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Aramis

Quando o visual do rock vale mais que o musical

1985 começou com o quente Rock In Rio e termina com o escândalo envolvendo os integrantes do grupo Titãs, presos em São Paulo, por uso e mesmo tráfego de droga pesada. Isto reflete um ano em que a música perdeu para o marketng dito jovem, explorado ad-nausea não só pelas grandes gravadoras mas até adotado por selos altenativos, como a Baratos Afins, que mesmo sem esquema maior de divulgação, inundou o mrecado com uma dezena de Ips de grupos de roqueiros paulistas. Os fluidos comerciais da promoção do Medinas, que abriu em 1985 com um super-festival de rock fez com que as gravadoras pudessem abrir novas frentes para o rock, não só através de stars internacionais que obtiveram uma promoção especial (p.ex. Nina Hagem), estimulando, ao mesmo tempo, o aparecimento de dezenas de grupos de rock tupiniquins, que todos de medíocre nível. Somem-se a isto outras jogadas mercadológicas inteligentes - como a "We Are The World", que catipultou as vendas do até então inédito (em disco) no Brasil, Bruce Springsteem, para termos um ano em que houve muito som mas pouca música. Portanto, não é de estranhar que o mercado jovem seja perseguido implacavelmente pelos diretores de marketing e gerentes de produtos - tecnocráticos figuras que substuituiram os outroras sensíveis diretores artísticos das gravadoras. E no jogo vale tudo - (só não vale perder dinheiro) e se um grupo como Menudos transforma-se em mania bnacional, naturalmente que surgem 4 ou 10 imitações - piores ou iguais) aos originais. Na geléia geral deste som jovem, se misturam desde talentos promissores - embora obrigados a produzirem uma música mais comercial e descartável - como Vinicius Cantuária, paraense, ex-baterista e que surgiu auspiciosamente há alguns anos - até os que buscam apenas um bom visual, para chegar ao público adolescente, como Marcelo , Marcos Sabino, ou Fábio Jr. Em raia própria, ainda buscando a faixa jovem que os consagrou, cantores-autores que já passaram dos 30 (Rita Lee e Erasmo Carlos). O NORMAL PRODUTO - Lulu (Luiz Maurici) Santos, carioca de Copa cabana, 32 anos, é o exemplo do intérprete bem produzido para um público específico. Ao fazer seu quarto lp ("Normal", WEA) tem um público que disputa seus 120 shows anuais e lhe garante um lugar entre os "roqueiros de meia idade"que, apesar dos primeiros cabelos brancos ainda tem na faixa adolescente aos seus fãs mais fiéis. Aqui, ao lado de dez temas inéditos vocais, inclui também um instrumental ("Ahn-Han", todas de sua autoria - apenas em duas ("De Repente" e "Atualmente") com parceria na terra de Netson Motta. Vivendo independente desde os 12 anos, ex-hippie - hoje um tranquilo marido de uma das mais badaladas mulheres da tv-brasileira (Scarlet Moon), Lulu dizia ainda recentemente à repórter Regina Echeverria: "Eu me acho muitojovem aos 32, muito mais do que um babaca de classe média, que se por tocar uma guitarra se crê dono de alguma coisa". Popularíssimo como ator na televisão e mesmo cinema ("Bye Bye Brasil", por exemplo), Fábio Jr. Tem uma carreira segura em termos de consumo. Agora na CBS, seus discos são predeterminados com letrinhas das mais ingênuas mas por isto mesmo consumidas com facilidade. Por exemplo, neste seu último lp ele fez gravações em Londres (Angel) e Madri (Kirios), na transamérica e nos próprios estúdios de Lincoln Olivetti, para dar um toque "universal"a músicas que vão de um romantismo quente como em "Coração" e "Quando Gira o Mundo", ao terno "Nossa Casa Terra" (Danilo), no qual além de um coral somaram-se também as vozes de A turma do Balão Mágico, que em seus discos, já receberam a participação especial de Fábio Jr. Também Ritchie não prega prego sem estopa para se manter no delicado arame de sustentação dos ídolos de matínee, que, ao menor resvalo, podem serem substituídos por tantos que estão na fila de espera. Assim , as músicas que faz e grava também não deixam de ter um esquema para fácil assimilação. Em "Circular", por exemplo, procura temas dos mais amenos - quese como se estivesse apenas colocando no liquidificador as mesmas frutas para as vitaminas que engordam a hoje saudosa Jovem Gurada. Por exemplo, em "Telenotícias"fala sobre o sujeito que viaja vária milhares para ver a namorada. Quando ele chega ela diz que nesta noite não vai dar . Já "O Trem Vai" é a conversa de um casal sobre a vida, o futuro, o amor. "Um, Dpois, Três e Já" é aquela velha história de que quando um não quer, dois não não brigam (mas aqui, os dois queriam). "Nessa Avião"retoma um tema que Billy Blanco já tratou com muito mais emoção para atender ao seu amigo Dick Farney: o amor com uma aeromoça. "Overdose" é sobre a garota que sempre queria mais e mais. Uma pretensão maior: "Favela Music" é de Jim Capaldi, que fala da pobreza, de favela, dos pivetes e de futebol - mas de um prisma bem americano. Em todas as suas músicas, Ritchie teve Bernard Vilhana como parceiro. OS CANTORES DO VISUAL - Bom visual é a característica de muitos cantores que têm merecido um grande investimento nestes últimos anos. Afinal, Sidney Magal, lançado nas águas de John Travolta, ainda nos anos 70, continua a vender seus discos apesar da passagem do tempo... A Sigla, com um pequeno elenco, investe pesado em dois outros cantores que tem no good looking a sua maior atração: Marcos Sabino e Marcelo. Sabino ex-integrante de grupos de rock melódico e que por anos esteve na Polygram, estreou agora na Sigla com um disco basicamente de canções românticas em baladas adocicadas ("Eu sou um baladeiro: eu tenho a coisa da balada mais forte em mim. Bob Dylan é um baladeiro"), impulsionado especialmente pela faixa "Tudo por Amor". Já Marcelo, que ainda adolescente foi ator em "Minha Namorada", frustado filme de Zelito Vianna, tem merecido sucessivos investimentos. Há dois ou 3 anos, foi na Odeon que ganhou um tratamento de superstars em seu disco, mas que não chegou a acontecer. Agora, ganha mais uma (boa) chance com Ëstrela do meu Clip"( Som Livre/Sigla), onde seis são composições próprias numa delas, "Maluco Coração"parceria com Marco Sabino), e as demais de autores desta última safra de rock nacional, como Cazuza/Frejat ("Gatinha de Rua"), Lobão/Bernardo Vilhena ("Clic"), entre outros. Para as gatinhas, capazes de se identificar sonoramente/ visualmente com o ainda boa pinta Marcelo, um disco de consumo imediato. Que diz coisas como: "Macacos me mordam /Mais ai vem confusão / Dancei nessa briga/ fiquei de pau na mão/ Perdido na noite/ No meio da rua".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
34
01/12/1985

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