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Aramis

Pioneiras no Paraná

Incansável garimpeira da história paranaense, a professora Maria Nicolas acaba de publicar mais um livro: "Pioneiras do Brasil", primeiro de uma série de quem é (ou foi) quem no feminismo tupiniquim. O volume I é dedicado, naturalmente, às mulheres que, no Paraná, foram precursoras em diversos setores de atividades. Como em todos os seus trabalhos, a professora Maria Nicolas fez todo o livro inteiramente sozinha - do planejamento da obra à edição, passando muito tempo na pesquisa das biografias das mulheres focalizadas e, pronto os originais, enfrentou dificuldades econômicas para publicá-lo. XXX É um livro de 321 páginas, onde estão mais de 180 biografias daquilo que dona Maria entende como "pioneiras". Com maior ou menor riqueza de informações, cada verbete procura colocar a mulher precursora em seu pioneirismo. No prefácio, dona Maria esclarece: "Não somos feministas. Somos pela luta em prol da cultura da mulher equiparada à do homem. Quem tem capacidade à altura de qualquer cargo, há de ele se dirigir nem que lhe anteponham a barreira". E cita, a seguir, o exemplo da advogada Thereza dos Santos Cabistani, que para prestar o concurso de comissário de polícia na Secretaria de Segurança, foi obrigada a recorrer a justiça, em simpática causa que teve como advogados os professores Renê Dotti e José Eduardo Camargo. xxx O levantamento de dona Maria procura ser amplo, abrangendo não só a Capital mas também cidades do Interior, onde destaca o pioneirismo de muitas mulheres. O que pode, muitas vezes, parecer ingênuo, tem que ser creditado ao amor que a professora Maria Nicolas, quase octagenária mas lúcida e forte, escrevendo os seus livros, tem pelos detalhes da pesquisa e história. Assim, localiza a sra. Anna Bertha Roskamp (1868-1947), como tendo sido a primeira mulher a se dedicar a atividades comerciais em Curitiba, como proprietária de um armazém de secos e molhados no local onde hoje é a Praça 19 de Dezembro - que montou em fevereiro de 1888. xxx Ao lado do pioneirismo de muitas biografadas, algumas das mulheres citadas são lembradas por outros aspectos. Dona Dalila Rolim Vargas (1902-1968), Mãe do deputado Túlio Vargas, Secretário da Justiça, é mencionada como "Mulher que mais afilhados teve no Paraná, quiçá no Brasil". Esposa do ex-deputado Rivadavia Vargas, dona Dalila batizou mais de 300 crianças, 214 das quais em Piraí do Sul, onde o casal viveu até 1936. Outra citação interessante: dona Emma Cosntantino de Macedo (1898-1960) é citada porque foi "a primeira mulher no Paraná a conseguir bater à maquina com dez dedos", tendo sido a primeira datilógrafa no Congresso Estadual - hoje Assembléia Legislativa do Estado. xxx A professora Emília Fagundes Ericksen (1817-1890) é citada como a fundadora do primeiro jardim de infância do Brasil. As precursoras nas profissões liberais também foram cadastradas: assim dona Enedina Marques, 65 anos, diretora técnica da Construtora Vaticano, foi a primeira engenheira formada pela Universidade Federal do Paraná - turma de 1945. A sra. Ingebor Wiedner Cacciatori Marenzi, 48 anos, foi a primeira mulher a se formar em veterinária no Paraná, turma de 1952. Hoje integra a equipe do Instituto Pasteur. Já a primeira mulher a se formar em Direito no Paraná foi a dona Isaura Sidney (1884-), da turma de 1917. A doutora Maria Falce (1897-1968) foi a primeira mulher a ingressar na então recém-criada Faculdade de Medicina da Universidade do Paraná, pela qual se formou em 1919 e da qual seria catedrática - cadeira de Química Orgânica e Biologia - durante 41 anos. xxx Mulheres que, nos últimos anos, tem sido também pioneiras em novos campos de atividades são lembradas. Por exemplo Maria Francisca Maeder, que há 5 anos se tornou a primeira gerente de banco em Curitiba, na agência feminina do nacional, hoje executiva do Banco Safra - onde percebe um dos mais altos salários da história bancária do Brasil. Clotilde de Lourdes Branco Germiniane, a mais jovem catedrática da Universidade Federal do Paraná - e única brasileira que integra a Associação de Fisiologia da França. A advogada Eny Carbonar, primeira diretora de um presídio no Paraná; Ingeborg Camargo, primeira mulher a atuar no mercado de capitais: Lilia Lopes Teixeira, primeira juiza no Paraná. xxx Entre as muitas curiosidades levantadas por dona Maria Nicolas, duas não podem deixar de ser registradas: a singela lembrança de dona Gertrudes Maria de Oliveira, a "mãe Tuca", conhecida de meia Curitiba em décadas passadas a admirada como a primeira (e melhor) engomadeira-artista da cidade - numa época em que ainda existiam pessoas que se dedicavam a este artesanal trabalho. E a localização no asilo São Vicente de Paulo, da senhora Maria Francisca Lourença, que com presumíveis 120 anos, é a mulher mais velha de Curitiba. xxx Dona Maria Nicolas procura, em todas suas biografias, ser precisa. Mas, por certo a pedido de muitas focalizadas, algumas das contemporâneas citadas, dizem apenas o dia e o mês de nascimento. O ano, discretamente, é omitido. Afinal, antes de serem pioneiras, são mulheres.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Nenhum
4
11/02/1978

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