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Aramis

Puerto Stroessner ou a síndrome do consumismo

Inútil pretender obter qualquer dado numérico. Simplesmente não há ninguém disposto a fornecer informações - mesmo que aproximadas - sobre o comércio na cidade Puerto Stroessner. Mesmo estimativas são difíceis de serem feitas, já que além da multiplicação das lojas, os camelôs invadiram totalmente as já estreitas e mal cuidadas ruas da cidade, em filas duplas e até triplas de barracas - nas quais oferecem todas as mercadorias que se possa imaginar. Normalmente o movimento é intenso, mas nos fins de semana torna-se difícil até caminhar pelas ruas - e só no interior de algumas lojas maiores (como a Monalisa, da Espanha, Audio, que chegam a oferecer o mínimo atendimento a clientela) - se pode fugir do calor infernal que faz nesta época do ano na região de Foz do Iguaçu. O desconforto, os riscos de adquirir mercadorias falsificadas e o atendimento que chega até a ser bruta por parte dos vendedores(as) mal preparados, nas centenas de lojas não desanima a fúria dos compristas brasileiros - que desembarcam, aos borbotões, de ônibus de turismo vindo de todas as partes do Brasil. Puerto Stroessner é um fenômeno cada vez maior em termos de consumismo e todos os que atravessam a Ponte da Amizade parecem dispostos a ali deixarem os últimos cruzados - em troca de bebidas, roupas, perfumaria, gadgets às centenas sem contar os apetitosos aparelhos eletrônicos, equipamentos sofisticados de fotografia e vídeo e outras maravilhas tecnológicas, que mesmo tendo sua entrada no Brasil proibida sempre vendem bastante - com mil estratagemas para sua entrega, de forma segura, aos que se dispõem a deixar de Cz$50 a Cz$ 200 mil em mãos de comerciantes desconhecidos, sem qualquer garantia. Só que no negócio de Puerto Stroessner parece valer a mesma lei que faz do jogo do bicho o negócio mais confiável aos apostadores: vale o escrito. Desde que as compras sejam feitas nas casas mais confiáveis - e há sempre um amigo ou conhecido para "avalizar" a indicação - a entrega da mercadoria é garantida, "pois o negócio é manter a confiança do comprador" como nos dizia, na semana passada, um experiente observador dos negócios da fronteira. Apesar de Foz do Iguaçu ter se transformado a partir dos anos 70 um dos maiores centros turísticos e econômicos do País, na soma das belezas das Cataratas, o derrame de milhões de dólares nas obras de Itaipu e a natural atração do mercado livre de Puerto Stroessner - uma cortina de mistério esconde os grandes negócios do outro lado do rio. Até hoje não foi feita ainda uma grande reportagem de investigação sobre o movimento no comércio do lado paraguaio, a estrutura de negócios e outros detalhes pois, mesmo que tal proposta jornalística não pretende mergulhar no (perigosíssimo) campo do tráfico das drogas (em si um outro assunto), há sempre quem desaconselhe qualquer tentativa de se meter o nariz onde não se é chamado. Assim, Puerto Stroessner, com seu fascínio comprista, permanece envolvida naquele doce mistério em que o apelo para compras é geral. O empresário Nevio Rafagnin, 37 anos, atual secretário de Turismo de Foz do Iguaçu, há tempos que vem tentando obter dados sobre o movimento comercial em Puerto Stroessner. Já fez inúmeras consultas e por último se dirigiu ao sr. Cavallero, governador da Província do Alto Paraná, na qual se localiza Puerto Stroessner. Até agora, nenhuma resposta - embora não diga oficialmente, admite que dificilmente terá informações a respeito. Seu principal assessor, Hamilton Machado Cruz, 35 anos, também afirma que não há condições de se ter informações sobre o comércio "do lado de lá da ponte" - mas faz um palpite: no mínimo, há mais de 2 mil estabelecimentos comerciais funcionando, sem contar milhares de vendedores ambulantes, lotando as ruas da cidade. Há anos que Foz do Iguaçu reivindica a condição de zona de livre comércio, e embora, oficialmente, o empresariado e autoridades locais defendam esta bandeira - bem como da abertura do jogo - sabem que são ambições difíceis de serem concretizadas, já que envolvem delicadas negociações políticas do plano nacional e internacional. Filho de um dos pioneiros do comércio de Foz do Iguaçu, Olímpio Rafagnin (1927-1979), que ao lado de sua esposa, dona Filomena, começou humildemente e deixou um imenso patrimônio, Nevio Rafagnin assumiu a Secretaria de Turismo a convite de seu amigo Gustavo da Silva, por entender que "precisava que alguém da iniciativa privada tocasse de fato o setor mais importante para a economia de Foz do Iguaçu". Afinal, experiência empresarial não falta a Nevio, seus irmãos e irmãs - que dirigem hoje um complexo de churrascarias, um hotel quatro estrelas e o maior centro gastronômico do Estado, empregando mais de 700 pessoas. A sua grande preocupação, desde que assumiu a Secretaria de Turismo tem sido a de criar estímulos para que o turista amplie sua permanência em Foz do Iguaçu. - "Se conseguirmos fazer com que o turista amplie ao menos em 24 horas a sua presença na cidade, teremos um aumento de mais de 50% em termos econômicos." Por isto mesmo, Rafagnin se entusiasma com projetos que movimentem a cidade em grandes termos: foi um dos que mais colaborou com a Fundação Teatro Guaíra para a produção do ballet "Lendas do Iguaçu" e em seus planos está, inclusive, a ida de atrações internacionais - Júlio Iglesias é uma idéia - que só se apresentariam em Foz do Iguaçu. Não está fora de cogitação um grande acordo operacional com Roberto Maksoud, para estender a um dos hotéis de Foz - ou no futuro Centro de Convenções - as atrações exclusivas que até hoje ficam apenas no "150", em São Paulo. Por enquanto um projeto distante, mas que Rafagnin diz ter condições de se viabilizar. Assim como eventos marcantes - como festivais de música, cinema (talvez uma das próximas edições da Mostra Latino-Americana de Cinema), sem contar todos os congressos e convenções que já se realizam em Foz - mesmo inexistindo um centro de condições técnicas perfeitas. LEGENDA FOTO: Nas ruas de Puerto Stroessner, o fenômeno consumista
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
1
20/11/1987

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