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Raul, pioneiro na imigração japonesa

Ao decidir patrocinar a edição de livros sobre médicos notáveis do Paraná, a Fundação Santos Lima, criada pelo professor Eduardo Corrêa Lima em homenagem ao seu avô Manoel Pedro dos Santos Lima (1843-1898) está preenchendo um espaço em nossa bibliografia. Agora, está sendo lançado o sétimo volume, dedicado a Milton de Macedo Munhoz (12-12/1901-10/7/1978), organizado por dois de seus discípulos, Pio Taborda Veiga e Hamilton Lacerda Suplicy (lançamento amanhã, 20h30, na Associação Médica do Paraná). Cada volume da coleção reúne artigos, textos, perfis e depoimentos mostrando as diferentes faces dos médicos paranaenses (ou aqui radicados) que, neste século, têm dado sua contribuição científica e cultural ao Estado. Milton de Macedo Munhoz foi fundador e primeiro presidente da Associação Médica/Conselho Regional de Medicina, pioneiro da radiologia (1928), professor de Higiene Geral e secretário da Faculdade de Medicina na UFP por dez anos (1935-1945), um dos fundadores da Casa de Saúde São Vicente, diretor-geral de Saúde Pública (1946-1956) - único dos integrantes do governo de transição de Mário Tourinho confirmado no cargo, que, passou depois a secretário de Saúde. xxx O volume anterior da coleção "Raul da Costa Carneiro - o amigo carinhoso das crianças" (Fundação Santos Lima/Scientia et Labor, 373 páginas), também organizado por Pio Taborda Veiga, trouxe revelações interessantes sobre o pioneiro da pediatria no Paraná. Um dos aspectos originais que a obra revela sobre Raul da Costa Carneiro (18/2/1882-31/12/1943) foi o seu pioneirismo na colonização japonesa no Paraná. Num texto de Milton Carneiro (1918-1987), incluído no livro, é lembrado que Raul da Costa Carneiro foi o idealizador do projeto de Cacatu, na fazenda que chamou de "Santa Olímpia" e na qual, por dez anos se tentou um projeto de colonização dos japoneses. O interesse de Raul pela vinda de imigrantes asiáticos para o Brasil nasceu quando estudava na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e havia grande controvérsia em relação ao projeto de estimular a vinda de japoneses, capazes de substituir a mão de obra dos escravos. As duas primeiras tentativas de promover a imigração japonesa foram realizadas em 1894 e 1901, mas ambas fracassaram. Só a partir de 1908 é que começou a emigração organizada, sendo que no prazo de 10 anos chegaram ao porto de Santos cerca de 25.262 japoneses - e destes, 60 famílias vieram para o Cacatu, ali somando cerca de 200 pessoas. O administrador da fazenda era um engenheiro japonês, Hachegawa Takechi e por iniciativa do médico-empresário, foram construídas casas com iluminação elétrica, um posto de puericultura e alcançava-se a fazenda pelos rios Limoeiro e Cachoeira, por onde também escoava-se a produção. Assim, garante Newton Carneiro em seu texto, a fazenda Santa Olímpia foi o marco inicial da entrada de japoneses no Paraná ("Todos os outros projetos e iniciativas, especialmente os do Norte do Estado foram posteriores a 1920"). Um dado importante de ser lembrado agora que se comemora os 80 anos da imigração japonesa no Brasil. xxx Ridículas as posições de personalidades ilustres, inclusive de membros da Academia Nacional de Medicina, contrárias à imigração dos asiáticos. Numa mensagem enviada à Câmara dos Deputados, a Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo fazia uma afirmação digna de figurar no febeapá do inesquecível Stanislau Ponte Preta: "Os aborígenes da Ásia, qualquer que seja seu valor, são absolutamente inassimiláveis no Ocidente, por diferenças fundamentais de religião, de língua, de índole". Na época, a imigração japonesa já era organizada para os EUA, Canadá, Caribe e até o Havaí. A tentativa de Raul da Costa Carneiro no setor agrícola durou uma década, pois, como diz o texto de Newton Carneiro, "ao êxito agronômico não correspondeu a indispensável rentabilidade, por isso que a acentuada e alarmante alta no preço dos gêneros alimentícios - que ocorreu a partir de 1919, com o término da I Guerra Mundial, levou o governo a importar arroz, o que tornou economicamente deficitária a rizicultura nacional".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
15/06/1988

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