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Aramis

Palácio Avenida será finalmente recuperado

Já está pronto e em condições de ser dado início às obras - bastando para isto a decisão do alto comando do Bamerindus - a restauração de um dos mais significativos prédios do centro de Curitiba: o Palácio Avenida, na esquina da Avenida Luiz Xavier e Travessa Oliveira Bello. Foram 16 anos de demarches jurídicas, discussões, indecisões, projetos feitos e recusados e muita polêmica. Agora, nas pranchetas do escritório de arquitetura mais tradicional de Curitiba - do professor Rubens Meister, na Rua Padre Antonio - o projeto está concluído, após um ano de elaboração. xxx Foi em 1968 que o Banco Bamerindus adquiriu dos vários herdeiros da família Mehry, por Cr$ 8.000.000,00 (uma fortuna na época), o Palácio Avenida, construído entre 1926/27 pelo comerciante Felix Mehry, tronco de tradicional família de comerciantes. Ali, ao lado do mais luxuoso cineteatro da época - inaugurado como teatro, a 1º de maio de 1927, por uma companhia de revistas dirigida por Jardem Jercolis (pai de Jardel Filho) - se instalaram os primeiros e luxuosos apartamentos residenciais no "coração da cidade" - então nascendo aquela que seria, por quatro décadas, a iluminada e movimentada Cinelândia, num espaço no qual se concentrariam outros cinemas - o Ópera (inaugurado em julho de 1943, com "Tudo Isto E O Céu Também"), o Palácio - este já vindo da década de 10, mas reformado nos anos 30 - o Broadway e Odeon, que resistiriam somente até os anos 50. xxx Foi longa, exaustiva e difícil a batalha judicial para desocupar o Palácio Avenida. Inquilinos que ali se encontravam praticamente desde sua inauguração, outros com contratos que vinham dos anos 40 e 50, fizeram valer seus direitos e alguns, inclusive, permaneceram teimosamente, mesmo quando o edifício começou a ser esvaziado e a luz e água foram cortadas. Mas a resistência maior foi, naturalmente, do Cine Avenida - que ali funcionou por 56 anos. Mesmo com a condição de cineteatro - e no palco aconteceram grandes eventos artísticos nos anos 20/30/40, foi como cinema que o Avenida marcou toda uma época. Da inauguração da casa com "Moulin Rouge", à melancólica última sessão do dia 18 de fevereiro de 1983, quando o operador Enrico Picco fez as duas últimas sessões da noite, com as imagens da pornoprodução "A Dama da Zona" (1982, de Ody Fraga, com Marlene França), milhares de filmes foram exibidos no Avenida. Pelo menos dez diferentes empresas se sucederam na exploração do Avenida, desde sua inauguração, em maio de 1927, como cineteatro, até o fechamento, quando então, pertencente a Vitória Cinematográfica, do grupo Zonari, a casa pouco lembrava seu passado de glórias: sofrendo o peso dos anos, longe do luxo e esplendor dos anos 30 a 50 (quando rivalizava com o Ópera, como a melhor casa exibidora da cidade), o Avenida foi durante os 5 últimos anos um cinema exibidor de pornoproduções, com as primeiras fitas eróticas que conseguiram liberação - intercaladas dos violentos westerns spaghettis, especialmente os produzidos na Itália e Espanha, que ali tinham um público humilde mas fiel. xxx Desde quando a compra do Palácio Avenida foi confirmada, há 18 anos passados, o Banco Bamerindus se, de um lado, fez um excelente negócio imobiliário - afinal nada mais valorizaria tanto quanto os Cr$ 8 milhões (hoje 8 mil cruzados) pagos no primeiro semestre de 1968 aos herdeiros de Felix Mehry - por outro lado, ficou por quase duas décadas com um imóvel excelentemente localizado praticamente bloqueado. Afinal, além da batalha judicial para desocupar o cinquentenário prédio, houve o problema da discussão do valor histórico do Palácio Avenida e a busca de uma solução que sem ferir a fisionomia da cidade, satisfizesse também os naturais interesses do poderoso grupo econômico.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
12/03/1986

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