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Aramis

Quem tem medo de palavrão? (Mas não precisa apelar)

Se algum apaixonado por estatística quisesse fazer uma pesquisa absolutamente inútil mas curiosa poderia levantar quantos palavrões são ditos em "Perversidade Sexual em Chicago". O palavrão, há muito, não assusta ninguém e seria estupidez qualquer interpretação moralizada. Mas não deixa de ser curioso imaginar que um público hipócrita, conservador, incapaz de discutir questões sexuais de forma adulta, com a cabeça feita pela televisão, se extasie com o vomitório de palavrões que a peça de David Mamet está recheada. O palavrão se justifica no contexto de um espetáculo de Plínio Marcos, com seu teatro social, a Mamet, com a forma cruel com que discute o sexo neste texto escrito há 14 anos passados, tudo bem! O que é lamentável é ver um espetáculo que provoca risos cada vez que os personagens dizem palavrões - num achincalhe gratuito. Ary Toledo, Juca Chaves, Costinha e Dercy Gonçalves sempre fizeram isto, com muito mais dignidade. Pensar que há 32 anos, quando a grande Lala Schneider, numa encenação de uma peça de Eugene O'Neil ("Antes do Café") no auditório da Reitoria, chocou a provinciana cidade ao dizer "merda", é curioso ao se ver a forma com que o público, especialmente o feminino, tem orgasmos de risos, ao ver uma personagem como Débora, dizer que sente "o gosto de festa de 15 anos" ao beber o esperma de seu amante. Quem diria? Nada contra o palavrão, o sexo, a crítica. Mas sinceramente, David Mamet não conseguiu prêmios e o prestígio de ser hoje um dos grandes nomes do teatro americano, fazendo textos que, como a montagem que está em cartaz no Guaíra, deturpa. Ao contrário, parece que de intenção original nada ficou, mas o "objetivo" buscado pelos sócios-artistas da companhia Prole de Adão está sendo atingido: casas lotadas e o público (público?) adorando. Pois é! Merecem-se!
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
28/04/1990

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