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Aramis

Os melhores filmes estão chegando da Escandinávia

Como se não bastassem os filmes "oscarizáveis" - que continuam em cartaz e aos quais se acrescentará, dentro de duas semanas, "Nas Montanhas dos Gorilas" (que apesar das 6 indicações, ficou sem nenhuma premiação), inesperadamente, há o lançamento de dois excelentes filmes que saindo da Escandinávia, foram a grande sensação internacional em 1987, indicados ao Oscar e que vêm entusiasmando públicos de todos os países em que estão sendo exibidos: "Minha Vida de Cachorro" (Bristol, 5 sessões) e "A Festa de Babette" (Cinema I, 5 sessões). Há ainda dois filmes de terror - "Noite Alucinante" (Palace-Itália) e "A Bolha Assassina" (São João), além de reprises importantes, a começar por "Punhos de Campeão", um líbero contra a brutalidade do boxe (Groff). A Emoção Escandinava - Os apressadinhos que preferem a redução para a telinha já estão curtindo há semanas "A Festa de Babette" e "Minha Vida de Cachorro", lançados em vídeos selados. Mas na tela ampla, na tranqüilidade de uma sala de projeção, a emoção destas duas obras-primas que chegam da Escandinávia é maior. Tanto o filme de Lasse Hallstrom, "Minha Vida de Cachorro", realizado na Suécia, como "A Festa de Babette", do dinamarquês Gabriel Axel, são simples, produções modestas para os padrões internacionais, mas que tocam o espectador pela emoção de seus personagens e histórias. Como Fellini, tanto o sueco Lasse como o dinamarquês Axel, fazem de seus micromundos uma identificação universal, trazendo em imagens de intensa pureza e argumentos humanos toda a força de comunicação que só o cinema permite. A história da francesa Babette Hersant (Stephane Audran), que no século passado fugindo de Paris, refugia-se numa pequena aldeia da Dinamarca - e ali estabelece profundos vínculos de amizade, terminando numa grande e inesperada festa que ela oferece - como a história do garoto Ingemar (Anton Glanzelius), que devido à doença da mãe, vai viver com uma tia numa pequena aldeia - e ali tem seu despertar para o mundo - são pontos que fazem todas as emoções se unirem. Tanto no filme de Axel, como em "Minha Vida de Cachorro", não há nomes famosos no elenco, não houve preocupações de modismos e muito menos efeitos especiais. São, entretanto, duas obras primas que mereceram indicações ao Oscar ("A Festa de Babette" foi, inclusive premiado como melhor filme estrangeiro exibido nos EUA em 1987) e, com toda a certeza, estarão entre os 10 melhores filmes do ano. É de se esperar que permaneçam ao menos duas semanas em cartaz já que, infelizmente, muitas obras primas, quando não ganham um marketing total (como acontece com os filmes oscarizáveis) acabam fracassando em Curitiba. Mesmo existindo em vídeo, tanto "Minha Vida de Cachorro" como "A Festa de Babette" devem ser curtidos em tela ampla, com todo o ritual que o melhor cinema oferece. Um clássico de Wise - Um dos mais populares esportes nos Estados Unidos, o boxe, por sua violência e corrupção, tem merecido também vigorosas críticas cinematográficas. Há 40 anos, quando estava no vigor de seus 35 anos, Robert Wise realizou "Punhos de Campeão" (The Set Up), que com 72 minutos de duração, anteciparia uma técnica que, dois anos depois Fred Zinnemann adotaria num clássico western ("Matar ou Morrer/ High Noon"): a ação do filme tem a mesma duração da projeção. Rodado em branco e preto, com um pequeno orçamento e apenas um ator conhecido no elenco - Robert Ryan (ao lado de Audrey Totter, Alan Baxter e George Tobias), "Punhos de Campeão" é daqueles filmes que devem ser (re)vistos sempre que há oportunidade - especialmente quando projetados numa sala de projeção normal. Uma curiosidade: Mark Robson (1913-1978), amigo e companheiro de Wise em muitos projetos (começaram juntos, em 1939, ajudando Orson Welles a montar "Cidadão Kane"), no mesmo ano (1949) também realizava um filme notável sobre boxe: "O Invencível" (The Champion, com Kirk Douglas e Ruth Roman) e, em 1956, voltaria a denunciar o boxe em "A Trágica Farsa" (The Hardder they fall), última atuação de Humphrey Bogart (1899-1957). EM EXIBIÇÃO NO CINE GROFF. IMPERDÍVEL. Terror - Apesar de ostentar premiações em festivais de filmes de terror e science fiction realizados em Kenokke Hist, Paris e Stiges, "Noite Alucinante - Parte I: Onde Tudo Começou" (The Evil Dead) é um filme asqueroso: corpos cortados a machados, mortos-vivos em exageradas seqüências de horror explícito, fazendo com que se pergunte o que os jurados destes festivais viram nesta fita de Sam Raimi (elogiado por alguns críticos como "novo gênio de terror") merecedor de premiação. Destinado às faixas mais baixas do público, capazes de se divertir com tanto mau gosto e violência. Em 1958, o desconhecido Irvin Yaworth realizou um curioso science fiction que ficou famoso pela eletrizante trilha sonora (o tema central foi sucesso no Brasil) e por ter marcado o primeiro papel importante do então garotão Steve McQueen (1924-1980) no cinema: "A Bolha Assassina" (The Blop). Vindo do espaço, um meteorito jogava na Terra uma goma que começava a "engolir" tudo que encontrava. O filme foi um sucesso e 30 anos depois, na indigência de idéias no cinema de terror, os produtores Jack Harris/Elliot Kastner decidiram fazer uma refilmagem. Como diretor, novamente um desconhecido - Chuck Russell, que talvez esperando encontrar um novo Steve McQueen, lança no papel central o garotão Kevin Dillon - ao lado de outros new faces como Shawnee Smith, Donovan Leitch e Candy Clark (o único veterano é o excelente ator negro Joe Seneca, visto com destaque em "A Encruzilhada"). A música é de Michael Hoenig (mas sem a comunicabilidade do tema original) e a produção teve efeitos especiais que em 1958 inexistiam. Pode ser que o público goste - e na ausência do "The Blop" original (nos EUA, o vídeo custa US$ 80) é uma opção. Em exibição no CINE SÃO JOÃO. Outras Opções - "Rain Man" (Condor), "Um Peixe Chamado Wanda" (Lido II), "Irmãos Gêmeos" (Lido I, agora, também, no Itália), "Mississipi em Chamas" (Plaza) e "As Ligações Perigosas" (Astor) continuam em cartaz, com rendas ascendentes. No Luz, entra em reprise, um filme delicioso: "A Ópera do Malandro", de Ruy Guerra, baseado no musical de Chico Buarque (que por sua vez inspirou-se em "A Ópera dos Três Vinténs", de Brecht/Kurt Weill e "A Ópera do Mendigo", do inglês John Gay). Premiado no FestRio-87, com excelente coreografia e belas músicas (saíram 3 edições diferentes com as músicas), tem a belíssima Claudinha Ohanna no personagem central. Vale a pena rever "Ironweed", de Hector Babenco - uma obra vigorosa, magnífica, em reprise no Ritz. LEGENDA FOTO 1 - Um filme de terror explícito em festivais internacionais, com cenas chocantes: "Noite Alucinante", em exibição no Palace-Itália. LEGENDA FOTO 2 - Arnold Schwarzenegger e Danny De Vito em "Irmãos Gêmeos", comédia agora em exibição também no cinema Itália. No Lido I vem lotando a casa há 3 semanas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
8
14/04/1989

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