 82, de Ingmar Bergman e "O Último Imperador", 87, de Bernardo Bertolucci, os mesmos foram retirados de cartaz na última quarta-feira. Houve um agravante: por dois dias (25 de dezembro e 1o. de janeiro) os cinemas da Fucucu não funcionaram, sob alegação de "descanso de funcionários" - retirando, assim, a oportunidade dos espectadores aproveitarem a folga do Natal e Ano Novo, para assistirem a filmes importantes. Em todas as cidades, os cinemas nunca fecham nos dias que podem ter maior público, estabelecendo-se escalas de serviços e se cancelando apenas as sessões das noites de 24 e 31 de dezembro. "Fanny e Alexander", apontado por 14 críticos (entre os quais nomes de expressão nacional como Rubens Ewald Filho, Wilson Cunha, Susana Schild, Fernando Albaglin, Carlos Alberto de Mattos, José Carlos Avelar etc.) como o melhor filme dos anos 80, assim como "A Noite de São Lourenço" (também entre os 10 melhores da década) mereceriam ter permanecido em cartaz inclusive porque com a publicação da edição especial do ALMANAQUE, amanhã, haverá um natural interesse de centenas de cinéfilos em os (re)verem na tela ampla. Ironicamente, a instituição que deveria estimular o bom cinema prejudica (mais uma vez) o público. Mesmo com boas reprises ("Madame Souzantska" de John Schlessinger, no Luz; "Reed-México insurgente", de Paul Leduc, no Groff), nada justifica o fato de filmes de Bergman e Taviani terem sido sonegados do olhar dos curitibanos. Esta não é a primeira vez que a programação dos cinemas oficiais da cidade sofre pela falta de eficiência da Secretaria Municipal de Cultura, embora houvesse esperanças de que como o prefeito Jaime Lerner sendo um cinéfilo interessadíssimo (aproveitou sua viagem a Nova Iorque para assistir a vários filmes que estarão concorrendo ao Oscar-90), o setor passasse a merecer melhor atenção - o que não aconteceu. xxx A propósito, Jaime Lerner já reconheceu que não é finalidade específica da Secretaria Municipal/Fundação Cultural fazer com que o circuito oficial apresente apenas lucros (embora estas casas de exibição venham operando com boa rentabilidade) mas, sim "servirem à comunidade em termos culturais". No momento em que prejudica o público, retirando de cartaz dois dos melhores filmes da década, é de se indagar até que ponto se justifica que o Poder Público continue concorrendo numa área que tradicionalmente deveria pertencer à iniciativa privada.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
06/01/1990

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