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Aramis

Os quatro anos de uma editora local

Com a publicação de "Desça, menino", de Eglê Medeiros, e a reedição de "Um Camelo no Último Andar", de Amaury Braga da Silva, a Criar Edições inicia as comemorações de seus quatro anos de atividades. Pode não parecer muito, mas é. Fora do eixo Rio-São Paulo, é difícil a sobrevivência de editoras independentes. Quantas tentativas foram feitas e fracassaram! No primeiro semestre de 1981, descontente com os rumos da Coo-Editora, que havia sido fundada reunindo 20 escritores (após a desativação da Beija-Flor, de Werner Zotz, hoje radicado em Joinville), Roberto Gomes fez sua própria casa publicadora. Começou modestamente, lançando "O Terrorista Lírico", de Cristóvão Tezza, lajeano radicado, na época no Paraná (hoje professor da Universidade Federal de Santa Catarina) e "Sabrina de trotoar e de tacape", reunindo onze contos, incluindo o premiado num concurso do Unibanco e que, no ano passado, foi levado ao cinema (sem sua autorização) por Guilherme de Almeida Prado ("A Flor do Desejo", lançado há poucas semanas no Rio de Janeiro). xxx Nesses quatro anos, a Criar lançou 20 títulos e chegou a mais de cem mil exemplares. Roberto Gomes, 41 anos, catarinense de Blumenau, mas há mais de 20 radicado em Curitiba, é o exemplo do intelectual digno e independente. Longe das rodinhas pseudamente culturais, descrente dos curricula universitários (como muitos outros, foi vítima do arbítrio e da intolerância em nossa artereosclerosada e septuagenária UFP), Roberto, tem, hoje, uma obra já reconhecida nacionalmente. Seu "Crítica da Razão Tupiniquim" já chegou à sétima edição, seus livros infantis e contos lhe deram premiações, e, dentro da literatura atual, é nome da maior seriedade no Paraná. Como editor, num trabalho lento mas seguro, tem procurado dedicar-se aos livros infantis, um mercado amplo, que exige bons títulos. Tem estimulado muitos autores a publicarem, como, por exemplo, o publicitário Amaury Braga da Silva, que com "Um Camelo no Último Andar" obteve a indicação de "altamente recomendável" da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, e agora já prepara um novo título. Roberto, no ano passado, teve seu lírico "O Menino que Descobriu o Sol", incluído na "Ciranda de Livros", o que já lhe garantiu uma tiragem de 35 mil exemplares. E um reconhecimento nacional ao seu talento. xxx Associado a uma jovem e talentosa jornalista, Ana Maria de Castro Traub, editora do "Jornal do Livro", já no sexto número, Roberto tem bons projetos para 1985. Ao lado da continuidade na linha infantil - e para tanto tem vários títulos em planejamento - vai ampliar também as edições para algumas teses universitárias (entre tantas existentes e que não encontram acolhida devido a incompetência da misteriosa editora da Universidade Federal do Paraná), além de romances e ensaios. Para enfrentar o calcanhar-de-aquiles da indústria editorial em termos estaduais, Roberto também está formando uma distribuidora, que já começa a trazer atraentes títulos de três editoras até agora desconhecidas entre nós: a Antares, do Rio de Janeiro; a Tchê, de Ayrton Ortiz, de Porto Alegre e a atuante e responsável editora da Universidade Federal de Santa Catarina. Esta editora, dirigida pelo escritor Salim Miguel, já tem mais de cem títulos publicados. Um de seus últimos lançamentos foi um belo volume reunidos textos e ilustrações deixadas por vários escritores, cientistas, pesquisadores, etc., estrangeiros que passaram por Santa Catarina durante os séculos XVIII e XIX. A UFSC, a Universidade de Brasília, a USP, de São Paulo; a Unicamp, de Campinas; a Universidade Federal do Ceará e tantas outras, tem editoras atuantes, publicando títulos importantes, prestigiando os seus professores. No Paraná, infelizmente, as raras edições feitas pelas editoras (sic) das Universidades Federal ou Católica não tem distribuição e ficam como obras-Conceição: ninguém sabe, ninguém viu. E os critérios de publicação também tem sido muito discutidos. Enfim um problema antigo que parece fadado a permanecer entre os insolúveis. Basta dizer que o ex-reitor Ocyron Cunha, livreiro por mais de 25 anos, tentou equacionar a Editora e nada conseguiu. E o seu sucessor, Alcy Ramalho, também não está sendo bem sucedido. xxx Falando em escritores e livros, dois jornalistas da terra terão seus novos trabalhos lançados nacionalmente. Manoel Carlos Karam, ex-secretário de redação de O Estado, terá seu romance "Fontes Murmurantes", lançado nas próximas semanas pela Marco Zero, editora paulista que tem entre seus diretores o hoje internacional amazonense Márcio Souza. Já a Alfa Omega lança em maio o livro "Albânia-Horizonte Vermelho dos Balcãs" de Luís Manfredini, assessor de comunicação da Secretaria da Educação e que visitou aquele país socialista no ano passado. Um resumo das impressões de Manfredini sobre a Albânia - até há pouco, o mais fechado dos países comunistas - foi divulgado, com exclusividade em nossa coluna.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
15/03/1985

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