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Portela e Clementina, os documentos indispensáveis

Apesar de ter deixado a direção da Divisão de Música Popular da Funarte há um mês, Hermínio Bello de Carvalho ainda mostra sua competência: além de estarem saindo mais dois livros e elepês com a Velha Guarda da Portela e Clementina de Jesus, projetos que pessoalmente haviam merecido seu empenho, HBC, no Recife, supervisiona a produção de um livro, "Pernoite", com crônicas de Antônio Maria (Araújo Morais, 1921-1964), acompanhado de um álbum, no qual vários intérpretes rememoram as mais belas canções do autor de "O Amor é a Rosa". Um projeto muito especial, pessoalmente apoiado pelo ministro José Aparecido, da Cultura, que em seus tempos de jornalismo (e boemia musical) foi grande amigo do poeta, compositor e jornalista pernambucano. Coincidindo com a reedição do básico "Paulo da Portela - Traço de União entre Duas Culturas", de Marília Barbosa da Silva e Lygia Santos (filha do "Donga", autor de "Pelo Telefone", primeiro samba registrado com esta designação), a Funarte faz uma edição preciosa: o elepê com a Velha Guarda da Portela homenageando a Paulo da Portela. Produção de Aluizio Falcão, da Idéia Livre (que distribui o disco, via Polygram), este álbum-documento, com a participação especial de Christina Buarque de Holanda e Mauro Duarte, mostra 12 belíssimas composições de Paulo da Portela (Paulo Benjamin de Oliveira, 1901-1949), o grande consolidador da E. S. Portela e compositor dos mais inspirados - cuja obra tem sido especialmente valorizada por Paulinho da Viola. A primeira edição de "Traço de União entre Duas Culturais" havia saído há 8 anos, como monografia vencedora do concurso sobre Paulo da Portela. Agora, é feita uma oportuna reedição, juntamente com o álbum - que, em Curitiba, podem ser encontradas junto à loja da Funarte (Rua Cruz Machado, 98). Outra reedição bancada pela Funarte é do primeiro disco-solo de Clementina de Jesus (1902-1987), após ter sido revelada por Hermínio no espetáculo "Rosa de Ouro". Nesta gravação, ao lado de jogos e outros temas tradicionais, Clementina interpreta dois sambas de Paulo da Portela ("Orgulho, Hipocrisia" e "Coleção de Passarinhos"), além de uma quase desconhecida parceria de Zé da Zilda (José Gonçalves, 1908-1954) e Cartola (Antenor de Oliveira, 1908-1980), "Garças Pardas". A edição é comemorativa dos dois anos da morte de Clementina, ocorrida a 19 de julho. Assim, a edição do elepê, produzido em 1966 e com uma pequena tiragem (apenas mil exemplares), o mesmo está a venda exclusivamente nas lojas da Funarte, ao preço de NCz$ 8,00 - e dando ainda como brinde o livro "Clementina Cadê Você?", editado no ano passado pela LBA/Funarte. Hermínio destaca que a importância do disco, gravado dois anos após Clementina ter feito sua primeira apresentação em teatro (no espetáculo "Menestrel", ao lado do violonista Turíbio Santos) se destaca pelo fato de que seis faixas são temas que vêm sendo passados pela tradição oral, "e que estariam desaparecidas se não fosse a gravação de Clementina e seus companheiros". O ambiente frio e impessoal do estúdio foi substituído pelo clima descontraído e alegre do terreiro, da roda de samba, criado por "Mãe Quelé" (como era afetuosamente chamada) e seus animados acompanhantes, partideiros e instrumentistas do mais alto nível. O coro é composto por, vejam só, Paulinho da Viola, João da Gente, Zezinho, Erasmo Silva e Copacabana. Um documento indispensável para quem ama a nossa mais autêntica MPB. LEGENDA ILUSTRAÇÃO - Clementina, no traço de Ziraldo: lembrando o 2º ano de sua morte.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
20/07/1989

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