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Aramis

Poty, um novo astro de um filme especial

Nas telas dos cinemas, quando o curta "O Mundo Mágico de Poty" estiver sendo projetado, a [seqüência] rodada na tarde um tanto cinzenta de quinta-feira, 4 de abril, na Praça 29 de março, talvez não chegue nem a se destacar. Mas aquelas cenas fotografadas pelo compententíssimo José Medeiros - respeitado como um dos mais criativos câmera man do cinema brasileiro, com assistência de seu fiel colaborador Paulão, e direção da jornalista e cineasta Araken Távora, tem um sentido bastante sentimental. Afinal, o bom e querido Poty - no registro civil Napoleão Potiguara Lazarotto, curitibano do Capanema, nasceu a 29 de março, mesma data do aniversário desta sua mui amada - e jamais esquecida cidade. E a praça que há 17 anos, projetada pelo hoje prefeito Jaime Lerner - na época apenas arquiteto, associado a Domingos Bongstabs - ocupou um espaço que no passado era o terreno baldio, conhecido como "campo da Galícia" - referência as famílias espanholas que, no início do século por ali chegaram. E naquela área, onde, como em tantas outras de uma cidade mais humana e tranqüila existia o chamado, puro e honesto "futebol de várzea", havia o Poty F.C., do qual só restam lembranças nos desportistas amadores com mais de 40 anos. No texto enxuto, como sabe fazer, Araken Távora, paranaense de Ribeirão Claro, vivência nos melhores momentos da imprensa nacional em quase 3 décadas de atividades ininterruptas, não poderá falar de tais detalhes. Aliás, não é fácil para ele, mesmo com toda sua vivência e experiência profissional, reduzir a textos objetivos, as personalidades imensas que tem, com tanta felicidade, escolhido para seus filmes: a inesquecível Djanira - que faleceu poucos dias após o documentário ser concluído e só graças a isto, ficaram imagens para sempre que seu rosto franciscano e amor aos bichos e aves; Teruz, Aldemir Martins e Augusto Rodrigues. Mais do que significativo por ter como tema o artista plástico paranaense mais conhecido e respeitado nacionalmente, o curta que Araken Távora vem rodando já há um mês, e que neste longo santo final de semana teve suas últimas tomadas, representa a concretização do que há muito defendemos. Ao invés do Estado desperdiçar milhões de cruzeiros em demagógicos e discutíveis cine-jornais, como aconteceu por tantos anos, ou subsidiar "documentários" que custam milhões por trabalhos raramente satisfatórios, é muito mais justo que se apoie gente que sempre provou lealdade e competência. Araken Távora realizou os 4 primeiros documentários da série "O mundo mágico ..." sem nenhuma ajuda oficial e agora, para fazer não apenas a curta sobre Poty, mas também um outro sobre Paranaguá - em cujo roteiro teve a colaboração de Samuel Guimarães da Costa, 60 anos, - pediu ao governo apenas 20% do que, normalmente, somam as absurdas propostas de tantos que buscam mamar nos recursos das verbas oficiais. Se todos que se propõem a documentar o nosso Estado - seja em cinema, fotos, livros ou discos - partissem de propostas reais e honestas, como a de Araken, por certo que com um orçamento muitas vezes comprometido e um único documentário, se poderia dar oportunidade a 5 ou 6 bons projetos diferentes. xxx Araken Távora, como produtor do programa "Os Mágicos", na TV-Educativa, mereceu em 1978 o troféu "Ana Terra", categoria televisão, promoção do governo do Rio Grande do Sul que distingue os melhores de cada área. Dia 20 de março último, [ilegível] Dorival Caymmi - outro de seus grandes amigos, como padrinho - Araken recebeu o Golfinho de Ouro, do Museu da Imagem e do Som. E o nome de outras personalidades igualmente agraciadas com este troféu, dá idéia de seu significado: o poeta (e jornalista) Carlos Drummond de Andrade, o compositor Luiz Gonzaga Jr., o maestro Radamés Gnatalli, a atriz Wanda Lacerda e o escritor Afrânio Coutinho. xxx As [seqüências] dos 2 documentários que Araken realiza no Paraná - Poty e Paranaguá - deram a alegria de se conhecer melhor o veterano José Medeiros, piauiense de nascimento, integrante da brava geração dos melhores profissionais nos anos de glória da revista "O Cruzeiro", e que a exemplo de um colega do departamento fotográfico. Luís Carlos Barreto, também evoluiu para o cinema. Entre dezenas de documentários e filmes publicitários, a câmara de Medeiros valorizou mais de 30 longas-metragens, a partir de "A Falecida", 65, de Leon Hirzmann. E que conhece os bastidores de nosso cinema, sabe Medeiros não é apenas um fotógrafo que, em termos de Brasil - pode ser comparado a mestres como Haskel Wexller, James Wong Hove, Sven Nykvis e tantos outros magos das imagens. Ao contrário, a experiência jornalística do mestre Medeiros, seu conhecimento de cinema, salvou pelo menos uma dezena de filmes dirigidos por "cineastas". Conseguindo, inclusive, elogios. Só que, modestamente, se limita a ter seus créditos como "diretor de fotografia". Mas, um dia, se saberá que na verdade os "diretores" por tantas badaladas obras, devem pelo menos 60 (senão 80%) a sua ajuda. Por tudo isto é que ao decidir fazer um longa-metragem, assumindo a fotografia e direção, não teve dificuldades em reunir em sua equipe o que havia de melhor. A idéia original de "Parceiros da Aventura" (exibido em Gramados deu prêmio de melhor atriz a Isabel Ribeiro) - nasceu há 5 anos, quando, em Minas, Medeiros fazia a fotografia (e um pouco mais) para "Xica da Silva". De longas conversas com o romancista João Felicio dos Santos, autor daquela história, nasceu o primeiro tratamento de "Parceiros da Aventura", que roteirizado pelo competente José Loureiro (já editado em livro), possibilitou que o cinema brasileiro tivesse neste ano mais uma obra de valor. Real, honesto, colocando personagens em seus próprios ambientes, "Parceiros da Aventura" tem merecido elogios dos mais mal humorados críticos (como da implacável "Isto É", que na edição que está nas bancas) e tem condições de chegar ao grande público. Assim, é importante frisar: mais do que uma estréia na longa-metragem, "Parceiros da Aventura" é um filme de um homem que sabe fazer cinema e amigos. LEGENDA DA FOTO: Medeiros, Araken e Poty: documentário muito especial.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
9
06/04/1980

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