A Princesa Prometida, uma visão romântica do cinema
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 09 de setembro de 1988
Um teste para as novas gerações: haverá ainda interesse por um love story entre heróis, gigantes, vilões, magos, princesas?
Desde ontem, "A Princesa Prometida" (Astor, 5 sessões) é a estréia de [...] Alex Adamiu em substituir no cine Itália o excelente "A Família" (87, de Ettore Scola) pela reprise do medíocre "Falcão - O Campeão dos Campeões", "Over The Top, 86, de Menahem Golan), que apesar dos US$ 10 milhões pagos a Sylvester Stallone, foi o maior fracasso de bilheteria.
"A Princesa Prometida" deveria ter estreado em julho, aproveitando as férias, embora seja daqueles filmes charmosos, que agradam mais aos pais sensíveis do que as crianças. Os créditos são ótimos: o diretor Rob Reiner, 29 anos, filho de Carl Reiner ("Cliente Morto Não Paga", "Um Espírito Baixou em Mim"), ator na série "Tudo em Família", após um filme satírico ao mundo do rock ("This Is Spinal Tap") e uma comédia que passou desapercebida "A coisa Certa/The Sure Thing"), realizou o tocante "Conte Comigo" (Stand By Me), baseado num dos melhores livros de Stephen King (sem o terror explícito) e que foi um dos 10 melhores do ano passado.
O roteirista de "A Princesa prometida", William Goldman, é respeitado: "Maratona da Morte", "Todos os Homens do Presidente", "Uma Ponte Longe Demais" e "Butch Cassidy" (que lhe valeu o Oscar), além de três livros sobre os bastidores de Hollywood. Assim, um bom diretor, excelente roteirista e um filme que mescla ingredientes clássicos de contos de fadas, romances juvenis e a capa-e-espada de forma a atrair crianças e adolescentes sem deixar indiferentes os adultos. Sem o abuso da hith-tecno das superproduções de George Lucas/Spielberg (válidos na conquista do público, mas que começam a cansar pelo excesso e imitações), "A princesa Prometida" tem sido comparado a "História sem Fim", do alemão Wolfgang Petersen - o melhor filme destinado a infância, dos últimos anos.
Poético, suave, com uma história que reúne os lamentos tradicionais dos contos de fada, este filme tem a simplicidade e a ternura que fazem o encanto do cinema, além de uma belíssima trilha sonora de Mark Knopfeler, de Dire Straits (editada no Brasil pela Polygram), e cuja canção tema "Songbook Love", de Willy DeVile, (também intérprete) foi a mais bela concorrente ao Oscar-88, em sua categoria.
Se a ficha técnica tem excelentes referenciais, no elenco não há nomes conhecidos (exceto Chris Sarandon, como o vilão príncipe Humperdinck) e Peter Falk, (como o avô). Rob Reiner escolheu jovens atores e atrizes para esta história narrada em dois planos - no início, um garoto gripado (Fred Savage) que o avô (Peter Falk) procura distrair com a leitura de um livro. A história então esvoaçou-a para o mundo em que uma bela jovem, Buttercup (Robin Wright), cuja implicância com o cavalariço, Westley (Cary Elwes), se revela num amor correspondido. Mas surge um príncipe herdeiro (Sarandon) que a escolhe para a noiva. E a história inclui um espadachim (Mandy Patinkin), ratos gigantescos e todo um universo de magia.
Enfim, um filme com a simplicidade do cinema dos anos 40, quando havia todo um encantamento nas imagens dos antigos palácios de sonhos. Procure assistir "A Princesa Prometida" e compre o disco. É ótimo.
Opções nacionais
Felizmente "A Dama do Cine Shangai", de Guilherme de Almeida Prado, embora estreando sem maior promoção (Palace-Itália), conseguiu emplacar mais de 1.700 espectadores e ganhar uma segunda semana. Mereceria ficar mais duas, pois é um dos filmes mais importantes do ano. Já dois bons filmes, que competiram em Gramado, terão seus lançamentos mais badalados na próxima semana: o jovem Dino Bronze Almeida, agora executivo de uma firma de eventos, está cuidando para que a estréia de "A Menina do Lado", de Alberto Salvá (Bristol, a partir do dia 15) seja um grande acontecimento, trazendo inclusive o ator Reginaldo Farias (melhor ator/Gramado-88) e a ninfeta Flávia Monteiro, para uma festa no dia 17 - já que ambos estão em destaque pelos papéis que fazem na telenovela "Vale Tudo".
Já a estréia de "Feliz Ano Velho" (Bristol, dia 15), o melhor dos filmes exibidos em Gramado, 8 prêmios, trará a Curitiba o diretor Roberto Gervitz, a atriz Eva Wilma e o ator Marcos Breda. Merecidamente, um filme que justifica um bom trabalho promocional para que não fracasse na bilheteria. Aliás, se tivesse havido um trabalho promocional em torno de "Gaby - Uma História Real" - tocante filme que também aborda a trajetória de uma jovem deficiente, que, como Marcelo Paiva, consegue superar suas limitações físicas, aquele filme não teria fracassado no cine Bristol.
Voltemos aos filmes brasileiros. Chico Alves programou mais duas reprises: "O País dos Tenentes", de João Batista de Andrade (com Paulo Autran, em magnífica atuação) no Groff e o igualmente excelente "Besame Mucho", de Francisco Ramalho Jr. - da peça de Mario Prata, com José Wilker, Glória Pires (em alta, devido a personagem "Fátima" que faz em "Vale Tudo"), Chritiane Torloni e Antonio Fagundes, no cine Ritz.
No Luz, mais uma reprise: "Uma Janela Para o Amor" (A Room With a View), de James Ivory, belíssimo filme inglês, com Maggie Smith e Julian Sands.
Outros programas
Uma comédia sem maiores credenciais, na linha pluma, entrou no Bristol: "Tal Pai, Tal Filho" (Like Father, Like Son), de Rod Daniel. No elenco, o nome mais conhecido é Dudley Moore ("Arthur, O Milionário Sedutor", "Mulher Nota 10"), um brilhante cardiologista, que, acidentalmente, troca de corpo com seu filho, o adolescente Chris Kirk Cameron, em seu primeiro papel importante). O diretor, Rod Daniel, fez anteriormente, "Teen Wolf", uma picaretagem na linha do terror-jovem, com Michael J. Fox, lançado para capitalizar o sucesso de "De Volta Do Futuro", que ele havia estrelado.
Filmes de boa bilheteria se mantém em cartaz: "As Cores da Violência" de Dennis Hopper (Plaza); "Poltergeist III" (Condor), "Crocodilo Dundee-II" (Lido II), "Atirando para Matar" (Cinema I) "Rambo III" (São João) e "A Casa dos Mortos Vivos" (Lido I).
Na retrospectiva de Ingmar Bergman, nas sessões da meia noite de sábado e 10h30 de domingo, o Groff reprisa "Sonata de Outono". E no Luz, domingo, 10h30, a delícia de rever Jacques Tati em sua obra-prima, "Meu Tio" (Mon Oncle), Oscar de melhor filme estrangeiro há 30 anos passados. E que se mantém com todo o seu vigor.
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