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Aramis

Poty aniversaria e dá o presente a Curitiba

A idéia não poderia ser mais feliz: homenagear um grupo de curitibanos que se projetaram em seus respectivos campos profissionais. A data também foi bem escolhida: o aniversário da cidade. O que se pode questionar é se o local foi o mais apropriado. Na tarde de domingo, no Parque Barigüi, entre as mais popularescas atrações que ali atraíram milhares de curitibanos, num improvisado tablado foram entregues diplomas a paranaenses como o médico César Perneta, a poeta Helena Kolody, o professor Brasil Pinheiro Machado e o artista plástico Poty Lazarotto - entre outros que, já passando dos 60 anos, merecem a admiração e o respeito de todos nós. Infelizmente, poucos, muito poucos - dos que ali estavam, sabiam da importância de cada homenageado. Atraídos mais pelo aspecto circense da festa - com conjuntos de rock, Esquadrilha da Fumaça no ar e o tom de quermesse - o aspecto de homenagem se diluiu. Se a intenção era integrar uma reverência da cidade a vultos ilustres dentro de uma festa popular, a coisa ficou meio constrangedora para os homenageados. De qualquer forma a idéia é válida e, se repetida, nos próximos anos, deve ter um pouco melhor de organização. xxx Poty Lazarotto é tão curitibano que comemora seu aniversário com a cidade. No sábado fez 62 anos - quase 40 dos quais vivendo no Rio de Janeiro mas sem nunca ter perdido as raízes com a cidade. E ao invés de ganhar presentes, o nosso mais famoso artista acaba de oferecer um de valor imenso ao patrimônio cultural da cidade. Tendo vendido o seu apartamento na Rua Senador Vergueiro, no Flamengo, onde reunia um verdadeiro museu de obras-de-arte - colecionadas ao longo dos últimos 35 anos - Poty decidiu dar, em forma de comodato, mais de 200 preciosas peças, entre óleos, desenhos, gravuras, de artistas do maior prestígio, para a Fundação Cultural de Curitiba. O acervo já foi catalogado pelo casal Domício-Leila Pedroso, e será entregue à FCC para ocupar um espaço especial dentro de uma das unidades da preservação de artes plásticas. O documento de cessão deste acervo - que deve estabelecer rígidas cláusulas, para evitar que o mesmo venha a ser dilapidado, destruído, vendido ou mesmo colocado de forma que possa prejudicar sua preservação - ainda não foi redigido, mas deve acontecer nos próximos dias. Há 10 anos, foi o advogado Constantino Viaro, ex-diretor administrativo da Fundação Cultural (nas duas administrações do arquiteto Jaime Lerner) que cedeu, também em forma de comodato, o precioso acervo deixado pelo seu pai - e que possibilitou a implantação do Museu Guido Viaro, unidade que graças à competência e amor com que é dirigida por Jair Mendes, tem sido um dos (poucos) oásis de eficiência e tranqüilidade da FCC. Aliás, quando Constantino Viaro também dirigia a Fundação, foi ele quem adquiriu a obra completa de Poty na área da gravura, inclusive com o direito de que toda a sua nova produção terá sempre duas cópias para o acervo da Casa da Gravura. xxx Bem humorado, jovial, Poty está em ótima fase de produção. Já está finalizando os moldes em isopor para o grande mural que ocupará uma nobre parede do Clube Curitibano - e que contará, em seus desenhos tão característicos, a história do centenário clube. Já pela editora da Universidade Federal do Paraná, sairá em breve um livro-álbum com 30 desenhos, com textos de Valêncio Xavier, livremente inspirados no personagem das "Balas Zequinha". Com o título de "A Propósito de Figurinhas", esta edição será uma nostálgica viagem aos anos de infância de Poty, com imagens de uma Curitiba que ficou na sua memória. E que com toda sua inspiração, renasce em mais um precioso álbum - acrescentando-se aos dois outros livros-de-arte já produzidos em parceria com seu amigo Valêncio Xavier.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
01/04/1986

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