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"Petruschka" com aplauso e Ana Botafogo no Guaíra

Sérgio Viotti, ator, tradutor e jornalista, é um dos poucos críticos de dança com atuação regular, no Brasil. E após assistir a estréia do Balé Guaíra, dia 1.º, no Teatro Municipal de São Paulo - onde a temporada se estendeu até domingo - Viotti publicou elogiosa crítica no << Jornal da Tarde >>, edição de sábado. Com o título de << Sensível e bonito. Um balé que deve ser visto >>. Viotti começou lembrando que << em terras onde plantando dá, o balé Guaíra comprova, quase 500 anos depois, que a Carta tinha razão. Sabemos das necessidades básicas para se formar uma companhia permanente de balé. Tendo-as, é pô-las em práticas com direção coesa e trabalho constante. E aqui está o exemplo do indispensável ligado ao resultado inevitável. Ao seu diretor artístico as companhias devem seu sangue, suor e glórias. Carlos Trincheiras assumiu o cargo em agosto de 79, enriqueceu o repertório com várias criações suas e (bendita ousadia) encenou um marco do balé. << Petruschka >> (Stravinsky), que às vésperas dos seus 69 anos continua sendo uma das mais patéticas versões do eterno triângulo, aqui transubstanciado, não mais em carne e osso, mas palha e pano. A montagem inspira-se nos originais de Benois. A extrema vitalidade da feira de Fikine lá está, fiel e exuberante. As cenas nas celas dos bonecos (solucionadas lado a lado) revelam a qualidade inteligente e sensível das excelentes interpretações de J.C. Caramés (Mouro), Eleonora Greca (bailarina) e Jair Moraes (Petruschka), sem dúvida um artista ao redor do qual se pode reunir um elenco e edificar um repertório >>. *** Viotti elogiou os vários aspectos desta produção que, a exemplo de << Giselle >>, em 1978, será levada a outras capitais, após a temporada em São Paulo. No final de seu comentário, diz Viotti: << Um grupo que deve ser visto. Não se pode deixar de aplaudir a qualidade de seu trabalho e pasmar diante do que ela comprova: nosso solo é fértil para a dança, e, cada vez mais >>. *** Falando em dança, Ana Maria Botafogo, que em 78 foi a << Giselle >>, na montagem do Balé Guaíra, e que agora, a 21 de maio, embarca para Tóquio onde, ao lado do sueco Peder Levin, representará o Brasil no Concurso Internacional de Dança, estará de hoje a quinta-feira no Guaírão: como convidada especial, participa das 3 apresentações do Balé Studio D. de sua amiga Dora Paula Soares, Ana e Peder Levin aqui se apresentam numa pré-estréia do que mostrarão no Japão, concorrendo com 44 casais de todo o mundo. Ana e Peder dançarão amanhã e quarta-feira o << grand pas-de-deux >> de << Bodas de Ouro >>, de Tchaikowsky e no dia 8 o << pas-de-deux >> de << Dom Quixote >>, peça que será o ponto de confronto no Japão. *** Ainda na área: o compositor Edu Lobo teve que adiar, ao menos por duas semanas, o projeto de compor um balé especialmente para ser apresentado pelo Guaíra. É que hoje, junto com 11 outros expressivos nomes da música brasileira, embarca a África, onde, durante 2 semanas, a comitiva estará se apresentando em Angola e Luanda. Junto com Edu vão Chico Buarque, Francis Hime. Dorival Caymmi, Djavam, Martinho da Vila, Paulinho da Viola e Clara Nunes, entre outros. Na volta, Edu deve começar a trabalhar no balé, do qual, até agora, só tem o título e algumas idéias: << Jogo de Dança >>. *** Um P.S. necessário: das mais elogiáveis a iniciativa de Dora Paula Soares em homenagear, hoje à noite, na estréia de seu espetáculo, no Guaíra, o professor Thadeu Morozowicz pelos seus 80 anos. Numa área de tantas intrigas e inveja, a nobreza de Dora em, acima de tudo, ver a obra e o valor do homem - esquecido em termos oficiais - vale como um fato especial.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
06/05/1980

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