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Aramis

Pesos pesados nas telas enfraquece outras opções

A força com que "Uma Cilada Para Roger Rabbit" chega é tamanha que pode ameaçar até os dois outros pesos-pesados em termos de bilheteria que estão em exibição: "O Casamento dos Trapalhões" (Plaza/São João/Lido I) e "Willow - A Terra da Magia" (Condor). Estes, também com ótimas rendas, vão dobrar o ano - e as perspectivas de Roger Rabbit é que permaneça ao menos dois meses em cartaz. Com estes três filmes, praticamente fica difícil fazer outras programações nos cinemas da cidade. Em termos de filme-de-arte, a única opção é o excelente "O Ataque", 1986, de Fons Rademakers, produção holandesa, que mereceu o Oscar de melhor filme estrangeiro em 1987 (em exibição no Luz, segunda semana). Um filme profundo inteligente em sua concepção, com uma história emocionante - tendo o nazismo como fundo, mostrando as conseqüências da brutalidade de um grupo de militares sobre uma família classe média de uma pequena aldeia da Holanda. Um filme para reflexões e que justifica apreciação mais longa. Reagindo em termos de público, "A Última Tentação de Cristo", de Martin Scorsese, está lotando o Lido II - o que levou a CIC a prolongar sua permanência. Um filme fascinante, profundamente religioso em sua concepção e que não teve, em nosso entender, até agora as interpretações que mereceria. As freirinhas fanáticas, com seus ares de figuras de um presépio rococó, continuam, ingenuamente, na frente do cinema, distribuindo manifesto aconselhando os espectadores a não assistirem esta obra "herética". Coitadinha das noviças: Será que elas pensariam iguais se lhes fosse permitido assistir ao filme de Scorsese, com sua bela lição de humanismo e fé? Um filme também de apelo religioso, mal lançado há dois anos passados retorna neste Natal: "Caminha, Caminha" (Itália), de Ermano Olmi. Belo e poético, uma produção simples com elenco de intérpretes amadores (Alberto Fumagalli, Antonio Cucciarré, Kligio Martellaci e Lucia Pelliati) está em 4 sessões no Groff. Surpreendentemente, o Morgenau - do chamado circuito do orgasmo - interrompe sua programação de filmes pornográficos e lança uma comédia da Colúmbia Pictures que mereceria melhor sala: "Três Amigos", de John Landis - o mesmo diretor de "Um Lobisomem Americano em Londres" - com Chevy Chase, Steve Martin e Martin Short. Um filme inédito que, inexplicavelmente, entra em programação dupla, queimado assim em Curitiba (em complemento da sessão está sendo reprisado "Crocodilo Dundee"). Um filme 100% brasileiro - Tarcísio Vidigal nos ligou de Belo Horizonte, preocupado: seu filme "Um Filme 100% Brazileiro" está sendo lançado nesta semana em Curitiba (Ritz, 5 sessões), numa época em que o público prefere produções escapistas, própria para crianças. Embora premiado no II Rio Cine Festival (melhor linguagem cinematográfica), este longa metragem dirigido pelo estreante José Sette é um filme que se pode classificar de difícil tendo como personagem central o poeta francês de origem suíça Balise Centraer (1887-1961), que esteve no Brasil nos anos 20, mantendo relações com os modernistas. Portanto, uma obra de pretensões literárias, com muito simbolismo e que apesar de nomes conhecidos no elenco - Paulo César Pereiro, Wilson Grey, Odete Lara (que há anos está afastada do cinema, vivendo misticamente no interior do Rio) e Maria Gladys (a da telenovela "Vale Tudo") dificilmente atrairá um público maior. "Um Filme 100% Brazileiro" pode passar nas telas como passam quase 100% dos filmes brasileiros - ignorado pelo público. Outras opções - "Desejo de Matar 4", de J. Lee Thompson - com Charles Bronson repetindo o mesmo personagem das três partes anteriores, continua no cine Itália. No Cinema I, volta "Viagem Insólita" (Innerspace), de Joe Dante - que a partir de domingo só estará nas sessões noturnas: às 14h e 16h, será reprisado "Pinocchio", desenho animado de Walt Disney. No Guarani, retorna um dos melhores filmes brasileiros de 1987: "Besame Mucho", de Francisco Ramalho Júnior, com José Wilker, Glória Pires, Antônio Fagundes e Christiane Torloni. Amanhã, véspera de Natal, não haverá segunda sessão nos cinemas. É justo: o pessoal da cinematografia também merece passar a Festa com seus familiares. LEGENDA FOTO - O juiz Doom (Christopher Lloyd) é o vilão de "Roger Rabbit", um filme que reflete os avanços da alta tecnologia no cinema. Em exibição no cines Astor e Bristol.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
8
23/12/1988

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