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Aramis

Renúncia de Rischbieter e influências no poder

- Para onde vai Rischbieter ? Desde terça-feira, quando foi confirmada a renúncia do ministro da Fazenda, a pergunta vem sendo repetida em vários círculos. E, obviamente, as mais diferentes versões também correm: ontem, havia quem garantisse que Rischbieter já teria recebido convite do próprio presidente João Figueiredo para ser o próximo embaixador do Brasil na República Federal da Alemanha, em substituição ao embaixador Jorge de Carvalho e Silva. Mesmo sem pertencer aos quadros do Itamarati, Rischbieter reuniria condições para o importante cargo: fala tão bem o alemão como o português (além de inglês, francês, espanhol e mesmo italiano) e já morou alguns anos naquele país, como chefe do escritório do Instituto Brasileiro do Café, quando Leônidas Bório era o presidente da autarquia. Hoje a embaixada do Brasil na Dreizehnmmorgenweg 10, Bad Godsberg, Bonn, é uma das mais importantes do mundo, pelo acordo nuclear entre os dois países e os múltiplos interesses econômicos-diplomáticos. E nos últimos anos - desde quando assumiu a presidência do Banco de Desenvolvimento do Paraná, Rischbieter tem viajado muito à Alemanha e, hoje, talvez seja um dos brasileiros mais bem relacionados naquele país. O fato de não ser diplomata de carreira não é empecilho para sua nomeação: basta que o presidente da República decida, o ministro Ramiro Elysio Saraiva Guerreiro, das Relações Exteriores, aceite e o Senado aprove, para haver a substituição. Mas esta é apenas uma das muitas hipóteses sobre o futuro de Rischbieter, cuja decisão de renunciar ao Ministério da Fazenda - privando assim o Paraná do único cargo do primeiro escalão que possuía - foi demoradamente pensada, analisada e discutida. Há 20 dias, segundo amigos íntimos de Karlos Rischbieter, ele se mostrava mais irritado do que no último sábado, quando, entre outras pessoas de seu círculo de relacionamento, esteve demoradamente com o prefeito Jaime Lerner. Com as esposas Karlos e Lerner jantaram no modesto restaurante "Floresta Negra", no Setor Histórico de Curitiba, onde, do aperitivo à sobremesa, o tema foi a decisão que ele oficializaria 72 horas depois. Segunda-feira, em Brasília, Karlos esteve numa reunião à portas fechadas, por mais de 3 horas, com o governador Ney Braga. E na terça-feira, pouco antes do almoço, telefonou ao governador, confirmando a entrega da carta-renúncia. Ney comentou, no telefone: - No Paraná, V. sabe que qualquer cargo está à sua disposição. - E, em tom amistoso, para quebrar um pouco a tensão, acrescentou: - Até o meu cargo, aqui no Palácio Iguaçu... xxx Convites de grupos empresariais, interessados em contar cm seu know-how, relacionamento internacional e experiência não lhe faltam, mas, em termos familiares, é possível que Rischbieter prefira permanecer em Curitiba. Tanto é que só este ano é que seus dois filhos - Mônica e Lúcio, iriam transferir-se para Brasília, há que ambos tinham sido aprovados nos exames vestibulares: Mônica, também aluna de balé, no curso de psicologia da Faculdade Tuiuti e o garoto, no curso de geografia da Universidade Federal do Paraná. Sua esposa, a engenheira Maria Francisca Garfunkel Rischbieter - única filha do casal Paul-Helene Garfunkel, ele pintor consagrado, ela diretora da Aliança Francesa há mais de 30 anos, também permaneceu em Curitiba, entre outras razões, por ser a principal assessora técnica do prefeito Jaime Lerner. Respeitada e admirada como uma das mulheres mais inteligentes e sinceras do Paraná, a opinião de "Francetti" - como é conhecida, sempre foi decisiva na área municipal, desde quando trabalhava no Instituto de Pesquisas e Planejamento Urbano de Curitiba, o qual integra desde sua criação. A presença de Francetti no staff de Jaime Lerner sempre foi, publicamente, reconhecida como um dos fatores mais importantes para o sucesso de medidas da maior importância. Seu bom senso, sua independência em fazer colocações necessárias, abstraídos problemas políticos, sempre a fizeram uma pessoa da maior confiança e respeito de todos que a conhecem e, por isso mesmo, a admiram. xxx Na área da iniciativa privada, ainda dentro das especulações que fervilham na cidade, Karlos já teria convite do empresário Orlando Kaesomodel, hoje um dos mais sólidos grupos econômicos do Estado e que, inclusive, foi nomeado por Rischbieter para integrar o Conselho Monetário Nacional, na vaga anteriormente ocupada pelo ex-governador Jayme Canet Jr. - e que, em termos oficiais, se destinaria a um representante da pecuária. Kaesomodel, entre outras empresas, está ligado à Placas Paraná, hoje, com participação de uma multinacional francesa - uma das razões que faria Rischbieter declinar convite para ocupar qualquer função neste grupo, já que, segundo disse por várias vezes, não desejaria, na iniciativa privada, ligar-se a multinacionais para evitar, justamente, acusações. Antes de retornar à vida pública, Rischbieter foi um dos principais executivos do grupo econômico de Leônidas Bório, que inclui, entre outras empresas, a Paraná Equipamentos S/A, mas também nesta área, é improvável qualquer vinculação profissional do ex-ministro da Fazenda. xxx Um dos idealizadores da Companhia de Desenvolvimento do Paraná - depois Badep, que veio presidir por alguns anos (em sua administração, em 1972, foi inclusive adquirido o prédio na Avenida Vicente Machado, comprado do grupo de seguros Boa Vista por Cr$ 10 milhões, assunto discutido na época, mas que, graças a inflação, foi um excelente negócio para o Estado). Funcionalmente, Rischbieter é engenheiro do Badep e caso reassumisse as funções, seu salário estaria entre Cr$ 60 a Cr$ 70 mil, considerando o tempo de serviço. A hipótese de voltar a presidir o Badep - em substituição a Euro Brandão (que por sinal encontra-se em férias), também é longínqua, assim como ocupar qualquer outra função executiva nesta área. Mas, para experientes analistas políticos, a saída de Rischbieter do Ministério da Fazenda poderá ter reflexos na propalada - embora negada oficialmente - reforma do Secretariado. A reformulação partidária, ajustes necessários (e indispensáveis) para acomodar as várias correntes, podem pesar muito nos próximos 50 dias e alterar a equipe que Ney Braga formou há um ano, e, que, com raras, exceções - no terceiro escalão - praticamente não sofreu ainda nenhuma modificação, apesar de, constantes, boatos circularem a respeito - chegando a preocupar muitos setores menos seguros de sua eficiência e mesmo confiança junto ao chefe do Executivo Estadual. xxx A posição do governador Ney Braga, em termos públicos, está sendo de prudência, evitando comentários que possam tomar repercussão nacional. Na terça-feira, inclusive, confiou ao secretário Cleto de Assis, da Comunicação Social, a missão de falar a jornalistas, com uma declaração bastante prudente. Entretanto, há também respeitados analistas políticos, entre os quais o jornalista Samuel Guimarães da Costa, 59 anos, 41 de imprensa, que pensam que o governador Ney Braga deveria fazer um pronunciamento incisivo, tomando uma posição aberta e clara, não só em favor de seu amigo Rischbieter, mas mostrando, em termos nacionais, sua independência e dimensão de estadista. Ministro de Estado por duas vezes, ex-prefeito, ex-deputado federal, ex-senador e ex-governador - sempre pelo voto direto, agora, pela primeira vez, no incômodo cargo de governador nomeado, Ney Braga tem um lastro político que o credencia a emitir opiniões de grande repercussão. E neste momento, poderia tomar uma posição de grande repercussão, embora no difícil jogo político sempre sejam delicadas tais questões. Samuel, que está assumindo a editoria da revista "Panorama" - a qual pretende transformar num veículo de grande prestígio e opinião em 6 meses (como foi, há 20 anos passados, quando era oposição ao então governador Moysés Lupion), acompanha a política do Paraná desde 1945 e, direta ou indiretamente, assessorou a todos os governadores - com seus profundos conhecimentos de história, política, economia e sociologia do Estado, aliado à um texto perfeito. Atualmente está concluindo um livro sobre a política no Paraná intitulado "Ney e a Abertura", onde, Ney Braga merecerá um dos capítulos. Poucas pessoas conhecem tão bem a realidade paranaense - e o jogo da política e do poder - como o veterano "Samuca", que, por mais de 3 anos, foi chefe da Casa Civil no governo Paulo Pimentel, num período em que conciliou as mais diferentes correntes. Admirado e estimado mesmo pelas pessoas que, profissionalmente, tenham merecido suas críticas, as ponderações de Samuel são das mais respeitáveis e, embora sem ter contato direto com Ney Braga há 6 meses, acredita que já está na hora do governador do Paraná ter posições políticas de repercussão nacional, que o diferenciem do anonimato dos outros governadores-biônicos, pela própria característica de Braga ser um administrador e estadista de prestígio nacional. LEGENDA: Para onde vai Rischbieter ?
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
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18/01/1980
1. HÁ MAIS DE 20 ANOS, NUM LEILÃO, COMPREI AQUARELAS DO ARTISTA GARFUNKEL. 2. PELA PESQUISA GOOGLE FIQUEI SABENDO QUE O DR. RISCHBIETER FOI GENRO DO ARTISTA. 3. ESTIMARIA TER MAIORES INFORMAÇÕES SOBRE O ARTISTA. 4. CORDIALMENTE, SERGIO LUIZ MONTEIRO SALLES, BRASILEIRO, CASADO, OAB/SP 7835, NASCIDO AOS 06.AG.28 .

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