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Aramis

Retrato de Assis Brasil como grande compositor

A música instrumental continua a abrir seus espaços. Pequenas mas ativas etiquetas - como O Som da Gente, Vison, Kuarup, as recentes Chorus e Caju, além da sofisticada L'Art, entre outras, tem feito edições esmeradas, passando do vinil para o CD e chegando a lançamentos internacionais. Hoje dedicamos o espaço a mais alguns discos nesta faixa, em sua linguagem universal. Começamos, com "Self Portrait", efetiva homenagem que o pianista João Carlos Assis Brasil dedica ao seu irmão gêmeo, Victor Assis Brasil (Rio de Janeiro 1945-1981), saxofonista, compositor, arranjador - tão estimado amigo que, por uma longa permanência curitibana, aqui deixou gratas recordações. Múltiplo instrumentista - ainda criança, estudavam bateria, acordeon, gaita-de-boca e, aos 17 anos ganhou de uma tia um saxofone, instrumento em que se aprimorou dois anos mais tarde com Paulo Moura. Em 1966 chegou às finais do festival internacional de jazz organizado por Frederich Gulda em Viena, iniciando uma carreira internacional que, se não fosse a morte prematura, o teria colocado, hoje, no ranking dos melhores músicos de jazz contemporâneo. Ao morrer, em abril de 1981, Victor havia gravado oito elepês, mas mais como intérprete do que como compositor. E ele deixou mais de 400 partituras inéditas que, felizmente, agora começam a ser conhecidas. Em "Self Portrait" (Kuarup, setembro/90), seu irmão João Carlos, mais Paulo Sérgio Santos (clarinete/sax), Zeca Assumpção (baixo) e Jurim Moreira (bateria) formam o Assis Brasil Quarteto, trazendo uma amostragem da sua imensa obra no disco "Self Portrait" - produção de Mário de Aratanha e que seria um show especial no suspenso Free Jazz Festival - estão 13 temas afetuosos criados entre 1971/79, extraídas de apenas três cadernos que há anos estavam em duas malas comuns, com 50 quilos de partituras, guardadas na casa de dona Elba Assis Brasil. Quando João Carlos se deteve nelas teve uma surpresa: sabia que Victor compunha - tendo inclusive feito trabalhos para cinema e televisão - "mas nunca o imaginei um compositor deste quilate", diz João. - Nunca pensei que pudesse ter escrito tanta coisa assim. Este disco é apenas a ponta do iceberg. Em longas conversas que tivemos madrugada afora, tendo por testemunha a grande Rose Rogoski, companheira e amiga de Victor em alguns de seus melhores dias quando ele aqui morou, o músico nos falava de sua obra e lamentava que muitas peças orquestrais, escritas nos anos em que estudou em Berkeley e outras cidades, dificilmente poderiam serem apresentadas no Brasil. Assim, este "Self Portrait" nos chega com profunda emoção, pois são temas dedicados afetuosamente a músicos que admirava - como Bill Evans e Oliver Nelson - à mãe Elba, ao lado de "tunes" escritos para harmonização posterior ("Self Portrait", os "Blues", "Samba", "Alemdrix", "Scattered Cloud"), três peças acabadas para piano: "Fast/Slow/Fast", "Moderato Valsa" e o "Jazz Sonata" (estas duas com partitura impressa no encarte do LP). Há esboços como "Motif" e "Choral nº 1", que virou abertura de seu Concerto para Piano e Orquestra, ainda escondido nas malas do tesouro. Afinal, há concerto para sax e orquestra, peças orquestradas para big-band, dois quartetos de cordas, um quarteto de sax, enfim, material que se Mário de Aratanha pudesse, produziria em discos imediatamente. Afinal, com entusiasmo, afirma: - "Este disco é o primeiro piloto. Se tudo correr bem, nossa intenção é gravar outros, e sempre que possível editar também as partituras soltas ou compiladas em songbook. Estamos procurando patrocínio". LEGENDA FOTO - Quarteto Victor Assis Brasil revelando em "Self Portrait" aponta do iceberg do tesouro musical deixado pelo grande Victor, falecido há 9 anos: o irmão João Carlos, Paulo Sérgio Santos, Zéca Assumpção e Jurim Moreira.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
5
23/09/1990

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