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Aramis

A questão dos vídeos e o "Elixir do Pajé"

Presente ao XVII Festival do Cinema Brasileiro de Gramado, o cineasta Roberto Farias, vice-presidente do Concine, confirmou que dentro de alguns dias sairá uma resolução disciplinando uma questão que está provocando a polêmica entre as locadoras e distribuidoras: o que pode ser considerado como vídeo de reserva de mercado e o que não vale. Afinal, dentro da necessária proteção do cinema brasileiro, o Concine não vinha aceitando que as locadoras acumulassem vídeos comerciais na linha de ginástica de Luiza Brunet, lições de futebol de Pelé ou receitas domésticas de Pepita Rodrigues. Em compensação, vídeos de qualidade, criados com roteiros originais, muitos inclusive filmados no Exterior - além de trabalhos em ficção - também não podem ser prejudicados: devem preencher a reserva de mercado. Luís Renato Ribas, presidente da Aprevídeo e o pioneiro entre as locadoras no Paraná, levantou a questão e pegou uma briga feia com o Concine - que se refletirá aliás em ataques de parte a parte no número do "Jornal do Vídeo", editado por Oceano Vieira (de Campinas), que circula nos próximos dias. Elegantemente, Roberto Farias, nos disse, em Gramado, que não lhe interessa alimentar polêmicas, com Luís Renato Ribas ou qualquer outro locador - mas sim, "encontrar fórmulas que possam resolver a questão". O Concine não abre mão da reserva do mercado para o cinema brasileiro - mais vai admitir que vídeos, desde que de boa qualidade e criados artisticamente, possam também ser considerados nesta quota. xxx Em Gramado, por coincidência, foi exibido um exemplo de vídeo inteligente, original e que se colocado nas locadoras poderá fazer boa carreira: "O Elixir do Pajé". Roteirizado e dirigido por Helvécio Ratton, 40 anos, cineasta consagrado com seu primeiro longa ("A Dança dos Bonecos"), e que prepara atualmente um novo longa-metragem ("O Menino Maluquinho", baseado no livro de Ziraldo que já vendeu um milhão de exemplares), este vídeo não é, em absoluto, para o público infantil. Ao contrário, é para o público adulto. Foi baseado num poema erótico e maldito do escritor mineiro Bernardo Guimarães (Ouro Preto, MG, 1825-1884). Conhecido especialmente como autor de "A Escrava Isaura" (que já teve duas versões cinematográficas, em 1929/1949, e uma transposição como telenovela, sucesso até na China), Bernardo Guimarães escreveu um poema picaresco, sobre a impotência de um velho pajé - e que nunca constou em sua biografia oficial. Mostrava, porém, o lado boêmio, picaresco, sacana do autor de "O Ermitão de Muquem" - e isto levou Helvécio Ratton a criar um roteiro originalíssimo, no qual três colegiais (interpretadas pelas ninfetas Mônica e Simone Magalhães, mais Ana Ratra), gazeteiam uma aula de literatura e visitam o túmulo do poeta em Ouro Preto. Aliás, uma delas mostra a edição prata do livro - passando então a câmara a focalizar um personagem interpretado magnificamente por Paulo César Pereio (uma das vozes mais características do Brasil) que declama o erótico poema. A declamação começa com ele, nu, numa banheira, e é ilustrado com imagens de um fictício pajé - desenhado pelo artista mineiro Eli Gomes, que para a figura inspirou-se no ator Ruy Palonah (conhecido por constantes atuações no cinema, quase sempre como índio). No final, uma bela imagem: Pereio dirige um velho Ford Bigode, encontra as três colegiais e, como ele havia tomado o elixir miraculoso, o resto fica para a imaginação do espectador. Ao som de um belo arranjo do fox "Trevo de 4 Folhas". Um vídeo de 22 minutos, exemplar em sua criação e que já está tendo cópias legalizadas vendidas. Em Curitiba, infelizmente, ainda nenhuma locadora o possui mas os que tiverem interesse podem solicitar ao grupo Novo de Cinema e TV, Rua Santa Rita Durão, 321, conjunto 101, CEP 140, Belo Horizonte, fone (031) 223-6992.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
8
22/06/1989

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