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Radamés, nosso amigo, e a "Ameríndia"de Conrado

Brasília - Depois da homenagem que Rogério Sganzerla fez ao Poeta da Vila em "Isto é Noel", exibido ontem à noite - antecipando o curta "Projeto Pulex", do gaúcho Tadao Miagui (produzido pelo núcleo de animação do Rio Grande do Sul), e o longa "Ameríndia", do padre Conrado Berning - amanhã, sábado a maior atração no cine Brasília é outro média biografando um dos maiores nomes da música brasileira: "Nosso amigo Radamés Gnaitaili". Afetuoso projeto desenvolvido ao longo de oito anos por Moisés Kendler, 47 anos, ex-assistente de Glauber Rocha em "Terra em Transe", crítico de cinema e do compositor e violonista Aluísio Didier, este filme em homenagem ao gaúcho Radamés Gnatelli (1906-1989) é, como diz um de seus autores, "um documentário musical, registrando um roteiro de apresentações de 1983 até a sua morte há três anos". Apresentando dados biográficos, as participações em filmes como "Tico Tico no Fubá" e "Rio 40 Graus" (ele participou como compositor, músico ou arranjador em mais de 30 filmes), ao longo de 45 minutos, temos uma verdadeira viagem escrita sobre um pentagrama. Apesar de mais de 50 anos de intensa presença musical - nos tempos da Rádio nacional, em gravações, no cinema - Kandler e Didier tiveram dificuldades em conseguir imagens de Radamés. "Só conseguimos algumas imagens no arquivo do Primo Carbonari", explica Didier, 35 anos, há 10 anos maestro e produtor musical da Globo, produtor de discos em homenagem a Gnatalli e da opereta "A noiva e o Condutor", de Noel Rosa. A solução para suprir a ausência de imagens filmadas foi a montagem de fotografias - embora haja seqüências recentes , como a de um encontro de Radamés com Tom Jobim, quando ele toca a música que fez para "Brasa Dormida", de Humberto Mauro. Para a memória musical filmes como "Isto é Noel" e "Nosso amigo Radamés Gnatalli" são documentos importantíssimos, pois a pobreza de documentários ou mesmo reconstituições biográficas ("Chico Viola Não Morreu", sobre Francisco Alves, "A Noite do Meu Bem", sobre Dolores Duran), é total. O fato de ser músico, fez com que Aluísio Didier, ex-integrante do grupo Coisas Nossas (que se dedicava a divulgar a obra de Noel Rosa) realizasse uma homenagem a Radamés que escapou do documentário meramente biográfico. Explica: "Tentamos fazer uma coisa que funcionasse musicalmente e de uma forma poética a partir da sensibilidade e não de dados cronológicos. Tudo se interliga através do toque musical". xxx Se o ex-coordenador da Cinemateca do Museu Guido Viaro, Francisco Alves dos Santos, aqui estivesse presente, por certo um dos filmes que o entusiasmaria seria "Ameríndia - Memória, Remorso e Compromisso", segunda incursão em 35 mm do padre Conrado Berning, 50 anos, alemão naturalizado brasileiro, há 20 anos no Brasil ( em 1988, realizou "Pé na Caminhada", sobre a Teologia da Libertação, premiado no festival de Manheim/Alemanha, já lançado em Curitiba). É que além de amigo pessoal do padre Berning, da Verbo Filmes, o nosso Chico Alves foi, durante os 14 anos que dirigiu a Cinemateca curitibana um conservador preocupado sempre em mostrar as aproximações do cinema e religião. Aliás, a denúncia da forma com que a Fucucu afastou Francisco e quatro outros integrantes da equipe da Cinemateca do MGV, comunicada aqui em Brasília, revoltou dezenas de nomes expressivos - cineastas, jornalistas, dirigentes de instituições culturais etc., já pesarosos com a notícia do fechamento há uma semana da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. O diretor daquela cinemateca, João Luís Vieira, aqui presente, recebeu solidariedade e, é possível que saia um documento, denunciando as constantes violências que idealistas dirigentes de instituições cinematográficas são vítimas da prepotência de pessoas despreparadas - como aconteceu em Curitiba, com Francisco Alves - reconhecido nacionalmente como um defensor do cinema brasileiro. xxx "Ameríndia" - filme realizado a partir de uma vasta documentação reunida pelo cineasta Jesco von Plummer, 75 anos, que é professor na Universidade de Goiás, utiliza imagens dos anos 50 (quando trabalhou com os irmãos Villas-Boas), editadas pela BBC de Londres mas que permaneciam inéditas no Brasil. Conrado Berning - o único padre-cineasta no Brasil - há cinco anos começou o projeto de "Ameríndia", que entusiasmou a Puttkamer, cedendo o seu precioso acervo. O filme traz uma visão crítica em torno do descobrimento da América, examinada através das culturas que existiam no Continente (Incas, Maias e Astecas), os povos da floresta - e a destruição destas culturas pelos invasores (no Brasil e na Bolívia, em especial) e o papel da igreja. Com roteiro de Dom Pedro Casaldaglia, bispo de São Felix do Araguaia, Goiás, e José Oscar Beozzo, música original de Marlui Miranda (e colaboração de Casaldaglia e Pedro Tierra), "Ameríndia" é o filme-emoção deste festival, que não sairá, por certo, sem alguma premiação. O troféu da OCIC - Organização Católica do Cinema (que tem hoje, como vice-presidente internacional o professor e pesquisador mineiro Miguel Tavares de Barros) no mínimo, se aqui fosse concedido, iria para esta produção - que também já é candidata a "Margarida de Prata" da CNBB.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
05/07/1991

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