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Aramis

Psicose III e O Homem da Capa Preta, nas estréias da semana

Há dois anos, quando veio ao Brasil para promover a estréia de "Psicose II", o ator Anthony Perkins assim respondia a nossa última pergunta, durante uma entrevista especial para O Estado do Paraná, no Rio Palace: - E agora, Mr. Perkins, quais os planos futuros? Pensa em voltar, mais tarde, a um "Psicose III"! - Meu plano imediato é descansar numa praia com minha esposa e filhos. Não sei qual será o próximo filme. Mas uma coisa eu lhe garanto: não haverá, pelo menos comigo, "Psicose III". Ou Perkins não estava sendo sincero - ou a tentação de voltar a viver o neurótico Norman Bates foi maior do que a intenção. No ano passado, ele não só voltou a interpretar o clássico personagem criado pelo romancista Robert Bloch e que, há 26 anos, Alfred Hitchcook (1919-1980) transformou num clássico de suspense - como também decidiu dirigir o filme. Se "Psicose II", filme com que o australiano Richard Franklin estreou no cinema americano, decepcionou, apesar do bom acabamento do filme, o que dizer desta terceira parte? No mínimo, frustrante a exploração de uma temática que, em termos de suspense, já havia rendido o básico nas mãos do mestre Hitch. Na "Psicose II", retornava do elenco original além de Perkins, também Vera Miles - só que como vilã, ao lado da então desconhecida Meg Tilly (que, em 1985, faria "Agnes de Deus", lhe valendo uma indicação ao Oscar de melhor coadjuvante) e Robert Loggia. Agora, para o terceiro revival de Norman Bates e suas taras - (e afinal, o moço não é tão assustador assim!) - um desfile de caras novas como Diana Scawid, Jeff Fahey, Robert Maxwell, Hugh Gillin, Lee Carlington e outros. O roteiro - somente baseado nos personagens originais de Roberto Bloch (aliás, "Psicose II", também foi totalmente distante da obra de Bloch, roteirizada por Tom Holland), é de Charles Edward Pogue. A fotografia é de Bruce Surtess (será filho do grande Robert Surtess, mestre das imagens nos filmes da Fox nos anos 50?) e a música é de Cart Burwell, com três canções - uma delas, "Scream of Love", com solo de saxofone de David Sanborn, jazzista razoavelmente conhecido no Brasil. "Psicose III", filme com condições de atrair um bom público - que curte a imagem ainda do original - está em exibição no Condor, desde ontem. Com isto, o ótimo "A Difícil Arte de Amar" (Heartburn), de Mike Nichols - com Jack Nicholson, passa amanhã para o Lido II, em substituição a "Sangue de Campeão", fascistóide filme sobre hokei que, surpreendentemente permaneceu três semanas em exibição. No Lido I, retorna amanhã um dos melhores filmes-pop dos anos 70: "Pink Floyd - The Wall", de Allan Parker, com imagens delirantes e uma trilha sonora magnífica. Um filme que a garotada curte sempre e que, como cinema, merece também aplausos. SURPRESAS DO CINEMA Lírico, emocionante, com um requinte visual que raras vezes se obtém na tela, "Um Homem, Uma Mulher: 20 anos Depois", em que Claude Lelouch retomou os personagens de seu primeiro (e maior) sucesso de bilheteria, fracassou (também) em Curitiba. Lançado há uma semana no cine Astor, foi substituído ontem pela comédia "Os Espiões Que Entraram Numa Fria" (Spies Likes Us), de John Landis ("Um Lobisomen Americano em Londres"), sobre o qual já nos referimos, com detalhes, na última sexta-feira. Afinal, era esta comédia com Chevy Chase e Dan Aykroyd que estava programada para o Astor - e acabou sendo substituída, a última hora, por "Um Homem, Uma Mulher: 20 anos Depois". O que acontece agora com este novo filme de Claude Lelouch, nos faz lembrar o fato ocorrido há três anos, quando "Retratos da Vida" (Bolero ou Les Uns et les Autres), foi (mal) lançado no cine Itália e ali saiu de cartaz no sétimo dia. Os poucos espectadores que o viram naquela ocasião ficaram surpresos pelo fato do filme não continuar em cartaz e todos começaram a falar a respeito. Quando "Retratos da Vida" voltou no Cinema I, aconteceu o que todos sabem: o maior êxito da história do cinema em Curitiba. Por seis meses o filme permaneceu em cartaz, com casas lotadas - e repetindo sempre ótimas bilheterias em reprises posteriores. Será que houve precipitação, agora em retirar "Um Homem, Uma Mulher: 20 anos Depois" do Astor? João Aracheski, executivo da Fama e que tem a maior experiência na área, diz que não teve outra solução, considerando a renda mínima que um filme deve apresentar para continuar em cartaz na melhor casa da empresa. Mas promete o retorno do filme de Lelouch no Cinema I, talvez até o "Apocalipse Now", de Francis Coppola, que após relançamento no Vitória, voltou para o cinema da Rua Saldanha Marinho. "Um Homem, Uma Mulher", com o mesmo casal de "Unne Homme, Unne Femme" - Anouk Aimee e Jean-Louis Trintignant - é um filme-encanto. Tem romantismo, agilidade, uma fotografia perfeita e aquela trilha sonora (de Francis Lai) que, passados 20 anos, somente ficou mais bela e emocionante. A história é de amor mas oferece elementos de reflexão. O próprio cinema é parte da história, há seqüências de corridas como na primeira fita. Enfim, um filme para todos os paladares - difícil de desagradar a quem tem a mínima sensibilidade. Entretanto, foi um fracasso na Europa e, mesmo tendo um estimulante lançamento no Brasil, quando Lelouch por aqui passou (na ocasião, o entrevistamos no Rio de Janeiro) não obteve o sucesso esperado. Mistérios do cinema e incógnitas do público, capaz de surpresas incríveis. Mas, apostamos que voltando a ser exibido - e funcionando a recomendação boca-a-boca, o êxito pode aparecer. Afinal, "A Difícil Arte de Amar", o mais recente filme de Mike Nichols, estreando nacionalmente em Curitiba, sem maior propaganda, cresceu tanto nos primeiros dias de projeção - e basicamente catapultado pela recomendação boca-a-boca que entra agora em sua 4ª semana de exibição, mudando apenas de cinema. "Um Homem, Uma Mulher; 20 anos Depois" merece também uma segunda chance. E precisa ser descoberto pelo público. O HOMEM DA CAPA PRETA é a confirmação do talento de Sérgio Rezende, 35 anos, cineasta dos mais vigorosos da nova geração. Depois de "O Sonho Não Acabou", rodado em Brasília e do documentário "Até a Última Gota" - denúncia corajosa sobre a exploração dos bancos de sangue no Rio de Janeiro - Rezende voltou-se para uma fascinante e polêmica personalidade da política brasileira dos anos 40/50: Tenório Cavalcanti. De afetiva biografia que uma das filhas do político alagoano escreveu, a pintora Do Carmo Fortes (por sinal, desde 1959 residindo em Curitiba), José Louzeiro desenvolveu um roteiro enxuto, preciso e que permitiu a construção de um filme de primeiro nível. Tanto é que ao ser apresentado ao Festival do Cinema Brasileiro de Gramado, este ano, foi o grande premiado - obtendo tanto o Kikito de melhor filme do júri, como do público, valendo ainda premiações pela trilha sonora (Davif Tygell), ator (José Wilker), atriz (Marieta Severo), entre outras categorias. Na época, cobrindo o Festival, detalhamos aqui em O Estado o filme - que, por sua importância, merecerá comentário a parte, em nossa coluna "Tablóide", nos próximos dias. Uma coisa é certa: O HOMEM DA CAPA PRETA inclui-se, entre os melhores do ano. Ao lado de "Sonho Sem Fim", de Lauro Escorel - que também continua em cartaz (cine Ritz) - é um exemplo do revigoramento do cinema nacional, que este ano, felizmente, teve tantos - e positivos - exemplos. No cine São João, em 5 sessões. CINEMA JOVEM Em substituição a violência de "Jogo Bruto", o amor adolescente: "Inocência do Primeiro Amor" (Lucas), de David Seltzer, estreou ontem no Plaza. Dentro da linha do cinema jovem, bem intencionado e que busca formar novas platéias, eis um filme a ser verificado, no qual o até agora desconhecido David Seltzer, busca um tom semiautobiográfico, com empatia universal. Explica: - "A identidade, o amor próprio são pontos cruciais para todos. A agonia da adolescência consiste em compreender que se é diferente e esquivar-se a essa diferença, ao invés de aceitá-la e cultivá-la. No elenco, intérpretes jovens: Corey Haim, Kerri Green, Charlie Sheen, Courtney Thorne-Smith e Winona Ryder. UM FILME DE VERIFICAÇÃO OBRIGATÓRIA. OUTRAS OPÇÕES Entre as boas reprises, "Um Amor de Swann", o enternecedor e literário filme que o alemão Volker Schlondorff realizou com base em alguns personagens e situações da obra de Marcel Proust, em "Busca do Tempo Perdido" - que, no passado, interessou cineastas do calibre de Visconti e Peter Brook, mas que desistiram ante a dificuldade da adaptação. Com Ornella Mutti, Jeremy Irons e Alin Delon, "Um amor de Swann" é um filme de época - Paris no final do século passado - com requinte, excelente cenografia, intérpretes vivendo personagens inesquecíveis. Com sua reprise, o bom Francisco Alves dos Santos complementa a retrospectiva Schlondorff, que tem previsto para este final de semana, na Cinemateca, três outros importantes filmes do mestre do cinema alemão da nova geração: "Fogo de Palha", "Tiro de Misericórdia" e "O Tambor". As relações de Schlondorff com a literatura são profundas, e há uma semana, nos "Midnights Movies", do Bruni-Ipanema - em mostra paralela ao II FestRio, ali assistimos a sua adaptação de "A Morte do Caixeiro Viajante", de Arthur Miller - com Dustin Hoffman numa notável interpretação. Pena que "Death of Salesman", na visão de Schlondorff não esteja com cópias adquiridas para o Brasil. Para quem gosta de filmes de terror, o Palace-Itália exibe um filme que tem até merecido alguns elogios - e deve permanecer semanas em cartaz. "A Hora do Pesadelo" (A Nightmare On Eim Street), de Wes Crave - que tem no elenco um veterano - John Saxom, ao lado de várias caras novas: Ronee Blakley, Heather Loagenkamp, Amanda Wyss, Nick Corri e John Deep. "Expresso para o Inferno" (Runaway Train), do russo Andrei Konchalovsky, exibido em Cannes, no último festival (e que valeu a Jon Voight a indicação de melhor ator ao Oscar-86) - continua no Vitória. No Itália, um filme asqueroso, totalmente dispensável: "Canibal Holocausto", de Rubgero Deodatol. Nas sessões especiais, do Groff, a reprise de mais uma jóia de Woody Allen: "Sonhos Eróticos Numa Noite de Verão", amanhã a meia noite e domingo, as 10 horas da manhã. No Luz, domingo, em matinada, "O Príncipe Valente". Nas sessões Zig-Zag do Plaza - sábado e domingo, 10, 11 e 12 horas - "As Novas Aventuras da Turma da Mônica", com 8 desenhos curtos dos personagens de Maurício de Souza, para alegria da criançada. LEGENDA FOTO - Tony Perkins retorna mais uma vez com Norman Bates em "Psicose III". agora também como diretor. no cine Condor.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
11
05/12/1986

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