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Aramis

Raulzinho, um trombone internacional (dos búfalos do Passeio à Califórnia)

Quando era sargento da Força Aérea Brasileira, como integrante da Banda de Música da Escola de Oficiais e Especialistas e Guarda, Raul de Souza aumentava seu soldo de militar, tocando em boites de Curitiba e na orquestra de Osval Siqueira, nos anos 50 e primeira metade da década de 60, a melhor que existia no Paraná. Entre as boites em que atuava, estava a Tropical, em pleno Passeio Público, então explorado pelo godather Paulo Wendt (1914-1967). Ali, Raulzinho - como o sargento Raul de Souza era conhecido - obrigava-se a conter toda sua criatividade instrumental e com seu trombone de vara, solar bolerões para que os endinheirados freqüentadores pudessem mostrar suas habilidades de românticos dançarinos. Contendo sua vocação jazzística , Raulzinho compensava-se ao terminar o seu trabalho e, por brincadeira, dedicava longos solos de trombone aos búfalos que então habitavam uma das "ilhas" de nosso Zoo. Os anos passaram-se: Raulzinho deixou a FAB, recusou convites para trabalhar com Friedrich Gulda, em Berlim, integrou durante alguns anos o grupo R-7, acompanhando o cantor Roberto Carlos e, finalmente, há 4 anos, seguiu para os Estados Unidos, a convite de um amigo paranaense - o guarapuavano Airto Guimorvan Moreira, hoje o percuasionista latino-americano de maior prestígio internacional. Em outubro do ano passado, nos estúdios Fantasy, em Berkley, Califórnia, Raul fez, afinal seu primeiro lp-solo, produzido por Airto, com arranjos de J.J.Johnson e tendo como solista convidado Julian "Cannoball" Adderley (1927-1975). Entre os sete temas gravados, Raulzinho inclui justamente um que, de certa forma, é bastante curitibano: chama-se "Walter Buffalo" (4;44) e pelo nome (Budalo aquático), já consitui uma lembrança aos tempos em que fazia serenatas jazzísticas ao búfalos do Passeio Público - mais sensíveis à sua arte do que o público curitibano da época. Representando mais uma consagração (lá fora) a um instrumentista que era ignorado em Curitiba, o lp "Colors" (Milestone M-9061, edição importada, só encontrada em lojas do Rio e São Paulo, Cr$ 160,00 o exemplar) já vem sendo cotado pela rigorosa crítica norte-americana como um dos elepes mais importantes lançados no primeiro semestre. Tocando ao lado de instrumentista notáveis como Richard David (baixo), Jack Dejohnette (bateria) e Cannoball Adderley (falecido há poucas semanas), Raul de Souza mostra ao longo das sete faixas de seu disco - "Nana" (Moacir Santos/Mario Telles), "Canto De Ossanha" (Vinicius-Baden Powell), as inéditas "Water Buffalo", "Dr. Honoris Causa" (Joe Zawinul), "Festival" (Jack DeJonhette), "Crystal Silence" (Chick Corea) e "Chants to Burn" (Barry Finnerty), que o seu talento, tão pouco entendido nos 15 anos em que residiu em Curitiba, teve reconhecimento internacional. E depois de Guimorvan, surge mais uma estrela musical nos Estados Unidos que, se não, nasceu no Paraná, foi aqui que teve sua grande formação instrumental. Apesar do público das boites e bailes, que reclamava de seus "solos longos e difíceis de entender". Pois é....
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
4
26/08/1975

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