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Aramis

Os tempos dourados da bela Edla em Curitiba

Edla Van Steen e Sábato Magaldi decidiram prorrogar até amanhã a sua estadia em Curitiba. Ontem á noite, falaram sobre editoração e dramaturgia, respectivamente, no Seminário de Literatura (que se encerra hoje, 19 horas, auditório da Biblioteca Pública, com a palestra de Luís Fernando Emediato) mas hoje estarão revendo, com mais calma, amigos de muitos anos. Edla considera-se meio curitibana, pois embora tenha nascido em São Francisco do Sul, aqui passou sua adolescência. Aos 14 anos já fazia poesia, e, loira, bela e independente para os padrões da época, seria a musa da primeira galeria de arte de Curitiba - a Cocaco, na Rua Ébano Pereira, ponto de ebulição cultural da tranqüila Curitiba daqueles dourados anos cinqüenta. xxx Emoções, portanto, marcaram este retorno de Edla, hoje esposa de um dos mais brilhantes scholars brasileiros, Sábato Magaldi, autora de 9 livros, tradutora de outros tantos, consultora editorial da Global (para a qual dirige quatro importantes coleções) e com duas pontes-de-safena, "que implantei aos 45 anos, de tanto que me incomodei ao organizar a I Bienal Nestlé de Literatura, por mim idealizada e coordenada em sua primeira edição há oito anos passados". Há 33 anos, então jovem secretária do prefeito Ney Braga, Edla foi quem idealizou outra grande promoção: o I Festival do Cinema Brasileiro de Curitiba, realizado no Cine Ópera. Uma de suas surpresas foi saber que aquele havia sido o primeiro e o último festival de cinema em Curitiba. Foi quando conheceu Walter Hugo Khouri, que, cinco anos depois, a lançaria como atriz em "A Garganta do Diabo", rodado em Foz do Iguaçu. Embora com algumas experiências de atriz - chegou até a fazer uma peça com o então também jovem e entusiasta René Dotti (que reviu ontem à tarde) - não quis fazer carreira como atriz: chegou a participar de uma produção americana rodada no Brasil, da qual lembra-se apenas o título original - "Holiday for Lovers", e o ator principal, Clifton Webb, mas "o resto esqueci". xxx Quando secretária de Ney Braga na Prefeitura, a jovem Edla, que sempre gostou de escrever, descobriu "que era possível ganhar dinheiro, com as palavras". Assim, foi redatora de dois programas da antiga Rádio Tingui - "Tangos da Meia Noite" e "Ajude-me a Viver" (uma espécie de Júlio Louzada Tupiniquim, com espirituais conselhos aos ouvintes), enquanto do nascente "Diário do Paraná", com Benjamin Steiner - que havia trazido a renovação gráfica para a imprensa paranaense - editava um pioneiro suplemento cultural. Residindo em Curitiba até 1957 - sua mãe era cartorária, e sua irmã, Janete, até hoje mora aqui - Edla mudou-se para São Paulo em 1957 e optaria pelos caminhos da arte e literatura. Chegou a ser dona de uma próspera galeria de arte - Múltipla, que quando vendeu, poderia lhe ter possibilitado criar sua própria editora. Já havia publicado seu primeiro livro ("Cio e outros contos", 1965) e começava a conhecer os problemas editoriais. - Preferi, entretanto, ficar mais na criação do que me tornar uma empresária. O primeiro de seus livros - "Contos Imperfeitos", escrito ainda na adolescência, esqueceu num táxi em Curitiba. - Não tinha cópia e o motorista deve ter jogado no lixo. xxx Seu filho, Ricardo Van Steen, é hoje cineasta e programador visual em ascensão. Edla aproveitou o período que passou em Paris - e enquanto Sábato Magaldi orientava nada menos que 15 cursos de dramaturgia e literatura brasileira e enviava matérias sobre teatro europeu para "O Estado de São Paulo" e "Jornal da Tarde" (dos quais agora se aposentou), mergulhava na tradução de peças de Ibsen ("Solness, o construtor", que Paulo Autran estréia em agosto), Moliére ("O Doente Imaginário", que terá montagem de Ítalo Rossi e Tonia Carrero) e "Annie Wobler", de Arnold Weskier - também para futura montagem de sua amiga Tonia, "que conheci em Curitiba, em 1956, quando fui entrevistá-la pela primeira vez". Edla orgulha-se, com razão, entre suas obras de "Viver/Escrever" (L&PM, 2 volumes, 1983), no qual reuniu entrevistas-análises de 30 escritores brasileiros, "uma obra referencial, em termos, inédita na bibliografia brasileira. Na noite de quarta-feira, uma grande alegria: convidada para jantar no "Alpendre", no encontro que o Sr. Del Picchia, diretor da IBM, proporcionou entre os participantes da mesa-redonda sobre "Poty, o Ilustrador", e outros intelectuais, Edla reencontrou um de seus maiores amigos dos anos 50, Ennio Marques Ferreira, que com Loio Persio e Manoel Furtado, foi o criador da Cocaco. Ponte de referência - e de certa forma, início de toda uma trajetória cultural (e de vida) que Edla ainda não contou - mas poderá desenvolver - num grande romance a ser escrito.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
10/06/1988

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