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Aramis

Os Orixás ajudam Eduardo a chegar à Constituinte

Nenhum dos 500 candidatos em disputa a cargos eletivos no próximo dia 15 dipõe de uma legião de cabos eleitorais tão fortes e poderosos como Eduardo Barroso. Pois se depender do apoio dos Orixás, da força de Xango, Iansã, Ogum, Oxum e até de Exu - a figura mais controvertida dos cultos afro-brasileiros, Barroso já se pode considerar eleito para a Câmara Federal Uma primeira prova de que o apoio extraterreno é forte: cortado inicialmente da lista dos candidatos do PMDB, Eduardo foi posteriormente reincluído entre os que disputam a Câmara Federal na chapa do partido do Governo. "Isto já é uma prova de que tenho é que confiar nas entidades", comenta. xxx Único candidato ofical da Umbanda e Candomblé no Paraná, Eduardo Barroso Prugner, 40 anos, paulista com 25 anos de vivência em Curitiba, advogado da turma de 1973 da Universidade Católica do Paraná, funcionário (licenicado) da Secretaria da Comunicação Social do Governo do Estado, assumiu a condição de umbandista para representar na Constituite uma expressiva faixa da população. Em números, mostra a força dos umbandistas e adeptos do Candomblé no Paraná: "Dos 53 milhões de adeptos no Brasil - que se agrupam em torno de 12 milhões de tendas, há pelo menos 600 mil no Paraná - que tem 9 mil tendas. Só em Curitiba, são mais de 60 mil em torno de 3 mil tendas". Ligado à Umbanda desde sua infância - sua mãe dona Nise, filha do jornalista e vereador Roberto Barroso (1908-1965), sempre freqüentou sessões, especialmente as que eram coordenadas pelo sr. Snege (pai do publicitário Jamil Snege), Eduardo teve uma aproximação maior com umbandistas a partir de 1983, quando começou a promover a presença dos adeptos de Iemanjá nas comemorações festivas do verão, patrocinadas pelo governo. Em contato com as 9 federações de umbanda do Paraná, identificando-se com a liderança das seitas, viu fortalecida sua aproximação com os mais respeitados Pais-de-Santo, "advindo então o natural apoio ao meu nome para representar uma comunidade tão expressiva na Constituinte", diz Eduardo Barroso, que há meses vem fazendo uma média de 3 a 5 visitas, por noite, em tendas de Umbanda ou terreiros de Candomblé espalhados por todo o Estado. Eduardo garante que ao contrário do que deixou transparecer junto à opinião pública um recente debate realizado na TV Curitiba, com a presença de alguns líderes umbandistas, não há divisão em torno de sua candidatura. "O que acontece é que um ex-funcionário de meu comitê, Joaquim Cascaes, por razões pessoais afastou-se de minha campanha e em nome de um segmento que, na verdade, não representa, diz que minha candidatura é ilegítima". Outra oposição existente é representada pelo sr. Dorival Simões, que, segundo Barroso, pretendia também sair candidato a deputado. "Ele não conseguiu e, através de uma nova federação de umbanda fundada 'há pouco mais de um mês', manifesta-se contrário a minha disposição de representar os umbandistas e candomblistas na Constituinte". xxx Braço-direito por mais de 10 anos do empresário Faruk El Khatib (inicialmente na Grafipar, depois no "Correio de Notícias"), Barroso já trabalhou na área bancária (Banestado e Investbanco) e procurou especializar-se na área de marketing e relações públicas. Nesta condição foi contratado pelo governo José Richa para integrar o staff da Secretaria de Comunicação Social, no qual coordenou vários projetos. Casado com Teresa Cristina Ribeiro (ela irmã do jornalista José Augusto Ribeiro, ex-O Estado do Paraná, desde 63 no Rio de Janeiro, hoje diretor de jornalismo da TV Bandeirantes), três filhos, Eduardo Barroso acredita que pode bem representar os umbandistas no Congresso. "Além de uma identificação plena às suas reivindicações sociais, religiosas e econômicas, tenho procurado entender todo o significado sociológico deste segmento marcante da população". Para mergulhar no mundo da Umbanda e do Candomblé, Eduardo passou a tentar entender a própria formação socio-espiritualista do Paraná. - Afinal, a própria formação étnica, com fortes contingentes europeus - e pequena presença de africanos - fez com que a Umbanda e o Candomblé sempre estivessem de forma tímida no Estado, o que explica, inclusive, o fato de que até hoje nunca houve nenhum candidato que assumisse, oficialmente, a condição de representante destas comunidades espirituais. Fillho de alemães e portugueses - seu pai, Edgar Prugner (1908-1984), era alemão de terceira geração, Eduardo reconhece que, no passado, outros candidatos também procuraram o apoio nas tendas de Umbanda e terreiros de Candomblés. - Só que sempre de forma tímida, com uma exploração unicamente elitoreira. Eu, de peito aberto, com honestidade e sinceridade, assumo a condição de umbandista. Assim como no Rio e Bahia, há anos que a umbanda garante a eleição de deputados, este ano, cresce o movimento de representação política. "Tanto é - diz Barroso - que depois de 15 de novembro, todos os políticos eleitos com apoio da Umbanda e Candomblé terão uma reunião nacional para estabelecer um projeto comum de ação". No Paraná, não houve consenso para um único candidato oficial à Assembléia Legislativa mas o apoio estaria dividido entre seis postulantes - Anibal Curi, Rubens Bueno, Nelson Mendes (de Foz do Iguaçu), Bento Tolentino (irmão do prefeito Fidelcino, de Cascavel), Furiatti e Walter Rishtisch. Vendo a força da Umbanda/ Candomblé com o maior vigor, Eduardo não nega que "todas as formas estão valendo para garantir a minha eleição, sempre com o fim da justiça e do bem comum". Tanto é que, candidato pobre, sem apoiamento de grupos econômicos, garante que tem tido surpresas agradáveis. - Com a força dos Orixás, chegaremos a Brasília!
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
31/10/1986

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