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Aramis

Os novos tempos da Boca Maldita

"A Boca Maldita jura fazer deste nosso imenso país a grande democracia ocidental, onde a liberdade de expressão do pensamento e os Direitos Humanos constituam as bases fundamentais de nosso desenvolvimento." (Anfrísio Siqueira, presidente da Boca Maldita) xxx Duas grandes flâmulas, patrocinadas pelo Bamerindus, contendo a frase acima do fundador e presidente perpétuo da Boca Maldita, decoravam o salão de festas da centenária Sociedade Thalia na noite de quarta-feira. Durante a longa solenidade na qual foram entregues 50 comendas aos novos "cavalheiros", os mestres-de-cerimônia, advogados Alberto Duarte e João Darci Ruggeri, entremearam os curriculuns dos homenageados com citações atribuídas a Anfrísio Siqueira, nas quais há referências à Liberdade, Desenvolvimento e a importância da Boca Maldita dentro do universo curitibano. Bem humorado e feliz, Anfrísio, ao centro da mesa, ao lado de nomes conhecidos - a partir do superempresário Antônio Ermírio de Moraes e o ex-deputado Nelson Marchesan, não escondia o fato de Boca, nascida quase como uma brincadeira de confraternização de meia dúzia de amigos, ter adquirido fórum de uma verdadeira instituição política-comportamental da cidade. Os macaquinhos inteligentes que são logotipo da Boca - nada falo, nada digo, nada escuto - continuam os mesmos, em sua ironia crítica - já que por tradição a filosofia da Boca é justamente o oposto. Entretanto, institucionalizando-se, a Boca Maldita adquiriu, cada vez mais, o sentido de uma entidade capaz de motivar que para a sua única reunião oficial anual - o jantar de confraternização sempre a 13 de dezembro - lideranças nacionais (como o então governador Fernando Collor de Mello, no ano passado; Ermírio de Moraes neste ano) virem as comendas de cavalheiros. xxx Oposicionistas de Anfrísio Siqueira, criticam a "institucionalização que deu à Boca, retirando, assim, a espontaneidade e o espírito crítico da mesma, tornando-se uma entidade quase oficial - e cujo número de homenageados amplia-se cada vez mais". Entretanto com sua autoridade de idealizador e presidente perpétuo da BM, Anfrísio tira de letra tais reclamações. Para ele, a Boca apenas adquiriu maturidade e ao invés de representar um grupo de amigos que a partir de 1956 reuniram-se em torno do barreado (então um prato difícil de encontrar em Curitiba, apesar de suas raízes litorâneas) ao saudoso Grande Hotel Moderno, acompanhou os novos tempos e assumiu sua projeção nacional. É bem verdade que poucos dos que compareciam ao jantar anual da Boca Maldita em suas primeiras edições - inclusive o jornalista Adherbal Fortes de Sá Júnior, a quem se reconhece a condição de padrinho do nome - deixaram, nos últimos anos de comparecer ao evento. Muitos já se foram deste nosso planeta como disse, em seu discurso, o conselheiro do Tribunal de Contas, Cândido Manoel Martins de Oliveira, intimado à última hora a fazer o discurso oficial - já que o orador oficial, secretário Rene Dotti, não compareceu (viajou a Brasília, o que impediu, inclusive de comparecer também ao jantar de confraternização dos funcionários na mesma noite na Sociedade Rio Branco). xxx Voltando ao vigor de orador aos seus tempos de líder estudantil - quando presidiu a Upes (1960), deslanchando uma carreira política que só viria interromper devido a ter ingressado no Tribunal de Contas, Candinho comparou os cavalheiros da Boca aos da Távola Redonda dos tempos do rei Arthur, falando que a única coisa que a instituição não perdoa é a corrupção e a mentira, "razões que sempre a fizeram ser a mais temida das instituições oficiais da cidade - o poderoso veículo de comunicação alternativo que, com as armas do xerox e da informação boca-a-boca sempre fez suas denúncias e acusações, inclusive nos tempos mais duros do regime militar, quando a liberdade de expressão inexistia".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
15/12/1989

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