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Aramis

Pornografia nos textos de Boris

Um dos motivos que levaram a Brasiliense a um local de destaque no competitivo mercado editorial é a audácia em seus lançamentos. A série "Circo de Letras", por exemplo, traz autores contemporâneos ou do passado com obras que, no mínimo, provocam comentários positivos ou negativos de quem leu ou ainda quem não leu, mas pretende ou promete ler. O francês Boris Vian, tachado de "mestre da pornografia" e "monstro da perversidade", tem a sua polêmica obra reunida no volume "Escritos Pornográficos (tradução do Heloisa John, 92 páginas, Cr$ 17.020). Uma obra pequena para tanto escândalo: uma conferência, cinco poemas e um conto mas que valeram a condenação por atentado ao pudor e por levar a juventude a caminho da perdição" (sic). Vian (1920-1959) defendia a tese de que as fronteiras entre o erotismo e a pornografia, e entre a pornografia e a obscenidade, são extremamente vagas: e perversidade está na cabeça dos leitores, e a simples descrição de uma árvore ou a delicada introdução dos anulares nos anéis de noivado pode mergulhá-los nas mais deliciosas fantasias sexuais. Engenheiro, músico, amigo de Sartre e Simone de Beuvoir, Boris Vian só começou a ser publicado postumamente, em 1966, com "Trouble dans le andains". Compôs numerosas canções, escreveu peças e roteiros desde jovem, morreu durante a exibição do filme baseado em sua obra "J'rai cracher sur vos tombes", do qual não havia gostado. xxx A Pioneira, atuante editora paulista, tem uma das maiores bibliotecas especializadas em administração e economia. Acaba de lançar mais dois títulos do especialista João Bosco Lodi: "O Fortalecimento da Empresa Familiar" e "Viver e Trabalhar" (Uma Proposta de Reciclagem Pessoal". Já em convênio com a Editora da Universidade de São Paulo, sai o complexo "Custo de Vida - Metodologia de Cálculo, Problemas e Aplicações" de José Tiacci Kirsten. Também na área de administração, a Vozes lançou "Guia Completo do Funcionamento de uma empresa: micro, média e grande" de Roger Barki e José Alzogaray. xxx Admirado sobretudo como letrista de tantos sucessos, Cacaso (parceiro de Tom, Djavan, Edu Lobo, Sueli Costa, Toquinho, Francis Hime) tem também uma obra poética de grande força ("A Palavra Cerzida", "Grupo Escolar", Segunda Classe" e "Mar Mineiro"). Agora, pela Brasiliense, saiu seu novo livro - "Beijo na Boca" (164 páginas, CR$ 18.500, capa de Carlos Matuck). Cacaso tem sido comparado a Manuel Bandeira por sua linguagem sem artificios, "natural", fundamentada na dualidade poesia e vida, característica comum a ambos. Por essa simplicidade, essa fala macia, sensual e maliciosa, é que a sua poesia toca fundo em qualquer leitor sensível, atento as pequenas coisas do dia-a-dia, do amor, de modo de ser brasileiro. Mas os mais sofisticados (e exigentes) poderão perceber, por trás da simplicidade de Cacaso, uma enorme sutileza de percepção intelectual, através da qual se pode entrever toda a erudição do poeta. xxx O público de Heinz G. Konsalik é voraz. Só isto para justificar que quase mensalmente apareça novo título deste escritor alemão com uma obra imensa. Ainda agora a Record lança "Uma Cruz na Sibéria" (466 páginas, tradução de Brigitte Schwinn). Aqui, após livros em que buscou argumentos mais contemporâneos ("Um Casamento a Evitar", "Viagem a Terra do Fogo"), Konsalik retoma o seu gênero favorito: as memórias de campos de prisioneiros. A história de "Uma Cruz na sibéria" se passa dentro de um campo de trabalhos forçados, o terrível JaZ 541/1, povoado de farrapos humanos, homens esfomeados, maltratados, degradados, gente que se viu reduzida a apenas sobreviver no dia-a-dia. São estes prisioneiros os responsáveis pela construção da "obra do século" , o gasoduto que conduzirá o gás natural extraído do rico solo siberiano para os países da europa Ocidental. E neste campo um jovem padre enviado por Roma te a missão de prestar assistência material e espiritual aos prisioneiros. A Nova Fronteira lançou já há algum tempo uma nova edição de "Os Tambores de São Luis", romance de Josué Montello sobre a saga do negro brasileiro desde a sua origem africana e as viagens nos navios negreiros, até sua assimilação racial como componente do tipo brasileiro. Em 624 páginas, Montello traça um painel da escravatura no Maranhão, realizando uma reconstituição histórica de uma época em que fatos e personagens reais se combinam com a ficção de maneira perfeita. Traduzido para o francês por Jacques Theriot, para as edições Flamamarion, este romance também será lançado na Alemanha, com tradução de Winfried Kreutzer - que dele fez o tema de sua tese no Instituto de Filologia Românica da Universidade de Warzburg. Com 93 títulos publicados - entre romances, novelas, ensaios e crítica literária - Montello acumula, aos 67 anos, mais de 90 prêmios.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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18/08/1985

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