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Pola, adeus à grande crítica

Há exatamente um ano, quando o colunista Alcy Ramalho Filho promovia o I Festival de Cinema de Curitiba - mais um evento cultural que ficou apenas em sua primeira edição (este ano, não houve condições de repeti-lo pela ausência dos patrocinadores Lufthansa/Texaco), a jornalista Pola Wartuck aqui passou 4 dias, acompanhando a exibição dos filmes como integrante do júri. Ao final, com a simpatia que sempre a caracterizava e a fazia merecedora da maior admiração, prometia que, "se convidada, aqui estarei em 1990, novamente". Infelizmente, mesmo que o Festival tivesse acontecido - e o convite renovado - a querida Pola não poderia estar presente. Faleceu no último dia 3 de setembro, segunda-feira, em São Paulo. Os reduzidos obituários publicados no jornal "O Estado de São Paulo" - da qual era redatora há 22 anos e na seção "Datas" da "Veja" que circula nesta semana, não dão a dimensão da personalidade que foi esta filha de judeus que, ao longo de quatro décadas teve uma brilhante carreira na imprensa paulista. Poliglota - graduada em hebraico e iídiche, dominaria, mais tarde, com segurança, o francês, inglês e italiano, além de conhecer alemão e japonês - Pola começou a trabalhar como tradutora da editora de International d'"O Estado de São Paulo", mas nos últimos anos passou para o suplemento "Cultura". Foi, entretanto como crítica de cinema que se tornou conhecida, cobrindo alguns dos mais importantes festivais internacionais - de Cannes e Teerã, quando na Pérsia se realizava o mais caro evento cinematográfico do mundo. Casada com o produtor Mário Civelli - pai de suas filhas Patrícia, 40 e Marina, 37 - Pola atuou também em publicidade e acompanhou parte da história do cinema paulista, especialmente a fase da Maristela. Tradutora, verteu para o português os ensaios "Mito e Realidade", de Mircea Eliade e "Socialismo Utópico", de Martin Bubber (ambos editados sem perspectiva) e tendo ingressado há alguns anos na Igreja Messiânica, junto com o reverendo Minoru Nakahashi, estava traduzindo o livro japonês "O Homem, este ser desconhecido", pois, dizia aos seus amigos, que "no fundo, ser judeu, é, de certa forma como ser japonês". xxx Tendo presidido a Associação Paulista de Críticos de Cinema, Pola seria a primeira presidente da associação brasileira - fundada extra-oficialmente em Curitiba, em 9 de outubro de 1987, na I Mostra do Cinema Latino Americano. Problemas entre críticos paulistas e cariocas impediu que a entidade nacional se consolidasse e, dentro de seu espírito conciliador, Pola renunciou ao cargo - para o qual havia sido escolhida por unanimidade. A imagem de intelectual segura, cabelos brancos, mantendo sempre uma imensa simpatia e atenção para com todos, fica desta grande amiga, nome maior da crítica cinematográfica e jornalismo, que vítima de isquemia cerebral faleceu há duas semanas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
13/09/1990

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