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Aramis

Pânico no ar

Na sexta-feira, a sra. Helene Garfunkel, diretora há 28 anos da Aliança Francesa em Curitiba, recebeu um telefonema de Paris. Do outro lado, o seu irmão mais novo , querendo saber se ela e seus familiares estavam bem. - Oui, respondeu madame Garfunkel, mas por que essa preocupação? - É que ouvimos na televisão, aqui em Paris, a notícia de que Curitiba havia explodido na quinta-feira, havendo milhares de casas destruídas e centenas de mortos e feridos. Como o irmão parisiense de madame Garfunkel, milhares de pessoas em outras cidades - no Brasil e no Exterior, passaram horas de desespero, ao ouvirem as sensacionalistas notícias transmitidas pelas emissoras de rádio falando da tragédia que havia ocorrido na Rua São Luis, às 16: 20 horas do dia 2 de setembro. Para quem acompanhou os fatos pelos noticiários de algumas emissoras, a sensação foi idêntica aquela que as nova-iorquinos sentiram na noite de 30 de outubro de 1938, quando o Mercury Theatre on the Air, no horário nobre da Columbia Broadcasting System, apresentou a radiodramatização de "A Guerra dos Mundos " de H. G. Wells, realizada por Orson Welles. O trabalho foi perfeito - e numa linguagem inovadora, que semeou o pânico em dezenas de cidades americanas, pois ninguém imaginava que tudo era apenas ficção. O episódio é um clássico na história das comunicações e sempre lembrado como exemplo de uma criação artísticas que provocou uma repercussão maior do que se poderia esperar. Em 1957, partindo do exemplo wellesiano, o produtor Romualdo Osaluk, na época ativo produtor da rádio Colombo, então pertencente ao sr. Adherbal Stresser, montou um programa de ficção científica em que os discos voadores aterrissavam em Paranaguá, iniciando então a conquista da Terra. Como no programa de Welles, não houve prefixo de identificação inicial de que se tratava de um programa de ficção e, pelo caráter de informação jornalística dado ao desenrolar dos fatos, milhares de paranaenses apavoraram-se, com muitos curitibanos alugando taxis para ir ao litoral, onde tinham parentes e amigos. Na manhã seguinte, formou-se na emissora uma fila de ouvintes furiosos, que exigiam indenização das despesas que tiveram com táxi, gasolina e até calmantes. Mesmo sendo louvável a intenção jornalística das emissoras em oferecer a população um relato imediato dos acontecimentos como os de quinta-feira última - e afinal a flexibilidade e rapidez do rádio são ainda a sua grande vantagem sobre a televisão - é lamentável que, na maioria das vezes, a utilidade pública da rádio seja prejudicada pelo exagero. Embora muitos profissionais tenham procurado dar informações corretas, colaborando com as autoridades houve outros que, emocionados, sem dúvida, exageraram nos adjetivos e carregaram nas cores, alarmando a população.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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05/09/1976

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