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Aramis

A paixão e ritmo dos grandes guitarristas

"O Blue é pai de numerosa prole. De sua manjedoura no delta do Mississipi na segunda metade do século passado, as canções dos escravos desaguaram no jazz e, ao cruzar com o country dos brancos, gerou outro mestiço, o roll. O blues é o tronco da árvore genealógica da música popular ocidental". (Arthur Dapieve) Ao lado da nova música africana, a new age music e do jazz mais contemporâneo, este início de semestre está sendo pródigo com ótimos lançamentos de blues: do carioca Celso Blues Boy (Celso Ricardo Furtado de Carvalho) com seu "Celso Blues Boy 3" (Polygram), mostrando as influências de B. B. King sobre um jovem músico brasileiro, a nada menos que 23 bluesmen rigorosamente inéditos reunidos nos dois primeiros álbuns da "Atlantic Blues", temos um manancial deste gênero tão rico e envolvente. A CBS lança também um álbum duplo, com o texano Steve Ray Vaughan e a nova sensação do blues, Robert Gray, 33 anos, nascido na Geórgia, que volta a colocar o Gênero nas paradas, também tem uma edição nacional. Esta mostragem do blues é salutar, para se conhecer um gênero que surgiu no Sul dos EUA e, com linhagem própria, através de gente como a cantora Ma Rainey e o compositor William Christopher Handy (autor de célebre "St. Louis Blues"), ganharia contornos formais definitivos: estrutura melódico-harmônica de doze compassos, dividida em três séries de quatro compassos e esquema também definido de letra, com dois versos iniciais onde se repete uma "declaração" a um terceiro que é um "desfecho" do declarado. Foi com essa forma básica que o blues passou a ser largamente cultivado nos bairros negros das metrópoles norte-americanas do início do século. Claro que o gênero sofreu mudanças, derivando-se da árvore-base, o rhythm & blues, o soul, o rock'n'roll, o funk e até o "disco" dançante. Deixou de ser praticado apenas pelos negros e absorvido inclusive pelos brancos e chegando até aos grupos pop ingleses e de outros países. ATLANTIC BLUES Há quarenta anos que Ahmet Etergun e Hero Abrumson, ao fundarem a Atlantic Records, já se voltaram para o blues, formando assim um catálogo imenso do gênero. E deste imenso material, foram selecionadas faixas para quatro álbuns duplos - os dois primeiros já lançados -, dedicados a pianistas (aqui registrado no domingo passado), guitarristas - e, a sair agora, ao estilo Chicago e aos vocalistas, previstos para ainda este mês. Blues e guitarra sempre estiveram juntos e ao longo das décadas os "guitar-blues-men" multiplicaram-se e determinaram a criação dos mais diversos estilos explorando todos os recursos do instrumento - que tanto pode ser o violão acústico de seis cordas como o de doze cordas, o banjo e, mais recentemente tipos diversos de guitarras elétricas. Os dois discos do álbum "Atlantic Blues: Guitar" permitem uma visão panorâmica através de estilos de lendários bluesmen. Blind Willie McTell (1901-1959), mestre no violão de 6 cordas, dá uma aula de blues clássico em "Broke Down Engine", gravação de 1949; Mississipi Fred McDowell (1904-1972), influente no estilo "slide guitar" só apareceu para públicos maiores no final dos anos 50. Mostra seu vigor na faixa "Shake'n On Down", registrada em 1959, com a participação de um segundo guitarrista, Miles Pratcher. John Lee Hooker, 71 anos, nome popular até nos círculos do rock, foi um dos primeiros bluesmen a usar a guitarra elétrica. Em "Guitar Movin'Man", uma das duas músicas que tem no álbum, gravações de 1953, Hooker tem a seu lado na guitarra e vocais Eddie Kirkland. Stick McGhee (1918-1962), irmão de Brownie, também guitarrista de blues e de maior projeção que ele. Num registro de 1949, "Tall Pretty Woman", mostra seus méritos. Texas Johnny Brown, falecido recentemente, comparece com três gravações - duas apenas instrumentais: "The Blues Rock" e "Bongo Boogie". T-Bone Walker (1910-1975), considerado um dos mais importantes guitarristas do blues, pioneiro na guitarra elétrica. Seu estilo, fortemente rítmico (como em "Two Bones and a Pick", instrumental gravação de 1952, com a participação adicional dos guitarristas Barney Kessel e R. S. Ramkin), expõe caminhos que o rock'n'roll dos primeiros tempos seguia. Mas ele era mestre também no blues de linha mais clássica, como se vê em "Mean Old World" (1966). Chuck Norris, 71 anos - não confundir com o ator-karatê, sempre foi mais do jazz do que propriamente do blues, mas tem também um estilo brilhante como mostra em "Let me Know". Guitar Slim (1926-1959), apesar da guitarra incorporada a seu nome, projetou-se como vocalista de som áspero e expressivo, com duas músicas gravadas há 30 anos ("It Hurts To Love Someone" e "Down Through The Years"), sublinha seus vocais com uma guitarra insinuante e maliciosa. Cornell Dupree, 50 anos, é um dos mais requisitados guitarristas, gravando com músicos como Miles Davis e Robert Flack ao grupo Stuff. Presente em duas faixas, "Okie Dakie Stomp" e "Blues Nocturne". Elmor James (1918-1963), estilista da linha clássica do delta do Mississipi, influenciou, entre outros, Eric Clapton e o "Almann" Brother Duane. Presente com uma gravação liderada pelo cantor Big Joe Turner, feita em 1953. Johny Heartsman, 50 anos, multiinstrumentista, na guitarra mostra ser moderno e na faixa "Reconsider Baby" (1964) o vocalista é Al King. Mickey Baker, 62 anos, marcou época como músico de estúdio e em "Midnight, Midnight" (1959) tem a presença de Everett Barksdale na guitarra ritmo. Ike Turner, 55 anos, ex-marido de Tina Turner (e por ela massacrado no recém-editado livro de memórias da cantora), ganhou projeção em dupla, mas foi vocalista de blues, como mostra em "I Smel Trouble", em registro feito na África em 1971. B. B. King, 62 anos, que no ano passado se apresentou no Guaíra, é considerado o mais influente guitarrista do pop e do rock nos anos 70, influenciando toda uma nova geração, aqui presente com "Why I Sing The Blues". Outro "King" na antologia: Albert King, 64 anos, com duas músicas gravadas em 1966/67. John Hammond Jr., 45 anos, na linha dos tradicionais, ao lado de Duanne Altman, apresenta "Shake For Me". O mais jovem dos guitarristas de blues da antologia é Stevie Ray Vaughan, 33 anos, texano, que soube digerir a influência dos mestres e forjar um estilo próprio, com raízes fundadas no blues do momento. A gravação de Vaughan, "Flood Down In Texas", é de 1982 e foi feita ao vivo no Festival de Montreaux, na Suiça. Mas Stevie Ray Vaughan também pode ser apreciado, em 15 outras faixas no álbum duplo gravado ao vivo, acompanhado pelo seu grupo Double Trouble, recém-editado pela CBS. Com gravações feitas não só ao vivo, em Montreaux, a 16 de julho de 1985, mas também no Austin Opera House, entre 17/18 de julho do ano passado e completada a 19 de julho no Dallas Starfest, Stevie apresenta-se com seu grupo Double Trouble (Encrencas em Dobro): Tommy Shanon (guitarra base), Chris "Whipper" Layton (bateria), Reese Wynans (teclados) e, numa participação especial, nas faixas "Willie The Wimp", "Love Struck Baby", "Look At Little Chister" e "Change It", o guitarrista e baixista Jimmie Vaughan.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
7
19/07/1987
Tive banda 20 anos. Mano, sei de cor os nomes dos icones da guitarra e as inumeras listas de quem é melhor ou pior. Do blues e do rock. Sempre a mesma turma. Metade morto outros vovôs que nem tocam mais. OK, vamos render homenagens, mas só ficar falando nos caras já chega. E os jovens, cadê? Tem mais, diiz aí, quem no Brasil ta barbarizando no instrumento? Pô, tem gente tocando muito. Que seja jovem. O rock é jovem, desculpem mais o resto é saudosismo. . Eu nem consigo falar 5 . Só o Pedro Castilho que tá listado em revista americana na sua faixa de idade. E quem mais?

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