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Aramis

Os nossos Senadores (II)

A leitura atenta de "O Paraná no Senado", da professora Maria Nicolas (Edição da Imprensa Oficial do Estado, 58 páginas), oferece possibilidade de muitas reflexões para quem se interessa pela política e sociologia e história do Paraná. Embora tendo finalidade apenas biográfica, com informações sobre quem foi cada um dos 35 homens que em 124 anos de vida política representaram o Paraná no Senado, o levantamento da professora Maria Nicolas mostra a falta de renovação nos quadros políticos do Estado. A presença insistente dos mesmos homens por várias legislaturas - intercaladas de ocasionais "renúncias" para ocupar outros cargos elevados - mostra que falta de uma maior rotatividade dos danos do Poder é histórica e que as oligarquias sempre se impuseram no Paraná - a exemplo, aliás, de tantos outros Estados. Seriamente, no ponto-de-vista universitário, como ponto de partida talvez para tese de algum dos alunos do curso de pós-graduação em História na Universidade Federal do Paraná - ou, com bom humor, na pena um de cronista ágil (como um Carlos Eduardo Novaes, por exemplo), o círculo (vicioso) político do Paraná é prato dos mais saborosos. xxx Ontem, acompanhamos a presença dos senadores do Paraná até a 11ª legislatura (1921-19123), quando Carlos Cavalcanti de Albuquerque (1864-1940) foi eleito para um período de 9 anos, em substituição a Manoel Guimarães (1865-1940), que desde 28 de julho de 1908 estava no Senado. Na mesma eleição, Affonso Alves de Camargo (1873-1916) era eleito para a vaga deixada por Francisco Xavier da Silva (1838-1922), há 17 anos tendo sucessivas [reeleições] (na época, cada legislatura tinha um período de 2 anos). Generoso Marques dos Santos (1844-1928), era então reeleito mais uma vez - ele que desde a 1ª legislatura do período republicano ocupava cadeira no Senado, com alguns intervalos (entre os quais o período que foi Presidente do Estado). Em 1924, Affonso Camargo, Carlos Cavalcanti e Generoso Marques prosseguiram no Senado, só havendo uma substituição em 1927, na 13ª legislatura, quando Luiz de Albuquerque Maranhão (1878-1948) foi eleito para a vaga deixada por Generoso Marques, que faleceria no ano seguinte. Em 1930, na 14ª legislatura, apenas a fraternal substituição: saía Affonso - então eleito Presidente do Estado - e entrava seu irmão Marins Alves de Camargo. xxx Em 1933, para a 15ª legislatura (1933-1937) houve, finalmente, uma renovação, com a eleição dos senadores Flávio Carvalho Guimarães (1891-1968), Roberto Glaser (1878-1958) e Arthur Ferreira dos Santos (1894-1970). Em 1937, o presidente Getúlio Vargas (1883-1954) instituía o Estado Novo e extinguia os órgãos legislativos. Só a 18 de setembro de 1946, com a eleição do general Eurico Gaspar Dutra formava-se a Constituinte - tendo o Paraná, como senadores, justamente os mesmos homens de 1937 - Guimarães, Glaser e Santos, eleitos em 1947 para a 1ª legislatura do atual período (1947-1950). Em 1951, Flávio Guimarães e Roberto Glaser eram reeleitos - mas Arthur Santos deixava o Senado, sendo substituído por Othon Mader (1895-1974). xxx A legislatura referente ao período de 1955/58 apresentou características bastante curiosas: o Partido Social Democrático que na 2ª legislatura já havia feito dois senadores - Flávio Guimarães e Roberto Glaser (Othon Mader venceu pela UDN, na campanha em que enfrentou o pessedista Raul Vaz) disputou com duas chapas: uma com Moisés Lupion - tendo por suplente Alô ticoulat Guimarães e, na outra, Alô Guimarães tendo como suplente Gaspar Duarte Velloso (1903-1976). Lupion e Alô Guimarães foram eleitos - mas poucos meses depois de sua posse houve necessidade de um estratagema: voltando Moisés Lupion ao governo, em substituição a Bento Munhoz da Rocha Neto - vagaria uma cadeira no Senado. O raposismo pessedista funcionou: Lupion renunciou e assumiu o seu suplente, que era Alô Guimarães. Alô havia renunciado horas antes e assumido em sua vaga Gaspar Velloso. Assim o PSD continuou com as duas cadeiras no Senado. xxx Alô Guimarães, curitibano, hoje com 75 anos, teve um mandato de 8 anos como senador, assim como Gaspar Velloso - que mesmo deixando a cadeira no Senado, continuou morando em Brasília, por razões de saúde, até a sua morte. xxx Nas eleições de 3 de outubro de 1958, finalmente o Partido Trabalhista Brasileiro conseguia fazer seu primeiro senador no Paraná: Abilon de Souza Naves (1905-1959), mineiro de Uberaba, homem de origens modestas e que ocupou diversos cargos - delegado regional do APAC, diretor da Caixa Econômica Federal, secretário do Trabalho e Assistente Social, presidente do Ipase e diretor da Carteira de Crédito Agrícola e Industrial do Banco do Brasil, era eleito num pleito difícil, em que o PSD - então no governo, com Moisés Lupion, apoiou com todas as forças o desembargador José Munhoz de Melo. (Em 1954, o PTB já havia tentado chegar ao Senado, com Pahilio Borba, mas foi então derrotado pela UDN, com Othon Mader). Souza Naves, entretanto, não chegaria a cumprir seu mandato: presidente do PTB no Paraná, faleceu durante um jantar em sua homenagem, na Sociedade Morgenau, na noite de 12 de dezembro de 1959, vítima de enfarte. xxx Com a morte de Souza Naves, assumiu seu suplente, Nelson Maculan, paulista de Parnaíba, então com 34 anos, e que havia vindo para o Paraná jovem e pobre: foi motorista de caminhão e vendedor de veículos antes de se tornar cafeicultor. Maculan não herdou apenas a cadeira de Naves, mas também sua vaga para disputar o governo, enfrentando Ney Braga nas eleições diretas de 1960 - sendo derrotado. Em 1962, uma estranha composição uniu o petebista Amaury de Oliveira e Silva, então com 38 anos, e o banqueiro Adolpho de Oliveira Franco, então com 47 anos, pela UDN, para enfrentarem os governadores Moysés Lupion (PSD) e Bento Munhoz da Rocha Neto (1905-1971) [que] disputavam, por diferentes coligações de partido, as duas cadeiras no Senado. A máquina do governo funcionou e garantiu a vitória a Amaury e Adolpho. xxx Convidado pelo presidente João Goulart (1918-1976) para o Ministério do Trabalho, Amaury se licenciaria do Senado, assumindo seu suplente, Rubens de Mello Braga, hoje com 68 anos e que há duas semanas foi vítima de enfarte, estando ainda hospitalizado. A Revolução de 31 de março levaria Amaury Silva a exilar-se no Uruguai, de onde só retornou há 4 anos - dedicando-se hoje à sua banca de advogado. Nas eleições de 1966, Ney Braga venceu Affonso Alves de Camargo neto e Nelson Maculan, ambos pelo MDB. Em 1970, novamente o governo faria os senadores: Accioly Filho, então com 50 anos, e João de Mattos Leão, com 39 anos, eram eleitos, vencendo a José Richa, ex-deputado, pelo MDB. A 13 de março de 1974, Ney Braga deixou o Senado, para assumir o Ministério da Educação e Cultura, substituído pelo suplente Otávio Cesário Pereira Júnior, que permaneceu até 14 de março de 1975, final de seu mandato. E nas eleições de 1974, houve a grande surpresa: o desconhecido advogado Francisco Leite Chaves, paraibano de Itaporanga, então com 45 anos, candidato do MDB, vencia a João Mansur, deputado estadual há várias legislaturas (e que agora volta a disputar uma cadeira na Assembléia, embora tivesse na época de sua derrota anunciado sua "aposentaria política"). João de Mattos Leão renunciou a sua cadeira no Senado há alguns meses, para ocupar uma das diretorias do Banco do Brasil, assumindo o suplente Hamilton Vilela Magalhães, engenheiro do DER - e que postula agora uma vaga na Câmara Federal. xxx Dos 35 senadores que o Paraná teve em 124 anos de vida parlamentar, oito foram de outros Estados: dois gaúchos, um mineiro, dois paulistas, um carioca, um catarinense e um paraibano.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
4
05/10/1978

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