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Aramis

Para quem sabe amar os grandes musicais

Há 14 anos, quando "A Estela" (The Star, 68, de Robert Wise) foi exibido no antigo cine Rivoli, não resistiu sequer a 3 dias em exibição. Apesar de ser estrelado por Julie Andrews - que 3 anos antes havia sido premiada (Oscar) e adorada pelo público em "A Noviça Rebelde", o musical biografando a famosa atriz e cantora Gertrud Lawrence (1898-1952) foi ignorado pelo público curitibano que, meses antes, já havia desprezado a belíssima transposição a tela de "Ao Sul do Pacífico" (South Pacific, do musical de Richard Rodgers/ Oser Hammerstein). Recentemente, "Divina Loucura", com a cantora pop Bette Midler, não resistiu a sequer um dia de exibição no Bristol - e este musical contemporâneo permanece praticamente inédito em Curitiba. Em compensação, cada vez que a mesma Bette Midler em "A Rosa" é reprisada nas sessões da meia-noite, falta poltronas para o público jovem. "Momento de Decisão" (Turning Point, 77, de Herbert Ross) e "Retratos da Vida" (Les Uns et Les Autres, 80, de Claude Lelouche), pelas cenas de bailado, foram dois dos filmes de maior faturamento em Curitiba nos últimos anos. Em compensação, a renda de "Quando Hollywood Dança" (Cine Condor, 5 sessões) está sendo tão baixa que dificilmente o filme permanecerá mais uma semana em cartaz. Contradições do Público? Eis um campo para ser estudado: a forma com que os musicais são recebidos entre nós. Teoricamente uma imensa faixa fala em nostalgia dos anos de ouro dos musicais americanos, especialmente da fase MGM - que tinha lançamento exclusivo no antigo Cine Ópera nos anos 40/50. Na prática, quando há oportunidade de se rever os melhores momentos daquela época dourada, verifica-se ausência de público "Quando Hollywood Dança" - a exemplo de "Assim Era Hollywood" (That's Entertainments l e ll) é mais do que um filme-nostalgia. É uma montagem de momentos perfeitos daquilo que o cinema americano sempre soube fazer de melhor: a fantasia, o entretenimento, o sonho e a ilusão. Tire-se os preceitos populistas e pseudamente marxistas para se aprender a aceitar uma época do musical qua não pode (nem deve) ser ignorado dentro da história do cinema. Filho de Jack Halley (1902-1979), o inesquecível "tin man" (o homem de lata) de "O Mágico de Oz" (1939), Jack Halley Jr. Teve, há 11 anos passados, uma típica idéia Ovo de Colombo: por que não reunir num filme os melhores momentos do cinema musical? Afinal, a combalida MGM já havia leiloado grande parte de seu acervo mas mantinha ainda os negativos dos musicais - de tão gratas memórias a um público que aprendeu a amar o cinema no decorrer das décadas de 30 a 50. O resultado foi o extraordinário êxito de "That's Entertainment", que levou a realização de uma segunda parte em l976. Os vídeos home com estes dois filmes venderam (e continuam vendendo) milhões de cópias e a fórmula foi até imitada por outros estúdios: da Warner Brothers (que remontou seus musicais, mas não chegou a trazê-los ao Brasil) a Luis Severiano Ribeiro ("Assim Era a Atlantida ", 1980) muitos buscaram nos baús cinematográficos as imagens capazes de, numa montagem movimentada trazerem entusiasmo a um público saudosista - e também, oferecendo aos mais jovens a chance de conhecer um cinema alegre, descompromissado e comunicativo que se fazia há 30 ou 40 anos passados. Jack Halley Jr. Esperou nove anos para voltar a explorar o filão de ouro. Fez isto agora, podendo utilizar inclusive material que anteriormente teria problemas de direitos autorais - o que possibilitou a inclusão de sequências de filmes históricos mas que não foram realizados pela MGM. Desde algumas sequências de "The Show of Shows" da Movietone até a eletrizante sequência de "Amor Sublime Amor" (West Side Story, 61, de Robert Wise) com The Jets dançando e cantando o tema "Cool " - um dos mais dramáticos momentos deste que, sem favor, foi o canto de cisne dos musicais. Gene Kelly, aos 73 anos, atuou como produtor executivo e uma espécie de mestre de cerimônias: abre e encerra o filme, falando dos primeiros tempos da dança no cinema e da imensa contribuição que o coreógrafo, ator e diretor Busby Berkeley (1895-1976) trouxe a Hollywood, com suas formas geométricas na dança e angulação original para filmagens. Ao final, com sequências de "Os Embalos de Sábado a Noite", "Fama", "Flashdance" - nas imagens de John Travolta, Jennifer Beals e um videoclip de Michael Jackson ("Beat It ") "Quando Hollywood Dança " encerra mostrando a substituição da harmonia sonora dos tempos de ouro para a música elétrica - mas nem por isto menos curtível em termos de dança - dos filmes dos anos 80. Para apresentar os outros blocos temáticos, quatro convidados especiais: Sammy Davis Jr. ("Os Grandes Estilístas"), Mikhail Baryshnikov ("O Mundo do Ballet"), Ray Bolger ("Os Anos de Ouro") e Liza Minelli ("O Melhor da Broadway"). Ray Bolger, que em 1939 interpretava o Espantalho em "O Mágico de Oz", merece uma dupla referência: rememorando os nomes mais famosos da MGM nos anos 40/50 e, numa sequência inédita de "O Mágico de Oz" (The Wizard of Oz, 1939), ao lado de Judy Garland. "Quando Hollywood Dança´é um filme fascinante para quem aprecia o cinema em sua forma mais explícita como diversão e entretenimento. Um filme-obrigatório a todos os que têm ligação com a dança - e isto, por si só já deveria garantir um grande público, mas, que, pelo visto, não está acontecendo. Azar de quem deixa de assisti-lo! LEGENDA FOTO 1 - Roy Bolger: hoje (à esquerda) e, em 1939, em "O Mágico de Oz": momentos mágicos da dança no cinema.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
25/09/1985

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