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Aramis

Reflorestamento, o tema desta Cantata

Já por várias vezes foram feitas tentativas de divulgar o riquíssimo catálogo de música erudita da Melodia, a principal etiqueta estatal da URSS, no Brasil. Oferecendo as melhores gravações dos grandes instrumentistas russos, em produções esmeradas, a Melodia não tem preocupações de lucros - embora, por uma questão de respito aos direitos autorais, exija, obviamente um percentual nas vendas. Acontece que algumas gravadoras basileiras, que no passado lançaram os discos da Melodia esqueceram de fazer os pagamentos devidos. Nem por isto, entretanto, houve um rompimento definitivo e a prova é que agora o catálogo da marca russa foi entregue à respeitadíssima Ariola/ Barclay, que com orientação do profissional que mais entende de edições clássicas no Brasil, Maurício Quadrio, está fazendo cuidadosos lançamentos. Graças a isto, por exemplo, temos "A Canção da Floresta, a primeira obra coral de amplas proporções composta por Dimitri Shostakovich (1906-1975), numa interpretação excelente de Vladimir Ivanovsky, Ivan Petrov, o coro da Escola Coral Infantil de Moscou, o Coro Acadêmico Estatal Russo e a Orquestra Sinfônica, sob regência de Alexander Jurlov. A estréia mundial desta obra aconteceu no dia 26 de outubro de 1949, em Leningrado. Essa obra, classificada como "Oratório Popular", utiliza meios de expressão do folclore e da canção política e é representativo da linha cultural oficial da época. O texto (de Eugem Dolmotowski) exalta o programa de reflorestamento da União Soviética, depois da II Guerra Mundial, para recuperar as áreas devastadas pelo conflito. Como acentua Maurício Quadrio, em sua lucidez de sempre, "o alternar o entrelaçar-se dos diferentes planos sonoros é uma das características da obra, que faz uso extensivo de dois elementos melódicos principais. O primeiro é um tema cíclico enunciado no início da introdução orquestral; o segundo manifesta-se pouco antes do solo do baixo "Com a vitória veio o fim da guerra" e volta, sob diferentes formas, no desenrolar-se de toda a obra. Finalmente os dois temas se encontram, no coro e na orquestra, na apoteose conclusiva. O Oratório está dividido em sete seções, cada qual abordando dentro de uma rítmica e atmosfera popular os episódios descritos pelo poeta. Na primeira parte comenta-se o fim da guerra e o gigantesco projeto de reflorestamento dos territórios a Sudeste de Stalingrado e da Rússia Central. Na segunda evoca-se a participação do projeto. Segue um segmento melancólico ao lembrar as misérias e destruições deixadas pela guerra. A este, sucedem-se claras vozes infantis que dissipam as névoas do passado, cantando alegremente enquanto participavam do trabalho do plantio. Na quinta parte são os cidadãos de Stalingrado, integrados na magna tarefa. A sexta parte é um canto pastoral exaltando a sedução da Natureza na Primavera. Todas as forças vocais e instrumentais reúnm-se, finalmente, numa fuga magistral para a vitória do reflorestamento. "A Canção da Floresta" (Pjesn O Lessach) foi composta pouco depois da volta de Shostakovich dos Estados Unidos, onde participou, como mebro da delegação soviética da Conferência Científica e Cultural pela Paz Mundial, realizada em 1949, em Nova Iorque, e rcebeu o "Prêmio Stalin de Primeira Categoria" (o terceiro do compositor), juntamente com a trilha sonora para o filme "A Queda de Berlim". Ao morrer, há nove anos passados, Shostakovich deixou imensa e admirável obra: 15 sinfonia, 15 quartetos, óperas, bailados, música de cena, trilhas-sonoras para cinema, obras-vocais de câmara, cantatas. Enfim, não houve gênero a que não se dedicasse com sua capacidade criativa e inesgotável talento. Embora existam já algumas gravações de suas obras, em lançamentos feitos no Brasil, a edição no Brasil da gravação feita na Melodia, em 1968, sob a regência de Alexandre Jurlov, constitui uma oportunidade especial para se conhecer uma de suas mais significativas obras. O elpê lançado pela Ariola/Barclay, traz na capa a reprodução de "Carvalhos", pintura de Shishkin, um dos mais valiosos quadros da galeria Iretjakov, em Moscou.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Nenhum
21/01/1984

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