Login do usuário

Aramis

A real antologia do Quarteto em Cy

Em onze anos, o Quarteto em Cy tem sido um exemplo das transformações que caracterizam a maioria dos grupos vocais a proporção que vão alcançado o sucesso sofrem distenções internas, substituições, que chegam, ao fim de algum tempo a marcar o final dos grupos. Com o Quarteto em Cy, felizmente, ao menos o nome e 50% do original resistiu aos mais diferentes problemas numa década de atividades intensas. Ouvindo-se agora "Antologia do Samba canção" (Philips 6340133, julho/75), sente-se que se substituições houveram, se o Quarteto em Cy apresentou problemas em 11 anos de existência , hoje está melhor do que nunca. Segunda-feira à noite, por telefone, Dorinha Tapajós, nos contava de que o grupo inicia em setembro um novo tipo de trabalho, com João Bosco. Um trabalho que promete muito sem dúvida, já que o Quarteto em Cy é hoje, como prova neste belíssimo disco - para nós, o melhor de música vocal editado até agora no Brasil, neste ano - não só o melhor grupo vocal feminino - mas um dos melhores conjuntos vocais destes últimos anos. O Quarteto em Cy nasceu na cidade de Ibirataia, interior da Bahia, formado por quatro irmãs de família Ribeiro de Sá Leite: Cyra, Cynara, Cybelle e Cylene. Descobertos nos programas de rádios de Salvador, chegavam ao Rio em 1964 e logo faziam um elepê na Forma, produzido por Roberto Quartin e com o aval de Vinícius de Moraes, que dizia: "Se eu pudesse casava com estas quatro baianinhas". Em 1966, a primeira modificação: Sylene casou com um médico e foi morar em Araraquara, SP (onde está até hoje, com seus três filhos) e foi substituída por Regina Werneck (hoje sra. Oscar Castro Neves). Em 1968 o grupo foi para os Estados Unidos, mas Cynara - já casada com Ruy, líder do MPB-4, 2 filhos não quis viajar e Cybelle também saiu do grupo: casou com um radialista baiano e voltou para Salvador. Foram substituídas por Semirames Rubim e Sonia Albuquerque. Nos Estados Unidos, em 1969, Sandra Machado substituía a Semiramis. Três anos depois o grupo, de volta ao Brasil, tinha sua nova (e ainda atual) reestruturação: Cyva, ex-exposa de Aloysio de Oliveira (1968/72), a única do grupo original a participar de todas as fases; Cynara, Sonia Albuquerque e Dorinha Tapajós (filha do modinheiro Paulo Tapajós, ex-Umas & Outras) ao lado de Maria Luisa Balone e Regininha Serra de Sousa). Em cada uma destas fases o Quarteto em Cy gravou diversos elepês, alguns inclusive produzidos por Aloysio de Oliveira, nos Estados Unidos. Mas, nos últimos três anos, com profundo senso crítico, o conjunto estava procurando solidificar novamente o prestígio: um elepê feito na Odeon, em 73, não alcançou os resultados esperados e assim em 74, fizeram apenas compactos na Philips, um dos quais com "As Cantoras de Rádio" (Hermínio Bello de Carvalho/ Maurício Tapajós), enquanto acompanhavam Vinicius de Moraes e Toquinho, em excursões de sucesso. Finalmente, em maio deste ano, o grupo sentiu-se em condições de fazer em elepê maduro. Um elepê produzido com muito amor por Paulinho Tapajós, irmão de Dorinha, realizado com esmero. E se o MPB-4 havia sido muito feliz em sua "Antologia do Samba", um dos melhores lps do ano passado, este "antologia do Samba canção" é daqueles álbuns perfeitos, que mostram toda a grandeza da canção brasileira. Graças a montagem com potpourri, foi possível reunir 23 clássicos de dez autores da maior importância do cancioneiro nacional. O lado um abre com Antonio Maria (1921-1964) ("Ninguém Me Ama" e "Se Eu Morresse Amanhã"), prossegue com Ary Barroso (1903-1964) ("Rancho Fundo, "Rique e "Folha-Morta"), Garoto (Anibal Augusto Sardinha) (1915-1955) ("Duas Contas" e "Gente Humilde"), numa primeira homenagem aos compositores que já se foram. De Tito Madi, três de suas mais perfeitas curtições de amor: "Não Diga Não". "Cansei de Ilusões" e "Fracassos de Amor". No potpourri de Jair Amorim, com "Ponto Final" e "Alguém como Tu", a perfeita participação do MPB-4. No lado 2, Lupicinio Rodrigues (1914-1974), com "Vingança", "Nunca" e "Esses Moços" (Pobres Moços). Em seguida, Herivelto Martins ("Caminhemos", "Segredo"), Carlos Lyra ("Primavera" e "Minha Namorada"), Johnny Alf ("Eu e a Brisa" e "Ilusão à Toa"), para encerrar, muito naturalmente, com Dolores Duran (1930-1959): "Por Causa de Você" e "Ternura Antiga". Difícil dizer o que é melhor neste elepê perfeito: o repertório, os arranjos, a discreta (mas exata) participação instrumental, o bom gosto da capa (a exemplo da "Antologia do Samba", com lúcidos textos sobre cada compositor incluído, aqui elaborados pelo querido amigo Paulo Tapajós). Mas, o mais notável, é que se ouve este disco com enorme prazer, como se embalados num tapete mágico voador sobre um mundo de paz e amor - transmitindo nas vozes perfeitas de Cyva, Cynara, Sonia e Dorinha. Vários foram os arranjadores convocados: Oscar Castro Neves (pot-pourri de Antonio Maria, Tito Madi), Luiz Claudio Ramos (pot-pourri de Ari Barroso, Garoto, Jair Amorim, Carlos Lyra e cordas de Dolores Duran), Magro (MPB-4) (Jair Amorim), Miltinho (MPB-4) (Herivelto Martins e Johnny Alf).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
43
10/08/1975

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br