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Por causa da BR-101, Hauer merece ódio dos ecologistas

O secretário Geraldo Hauer, das Finanças, conseguiu atrair as iras dos ecologistas brasileiros com suas infelizes declarações em torno de uma discutível "necessidade" de construção da BR-101, no trecho do Paraná. A imprensa nacional - em especial o "Jornal da Tarde", sempre atento em defesa da ecologia - já começou a divulgar as manifestações de repúdio ao projeto que Hauer, um rico advogado tributarista, ex-presidente do Country Clube e amigo há anos do governador João Elísio, está defendendo: endividar ainda mais o Paraná para construir a BR-101. xxx O primeiro a denunciar Hauer e o governo do Paraná foi o líder e ambientalista Fábio Feldmann que ainda nesta semana já solicitou ao Banco Mundial e demais agências financeiras da ONU a rejeição sumária do pedido de verba para abertura da BR-101 nas últimas reservas da Mata Atlântica do Litoral brasileiro, como pretende o governo do Paraná. Em declarações ao "Jornal da Tarde", Feldmann disse: - O povo brasileiro está cansado de Transamazônicas e outras obras destinadas a saciar os corruptos e superar os recordes de todas as dinastias de faraós e seus grandes feitos inúteis... Fábio Feldmann exibe um curriculum que o credencia a protestar. É coordenador da comissão ambiental da Ordem dos Advogados do Brasil - secção de São Paulo e presidente da Fundação SOS Mata Atlântica. Fábio classifica a pretensão do governo João Elísio de "típica recaída dos atuais tecnocratas nos velhos métodos de enriquecimento ilícito que fizeram a fortuna de uns poucos e a miséria dos cidadãos, obrigados a arcar com a desertificação da maior parte dos solos do Paraná". xxx E do texto do "Jornal da Tarde", para ser pensado também pelos ecologistas do Paraná - que se devem unir à campanha iniciada por Feldmann: "O tecnocrata em questão, se depender dos ambientalistas paulistas e paranaenses que formam a Fundação SOS Mata Atlântica, deverá ser demitido 'por anacronismo administrativo e público'. Explicando melhor: o secretário de Finanças do Paraná, Geraldo Hauer, convocou a imprensa de Curitiba para informar que, à falta de linhas de crédito para projetos de caráter regional, propôs aos técnicos do Banco Mundial, 'um projeto de integração nacional, a BR-101'". Acontece, continua Fábio Feldmann - que é candidato a deputado federal, em São Paulo - que o ilustre secretário de Finanças esqueceu-se de um pormenor: tanto o litoral Sul paranaense, na divisa com Santa Catarina, como o litoral Norte, que se limita com São Paulo, são recobertos por matas protegidas não apenas pelo Código Florestal, por atos da Presidência da República ou por parques estaduais, mas também, por um convênio interestadual e recentes declarações de tombamento transcritas pelo "Diário Oficial" do Paraná. Além de anacrônico, por ignorar a lei e os compromissos do Estado, o secretário volta a apelar para a retórica dos generais. xxx Em seu alerta ao Banco Mundial e demais agências de investimentos da ONU, a OAB e a Fundação SOS Mata Atlântica pretendem deixar claro que não são hostis ao progresso, "pelo contrário, ele é bem-vindo". Apenas não o enxergamos com uma mentalidade rodoviarista, inconseqüente e divorciada da realidade, como o secretário paranaense, que ainda separa a economia da ecologia e faz vista grossa à lição viva em que se constitui a ligação Rio-Santos, permanentemente obstruída por quedas de barreira e desmoronamentos, para gáudio das empreiteiras e infelicidade geral das vítimas da especulação imobiliária criminosa". Diz ainda o líder ambientalista paulista: - Nem o Paraná e muito menos São Paulo necessitam dessa BR-101. No momento, nossa luta é pela duplicação da BR-116 entre São Paulo e Curitiba, onde se registrou uma morte a cada dois dias em 1985. Única via de escoamento da produção econômica de São Paulo para o Cone Sul da América Latina (e vice-versa), a duplicação da Régis Bittencourt é uma prioridade real. Enquanto a rodovia translitorânea é projeto do passado e seus governantes autoritários.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
24/10/1986

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