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Aramis

Quatro boas estréias nas telas de Curitiba

Os bons filmes estão chegando! Apesar das férias que estimulam programações de filmes caça-níqueis, raramente acima do nível de entretenimento descartável, estréias mais consistentes começam a chegar. Só nesta semana há quatro programas indispensáveis de serem conferidos: "Chuva Negra", de Riddley Scott (Condor), "Quando Me Apaixono", de Taylor Hackford (Bristol), "Gente Diferente", de Andrei Konchalovsky (Palace Itália) e "Na Trilha dos Assassinos", de John Frankenheimer (São João). Para os próximos dias, devem chegar dois fortes candidatos à lista de melhores do ano: "Sur", de Fernando Solanas e "Vozes Distantes", de Terence Devis, que terão sua pré-estréia às 24h de hoje e amanhã no Cine Ritz, respectivamente. Se, de um lado, graças ao contrato que fez com a Pandora Filmes, a Fucucu está obtendo filmes de nível para suas salas, a estupidez continua grande. O profundo e polêmico " O Anjo Exterminador", 1962, de Luiz Buñuel (1900-1984), que estreado na semana passada mereceria continuar em cartaz no Ritz é, inexplicavelmente, substituido pela reprise de "Festa", de Ugo Giorgetti. Já outro filme de Buñuel, o pouco conhecido "O Destino Viaja de Bonde", 1953, foi programado no Groff - um dos mais mal cuidados cinemas da cidade, poltronas quebradas, banheiros imundos e que, com toda razão, vê cada vez mais o público dele se afastar. Quando Me Apaixono - Taylor Hackford, 45 anos, é um romântico! "A Força do Destino" (82), "Paixões Violentas" (84), "O Sol da Meia-Noite" (86) foram exercícios nos quais o coração sempre falou alto. Agora, assume mais uma vez a condição de contador de histórias sentimentais: "Quando Me Apaixono" (When I Fall in Love) - inicialmente chamado "Everybody's All American", produção de 1988, é um mergulho nostálgico na vida de um casal - Babs (Jessica Lange) e Gavin (Dennis Quaid) ao longo de 25 anos. Sulistas da Louisana, vivem os sonhos da juventude, o amadurecimento dos anos 70, os reveses da vida - ela vitoriosa na vida acadêmica, ele fracassado na opção que fez - na vida esportiva - sempre observados por um sobrinho, Donnie (Timothy Hutton), que, ainda na adolescência os havia eleito como casal-símbolo. Uma história (de Frank Deford) com ternas emoções que promete bastante. Jessica é uma excelente atriz, Hutton, já crescido, foi aquele jovem inseguro que Robert Redford revelou em "Gente como a Gente" e Dennis Quaid, um dos astros em ascenção (nos próximos dias, poderá ser visto como o roqueiro Jerry Lee Lewis em "A Fera do Rock"). Além de tudo, a trilha sonora de James Newton Howard deve aproveitar a música-tema, um dos clássicos de Nat King Cole, de quem, aliás, a Emi-Odeon acaba de lançar um belo pacote de 5 elepês com os maiores sucessos de sua carreira. Gente Diferente - A mesma Louisana que Taylor Hackford focaliza já nas primeiras seqüências de "Quando Me Apaixono", quando, em 1956, Gavin Gregy é aclamado pelos colegas e Babs Rogers, sua namorada, coroada Rainha Magnolia, é o cenário, bem menos sofisticado, no cruel e profundo "Gente Diferente" (Shy People), quarto longa-metragem que o diretor russo (radicado nos EUA) Andrei Konchalovsky dirige na América. A história é tensa: uma jornalista do "Cosmopolitan", Diana Sullivan (Jill Clayburgh), decide visitar parentes nos pântanos de Louisana, para fazer uma familiar reportagem e leva sua filha adolescente, Grace (Martha Plimpton), que transa drogas e há muito é amante de um quarentão. A matriarca visitada, Ruth Sullivan (Barbara Hersey) não tem nada de simpática e dirige com mão-de-ferro uma família problemática: mora numa casa em ruínas, nas profundezas dos overglades, reverencia a memória do marido (cuja morte não aceita) e interfere na vida de seus três filhos - um retardado, outro trancafiado e um terceiro casado (nega a existência de um quarto, que vive na cidade). Neste clima pesado, Konchalovsky desenvolve um filme que ganhou muito com o roteiro de Gerard Brach ("O Urso", roteirista favorito de Poanski) no qual dá uma visão pesada de um lado pouco conhecido da América. Irmão de Nikita Mikhalkov, também diretor de cinema, Andrei Konchalovsky, 53 anos, foi o primeiro cineasta russo a se auto-exilar, com autorização do governo russo, nos EUA, onde deu continuidade a uma carreira iniciada em 1965 ("Primeiro Professor") e que inclui colaborações como o mais famoso cineasta russo contemporâneo, Andrei Tarkovski ("Andrei Rublev"). Nos EUA, Konchalovsky dirigiu "Os Amantes de Maria" (1984), "Expresso Para o Inferno" (1985) e "Sede de Amar" (1986). Três filmes que o credenciam como um cineasta de vigor e fazem com que se inclua como obrigatória a ida no Palace Itália neste fim-de-semana, antes que o filme seja retirado de exibição. Na Trilha dos Assassinos - No início dos anos 60, John Frankenheimer, vindo da televisão, explodia como um dos renovadores do cinema americano: depois de filmes sobre conflitos da juventude ("No Labirinto do Vício", 56; "Juventude Selvagem", 61; "O Anjo Violento", 62), e um clássico do cinema penitenciário ("O Homem de Alcatraz", 62) realizaria um thrilling político, "Sob o Domínio do Mal", tão premonitor (do assassinato de um presidente americano, o que se tornaria realiade em 23/11/1962, quando Kennedy foi morto em Dallas) que o produtor-astro do filme, Frank Sinatra, inteditaria esta obra - que só voltaria a ser exibida em 1988 (em Curitiba, no Cine Lido II, teve uma das mais fracas bilheterias). Ao longos dos últimos 18 anos, infelizmente, a estrela de Frankenheimer declinou, apesar de sua filmografia ter outros bons momentos. Portanto, talvez pouca gente se interesse em conhecer "Na Trilha dos Assassinos" (Dead Bang), que tem uma visão humana do policial: Jerry Back (Don Johnson), como o Nick de "Chuva Negra", é um detetive em crise: em fase de divórcio, impedido de ver seus filhos, mergulhando na bebida, morando em um cortiço ao lado do Burbank Airport, está longe da imagem romântica dos heróis. Janta comidas enlatadas e sua única companhia é uma TV em P&B. Seu carro está caindo aos pedaços e usa óculos de leitura remendados com durex. Esse anti-herói, depressivo e num ambiente de baixo-astral, é entretanto motivado a voltar aos bons tempos - quando contactado para investigar o assassinato de um colega da polícia de Los Angeles. O argumento de Robert Foster promete e o elenco de novas caras pode surpreeender - incusive porque a história foi baseada em fatos reais. Com Don Johnson, Penelope Ann Miller, William Forsythe e Bob Babalaban, um filme de conferência obrigatória. Chuva Negra - O detetive Nick (Michael Douglas) não é muito diferente de Jerry. Também está em crise quando "Chuva Negra" (Cine Condor) inicia e procura compensar suas frustrações - divorciado, com muitas dívidas, vivendo também num ambiente miserável - com corridas de motocicletas nas margens do Rio Hudson, o que acaba lhe rendendo alguns dólares a mais. Ao lado de um colega, Charlie (Andy Garcia), presencia o assassinato de um dos chefões da Yakuza - a máfia japonesa - e consegue prender o assassino, Sato, que as autoridades americanas decidem entregar à polícia japonesa. Mas o seu azar continua: ao chegar em Osaka, é enganado pela máfia japonesa que leva o assassino. Decide ficar e tentar predê-lo - nascendo então um conflito de métodos com os policiais nipônicos. Uma história que, mais do que o policial, explode em várias análises - conforme registramos em nossa coluna de ontem - e que é emoldurada por uma fotografia belíssima, trilha sonora trepidante de Hans Zimmer (edição no Brasil da Emi-Odeon) e que deverá ser muito curtida pelo público que gosta de filmes de ação. O diretor Riddley Scott ganhou status de cineasta-cult com "Blade Runner" e neste seu novo filme - possível candidato a vários Oscars-90 - mostra mais uma vez seu requinte estético. Um filme classe A, para várias faixas de público. Outras Opções - Premiado com os Kikitos de mlehor filme, ator (Antônio Abujamra/Adriano Stuart), roteiro (Ugo Giorgetti), figurino (Nazaré Amaral), edição de som (Miriam Biderman/Elisa Payle), no festival de Gramado-89, "Festa" é um dos melhores filmes brasileiros dos últimos anos. Denso, irônico e com um certo clima buñuelesco - a ter toda sua ação, surrealisticamente, sem maiores explicações das razões pelas quais os três artistas contratados para a sofisticada festa de um rico senador nunca sobem ao primeiro andar da mansão. Talvez por esta "interpretação" buñuelesca, foi que o ex-seminarista Francisco Alves dos Santos, coordenador de cinema da Fucucu, decidiu cortar a carreira de "O Anjo Exterminador", que estava em exibição no Ritz, para fazer mais uma reprise deste filme já bastante conhecido. No Luz, continua em exibição "O Mestre da Música", de Gerard Corbieau. "O Urso", de Jean-Jacques Annaud, passou para o Cinema I, enquanto que no Groff entra um filme que Buñuel realizou no México, em 1953, e que poucos conhecem : "A Ilusão Anda de Bonde" (La Ilusion Viaja en Travia), roteiro de Maurício de la Serna e José Revueltas, com uma história relativamente linear: algumas horas na vida de um grupo de pessoas num bonde que faz sua última viagem na Cidade do México. Realizado naquela fase em que Buñuel se encontrava no México, trabalhando em projetos menos herméticos (adaptação de Robinson Crusoe", "O Morro dos Ventos Uivantes", "o Bruto" etc.), este filme merece ser visto. Só que vá logo, pois os "gênios" da Fucucu por certo vão retirá-lo de cartaz já na próxima quarta-feira para fazer uma nova reprise de algum filmes que o público curitibano já está careca de assistir. LEGENDA FOTO - Timothy Hutton em "Quando Me Apaixono", um filme romântico e nostálgico. No Cine Bristol.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
8
26/01/1990

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