Login do usuário

Aramis

Refilmagem daquilo que os franceses acertaram

Já tendo reverenciado a Federico Fellini ("Alex in Wonderland", há 17 anos, inclusive com a participação do homenageado, num filme que devido sua longa e injustificável proibição no Brasil, quando liberado, aqui passou despercebidamente) e Truffaut na sua visão jovem e americana de "Jules e Jim" (Willie e Phil), Mazursky, após uma recente sátira dos desajustes de um dissidente russo nos EUA ("Moscou em Nova Iorque"), optou pela refilmagem de um antigo vaudeville francês: "Boudou sauvé des eaux" de René Gauchois. Em 1932, Jean Renoir (1894-1979) havia levado esta comédia ao cinema, com o extraordinário Michel Simon (1895-1975) interpretando o vagabundo Boudou que se instala na mansão de um rico livreiro (Charles Graval) e seduz sua mulher e a empregada. No final, o anfitrião obriga-o a um casamento com a serviçal - solução diferente daquela que no roteiro de Mazursky e Capetanos está em "Um Vagabundo na Alta Roda". Há 55 anos, o tema não deixava de ser escandaloso para o conservador cinema francês da época e só a partir de 1945 é que "Boudou Sauvé Des Eaux" teve seu reconhecimento, tornando-se um cult movie dos cineclubistas parisienses. Mazursky, mostrando ser culturalmente bem informado, foi buscar esta experiência para seu novo filme, dentro de uma tendência que se acentua cada vez mais: as refilmagens americanas de filmes que deram certo na França. Por exemplo, atualmente Coline Serreau está nos EUA preparando para a Fox a refilmagem de seu "Três Homens e Um Bebê", o maior sucesso de bilheteria em todos os tempos na França, e que após representar aquele país no II FestRio, agora deve ser lançado no Brasil. Rubens Ewald Filho, sempre bem informado, lembra que esta mania de refazer filmes europeus especialmente franceses, começou há tempos. Nos anos 40/50 houve "Argélia" (que era "Pepe le Moko, com Charles Boyer em vez de Jean Gabin), "Desejo Humano", e "Almas Perdidas", ambos de Fritz Lang, refilmagens respectivamente de "A Besta Humana" e "La Chienne", de Jean Renoir. Mas a coisa cresceu ultimamente, incluindo "A Força do Amor" (Breathless), de Jim McBride, refilmagem de "Acossado" de Godard (1959); "Meu Problema com as Mulheres", de Blake Edwards, retomando a idéia de um dos melhores filmes de Truffaut ("O Homem que Amava as Mulheres", 1977); "A Dama de Vermelho", de Gene Wilder (que era antes "O Doce Perfume do Adultério", de Yves Robert) - um dos maiores sucessos de bilheteria dos últimos anos; "O Brinquedo", de Richard Donner ("Le Jouet", de Francis Veber); "Blame it on Rio", de Stanley Donen (que apesar de rodado no Brasil há 3 anos, aqui permanece inédito) - inspirado em "Un Moment de Egarement", de Claude Berri); "Amigos, Amigos, Negócios à Parte", de Billy Wilder ("Fuja Enquanto É Tempo", de Edouard Mollinaro); "O Homem do Sapato Vermelho", de Stan Dragotti - recentemente lançado no Plaza ("Loiro, Alto de Sapato Vermelho", de Yves Robert); "Crakers", de Louis Malle (inédito no Brasil), que atualizou "Os Eternos Desconhecidos", de Mario Monicelli.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
14/01/1987

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br