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Aramis

As quatro vezes em que a bela estrela nasceu

Entre os pecados da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood está, sem dúvida, o fato de não ter dado a Judy Garland (1922-1969) o Oscar de melhor atriz em 1954. Assim como foi imerecida a premiação de "Three Coins In The Fountain" (Jule Styne/Sammy Cahn), de "A Fonte dos Desejos" - e grande sucesso de Frank Sinatra na segunda metade dos anos 50 - em detrimento ao antológico "The Man That Got Away" (Gershwin/Arlen) que havia obtido indicação ao Oscar de melhor canção. Apesar de cinco indicações no Oscar de 1954, "Nasce Uma Estrela" (cine Groff, 2ª semana) não teve nenhuma premiação (e as injustiças continuam, haja visto o caso de "A Cor Púrpura", neste ano). Judy perdeu para Grace Kelly (por "Amar é Sofrer", de George Seaton); James Mason, candidato a melhor ator, perdeu para Marlon Brando (por "Sindicato de Ladrões), na direção artística o vitorioso foi "20 Mil Léguas Submarinas" e a trilha sonora de Ray Heindorf perdeu (neste caso até que se entende) para a dupla Adolph Deutsch/Saul Chaplim por "Sete Noivas Para Sete Irmãos". Ao decidir refilmar a história do ator-em-decadência - ajuda-desconhecida-a -se-tornar-famosa, Cukor retomou, quase integralmente, o mesmo argumento de Adele Rogers St. John que, em 1932, ele mesmo havia levado a tela em "Hollywood" (What Price Hollywood?), produção RKO, com Constance Bennett e Gregory Ratoff - e que ganhou uma indicação ao Oscar de roteiro original daquele ano - mas perdendo para Frances Marion por "O Campeão" (filme de King Vidor, que, 30 anos depois, o italiano Franco Zeffirelli voltaria a levar a tela). Em 1937, numa produção de David O. Selznick (1902-1965), William A. Wellmann, reaproveitou o argumento e o filme, estrelado por Janet Gaynor (1907-1984), Frederic March (1897-1975) e Adolph Menjou (1890-1964) foi um grande sucesso. Lana Turner, então com 17 anos, estreava neste filme, aparecendo numa seqüência ambientada num bar. Com cinco indicações ao Oscar na 10ª premiação da Academia, "A Star Is Born" saiu pelo menos com 2 troféus: o do roteiro adaptado (Robert Carson/Wellmann) e um prêmio especial ao fotógrafo W. Howard Greene pela utilização do sistema technicolor (foi um dos primeiros filmes inteiramente coloridos). Em compensação, perderia na categoria de melhor filme (para "Emile Zola"), direção (para Leo McCarey por "Cupido é Moleque Teimoso") e assistente de direção (categoria que hoje não é mais premiada) com Eric Stacey derrotado por Robert Webb ("No Velho Chicago"). xxx Em 1976, a atriz e cantora Barbra Streissand produziu (e, consta, chegou a dirigir algumas seqüências) a quarta versão da mesma história. Desta vez os roteiristas John Gregory Dunne, Joan Didion e Frank Person (também o diretor) transformaram Norman Mainer num cantor pop - John Norman Howard (Kris Kristofferson), que auxilia uma jovem desconhecida, Esther Hoffmen (Barbra) a se tornar um grande nome - enquanto ele entra em decadência profissional e pessoal. No mais, é a mesma história, com 140 minutos de duração, a fotografia de Robert Surtees aproveitando inteligentemente cenas de festivais de rock ao ar livre e uma incrementada trilha sonora com muitos hits na voz de Streissand, inclusive "Evergreen" (sua parceria com Paul Willians), que obteve o Oscar na categoria. Em compensação, a trilha propriamente dita perdeu para Leonard Rosenman por "Bound For Gloury" (Esta Terra é Minha Terra) a cinebiografia do cantor Woody Guthrie (1912-1967). Esta versão de "A Star Is Born" também teve indicações aos Oscars de fotografia (perdeu para Haskell Wexler, por "Bound for Glory") e som (perdeu para "Todos Os Homens do Presidente"). xxx Como se vê, a história cinematográfica de "Nasce Uma Estrela" é longa e repleta de detalhes interessantes a quem sabe curtir o cinema. Rever, portanto, "A Star Is Born", na versão 54, em exibição no Groff, é uma ocasião de retornar a uma época marcante do cinema e apreciar, além da esplêndida Judy Garland, também outros atores - como um ainda galã James Mason e os ótimos coadjuvantes Charles Bickford como o produtor Oliver Niles e Jack Carson no antipático agente de imprensa Libby.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
4
24/08/1986

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