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Aramis

A resistênci a de Farias

A passagem ,mesmo que rápida, do cineasta Roberto Farias, 47 anos, por Curitiba, na quinta e sexta-feira, foi uma nova oportunidade de se ouvir, com dados que chegam a ser estarrecedores, detalhes até hoje, não divulgados da verdadeira guerra de bastidores, em que foram utilizadas as mais sórdidas armas, provocada pelos interesses multinacionais contrariados pelo diretor de "O Assalto ao Trem Pagador" nos 4 anos que permaneceu na presidência da Embrafilmes. Se em seus cinco primeiros anos nada menos do que seis presidentes se sucederam na direção da empresa - inicialmente Instituto Nacional de Cinema, só o fato de arias, fluminense de Nova Friburgo, 29 anos de cinema, 11 longas-metragens realizados entre 1957/73, ali ter permanecido, com força, no governo Geisel, já mostram que a sua presença no órgão foi das mais corajosas. Quando assumiu, havia apenas 84 dias para os filmes nacionais, número que agora está em 180 dias, Enfrentando as maiores pressões - inclusive da vida ao Brasil de Jack Valent, presidente da Motion Pictures, que tentou ser recebido pelo presidente Ernesto Geisel, Farias conseguiu aprovação de leis que abrirão, definitivamente, o mercado para o campo de curta-metragem - a melhor escola para novos cineastas. Em breve, em todo o Brasil, será obrigatória a projeção de um curta-metragem, de categoria especial, cada vez que for exibido um filme estrangeiro, cabendo ao produtor do curta 5% da renda da sessão. Essa exigência foi, o que o próprio Farias classifica de a gota d`água nas pressões que o levaram a ser substituído na presidência da empresa, há umas 3 semanas, pelo diplomata Amorim, a quem, ao passar o cargo, avisou: "Você vai montar um cavalo brado!". As leis que o Embrafilmes conseguiu em favor do cinema brasileiro alarmaram os grupos internacionais ligados a produção, pelo exemplo que começaram a dar a outros países - como a distante Austrália - igualmente há anos sufocados por interesses de ocupação das datas dos cinemas por fitas estrangeiras. Aliás, lucidamente Farias não é contra o bom cinema internacional - ao contrário, como toda pessoa inteligente admite influências dos melhores cineastas em sua formação. O que sempre o preocupou foi ação nefasta dos chamados "importadores independentes", geralmente homens despreparados que nos festivais de Cannes, Berlim, etc, adquirem subprodutos, realizados "ao estilo" dos filmes americanos de sucesso - os kung-fu, bangue-bangue spaghetti, Bind etc. - e que v6em inundar o mercado. Em compensação, obras como "os Palhaços", de Fellini, ou "Cecilia"- baseado no romance-pesquisa do jornalista Newton Staller de Souza, cuja ação se passa em Palmeira. PR, realizado por um cineasta francês, jamais chegam às nossas telas. Descansando após 4 anos de pressões das mais violentas, preparando-se para voltar a filmar - não decidiu ainda qual será o tema de seu filme - Farias esteve em Curitiba a convite de um grande amigo, Cleto de Assis, secretário da Comunicação Social, com o qual combinou o pré-estréia, para fins beneficentes, de uma nova produção de seu irmão Reginaldo, "Maneco, o Super Tio", de Flávio Migliaccio - e que se destina a faixa infantil de público. Eventualmente, também colocaram filmes a disposição de dona Nice Braga, para estréias em fins beneficentes, os produtores Anselmo Duarte ("Pelé Luta contra o Crime/Os Trombadinhas") e Oswaldo Massaini ("O Caçador de Esmeraldas", de Osvaldo de Oliveira). "Trata-se de uma forma de homenagear a Ney Braga que, como ministro da Educação e Cultura, foi o único a ter coragem de enfrentar poderosos grupos em defesa de nosso cinema", diz Farias, que, não esconde a mágoa com seus colegas, cineastas, produtores, etc., que se deixaram envolver em campanhas difamatórias, e que procuraram solapar seu trabalho: com exceção de Nelson Pereira dos Santos, praticamente ninguém o apoiou quando mais precisava. Ficou sozinho, mas resistiu até onde pôde e, corajosamente, vai se voltar, novamente, a direção, ele que, sempre, viveu única e exclusivamente como cineasta, desde os 17 anos, quando começou a trabalhar como nas mais modestas funções na equipe de Watson Macedo. Seus 30 anos de cinema serão comemorados em 1980, com a realização de uma retrospectiva de sua obra, organizada pelo Museu da Imagem e do Som, em Curitiba, e a estréia do filme que inicia ainda este ano.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
29/04/1979

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