Login do usuário

Aramis

Rag de Joplin na flauta de Rampal

Quando Marvim Hamlisch, convidado por George Roy Hill para criar a trilha sonora de "The Sting" (Um Golpe de Mestre, 1973) - justamente premiado com o Oscar (categoria de "music-scoring adaptation") há 12 anos, não imaginaria, por certo, que estaria proporcionando que, com atraso de mais de meio século estivesse também resgatando a obra de um dos mais interessantes - mas esquecidos - compositores americanos. Isto porque ao calcar a trilha de "The Sting" sobre o delicioso e movimentado "The Entertainer" de Scott Joplin (Texarkana, Texas, 24/11/1968 - Nova Iorque, 11/4/1917) Hamlisch provocou um imediato interesse pela obra deste pianista e compositor que embora ganhando o adjetivo de "O Rei do Rag Time", não teve, em vida, o prestígio que mereceria. Joplin passou sua juventude trabalhando em cidades do Mississipi e ao chegar a St. Louis tocou em vários honky-tonky - um estilo característico de música ao piano. Em 1893 dirigiu um grupo de World's Columbia Exposition, em Chicago e em 1896 dava cursos de harmonia e composição no George Smith College for Negroes, em Sedalia, Missouri. Desenvolvia então o seu estilo de ragtime, que se tornaria mais conhecido ao final do século, quando John Stark's publicou seu "Original Rag", a primeira destas peças a ter lançamento impresso, logo seguido de um sucesso, "Maple Leaf Rag". Apesar de popularizado, o estilo Rag - identificando-se num estilo comercial - o decepcionou pela exploração que muitos faziam. Preocupado em realizar um trabalho de maior propósito escreveu "A Guest of Honor", uma ópera ragtime encenada em St. Louis, em 1903, e a "Tremonisha", outra ópera rag, que ele próprio produziu e que teve apenas uma montagem no Harlem, em Nova Iorque, em 1911. A redescoberta do rag através do inteligente uso que Marvin Hamlisch fez de "The Entertainer" na trilha de "Um Golpe de Mestre" estimulou dezenas de instrumentistas a buscarem o repertório do Joplin - e até a ópera "Tremonisha" teve novas montagens e gravações (no Brasil, foi editada há cinco anos passados pela Polygram). Entre os músicos sérios e competentes que se interessaram pela obra de Joplin estão os franceses Claude Bolling (piano) e Jean Pierre Rampal, que, nestes últimos anos dedicaram algumas gravações com temas de Joplin - que morreu há 68 anos passados, pobre e alienado, num hospital público de Manhattan. Bolling, excelente pianista e compositor - profundamente identificado ao jazz - tem pelo menos três álbuns com peças de Scott Joplin, num tratamento jazzístico. Igualmente seu amigo, 63 anos, entre uma intensa programação erudita, encontra tempo para se voltar a trabalhos mais populares - como este magnífico lp "em que interpreta alguns dos mais notáveis temas de Joplin, acompanhado por um trio jazzístico: o pianista John Steele Ritter, o baterista Shelley Manne e Tommy Johnson na tuba. É um disco notável por vários motivos. A competência dos intérpretes, o estilo de toda uma época resgatado e a possibilidade de se conhecer mais profundidade o rag, a partir de "Maple Leaf Rag" (1899) e passando a outros temas daquela época - como "Original Rags", "Harmony Club Waltz", "Great Cruhs Collison-March", "The Chrisantemun - An Afro American", "Cleopha-March and Two Step", "The Cascades", "Combination March", "Bethena - A Concert Waltz", "Elite Syncopations" - sem excluir, é claro, o hoje conhecidíssimo "The Entertainer - A Ragtime Two Step", que se ouviu, pela primeira vez há 83 anos passados.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
17/03/1985

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br