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Aramis

Ótimas reprises compensam a falta de novas produções

Se não há nenhuma estréia de especial significado, a semana tem, em compensação, reprises do mais alto nível. Dois dos melhores (e mais badalados) filmes do ano retornam nos cinemas da Fundação Cultural, numa tentativa do bom Chico Alves em recuperar os prejuízos que teve com a exibição de "Diacuí - A Viagem de Volta", que não chegou a render nem 20% do que "Metrópolis", de Fritz Lang, havia conseguido na semana anterior - e que, criminosamente, teve sua programação interrompida para irritação dos espectadores. Espera-se que, agora, os ótimos programas dos cinemas da Fundação sejam mantidos mais de uma semana, pois é injustificável que casas pertencentes a uma entidade cultural, que tem obrigação de atender ao público, passem a servir o jogo das distribuidoras, no caso a Embrafilme que, alega o bom Chico, obrigou ao lançamento de "Diacuí", pois, caso contrário, não cederia outros filmes ("Braz Cubas", de Julio Bressane; "Nem Tudo é Verdade", de Rogério Sganzerla etc.), que ele, como apaixonado pelo nosso cinema, quer exibir. O Ritz está reprisando "O Beijo da Mulher Aranha", de Hector Babenco, que depois de ter dado o Oscar de melhor ator a William Hurt (e mais 4 indicações), se transformou em sucesso internacional. No Luz, aquele que, em nosso entendimento, é o melhor filme brasileiro do ano, uma obra-prima de sensibilidade: "A Hora da Estrela", que Suzana Amaral realizou com base na novela de Clarice Lispector e que valeu a Marcélia Cartaxo o prêmio de melhor atriz no Festival de Berlim. A terceira grande reprise da semana é "A Bela da Tarde" (Le Belle De Jour), que Luís Buñuel (1900-1983) realizou há 19 anos e que continua vigoroso e com Catherine Deneuve no auge de sua beleza - e numa interpretação perfeita. Em exibição no Groff, "A Bela da Tarde" completa a mini-retrospectiva Buñuel, que a Cinemateca apresentou nos últimos 10 dias e que inclui, hoje, terça e quarta-feira, "Tristana, uma paixão mórbida", 1970, com Catherine Deneuve e Franco Nero. As estréias Há dois anos, os astutos produtores Menahem-Golan, da Cannon, rodaram na África, simultaneamente dois filmes de aventuras, inspirados nos mais famosos romances do inglês Henry Ride Haggard (Bradenham Hall, Norfolk-1856 - Londres-1925): "As Minas do Rei Salomão" (publicado há exatamente um século) e "Ela" (1887). Praticamente com o mesmo elenco, utilizando a mesma equipe, os dois filmes saíram bastante econômicos e o primeiro deles, "As Minas do Rei Salomão" tem agora sua exibição no Palace-Itália, já que "Loucademia de Polícia III", passou para o cine Itália. Trata-se da quarta versão cinematográfica da história do aventureiro Quatermain (Richard Chamberlain), que para ajudar a esposa de um explorador desaparecido, a bela Jessie (Sharon Stone), embrenha-se na selva e acaba encontrando as lendárias minas do rei bíblico. Em 1937, houve uma versão inglesa, mas a mais famosa é a que Sam Zimbalist produziu em 1950, para a MGM, com direção dividida entre Compton Bennet/Andrew Marton, e que tinha no elenco os então jovens Stewart Granger, Deborah Keer e Richard Carlson. Em 1959, houve uma nova adaptação ("Watusi"), mas pouco fiel a história de Haggard. No elenco desta nova versão, entre os coadjuvantes, apenas um ator de peso - o inglês Herbert Lom, como coronel Bockner. O diretor é o inglês J. Lee Thompson, 72 anos, eclético e, na maioria das vezes medíocre, que, por coincidência, começou sua carreira de diretor em 1950, quando era feita a segunda versão de "As Minas do Rei Salomão". Das duas outras estréias, não há maiores informações: "Admiradora Secreta" (Secret Admirer), do desconhecido David Greenwalt, tem um ator em ascensão na cabeça do elenco - C. Thomas Howell (cine Plaza), enquanto que "Sem Tempo para Morrer", de Hal Ashby (diretor de filmes interessantes como "Ensina-me a Viver", "A Última Missão", "Shampoo" e "Esta Terra é Minha Terra") está no cine São João e merece ser verificado. Continuações Dos filmes que continuam em exibição, o melhor mesmo é o monumental "Ran", que o mestre Akira Kurosawa realizou com base na tragédia "Rei Lear", de Shakespeare. Um filme belíssimo. Aos 76 anos, Kurosawa continua na melhor forma. Apesar da longa-metragem, a beleza das imagens de Takao Saito e Masahuru Ueda, a música de Toru Takemitsu e o elenco perfeito, fazem de "Ran" um filme de visão obrigatória. No Astor. Hoje é o último dia para conhecer a fantasia "Viagem ao Mundo dos Sonhos" (Explorers), de Joe Dante, produção de Steven Spielberg (Lido II) que continua, porém, a ter seus filmes em reprises nos cinemas da UIP: "Poltergeist - O Fenômeno", será relançado amanhã no Lido II. No Lido I, a comédia "A Garota de Rosa-Shoking" (Pretty In Pink), de Howard Deutch e "E.T.", do próprio Spielberg, voltou com boas rendas no Condor. Amanhã, a meia-noite, no Astor, a pré-estréia do mais importante filme da temporada - "A Cor Púrpura", também de Spielberg, estréia prevista para 4 de setembro. No Groff, sábado à meia noite e domingo, às 10h30min, "Fantasias Eróticas", de Luciano Salce, com Paolo Villagio e Lila Kedrova. Finalmente, no Luz, domingo, às 10h30min, uma antologia de comédias de Carlitos. LEGENDA FOTO - Suzana Amaral, ao fundo, dirige uma seqüência de "A Hora da Estrela", que deu a Marcélia Cartaxo (à esquerda) o prêmio de melhor atriz no Festival de Berlim. Em reprise no Cine Luz.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
11
29/08/1986

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