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Revivendo Carmen, até da Inglaterra vem polêmica

Revivendo Carmen, até da Inglaterra vem polêmica Leon Barg não esperava tanto! Quando decidiu, há mais de dois anos em generosamente democratizar sua coleção de mais de 20 mil preciosidades da MPB juntadas ao longo de 45 dos seus 59 anos - e cuidadosamente guardados na garagem-estúdio de sua mansão, em Curitiba - sabia que haveria muitos interessados em adquirir os álbuns reeditados. Afinal, há uma faixa de público acima dos 40 que sabe valorizar o chamada época de ouro do cancioneiro brasileiro. E também jovens de bom gosto, inteligentes e suficiente para desejarem conhecer as melhores vozes que o Brasil já teve. Entretanto, a cada semana que passa, Leon vê, com satisfação, que o trabalho que vem desenvolvendo através do selo Revivendo encontra maior aceitação e uma merecida cobertura nacional. Embora alguns dos 50 tijolos editados até agora estejam com menor vendagem, isto não desanima Barg que, num trabalho extremamente pessoal, seleciona as faixas, supervisiona o trabalho da limpeza e remixagem (feito pelo especialista Ayrton Pisco, do Rio de Janeiro), orienta a criação das capas (feitos por sua filha, Laís), para, depois coordenar todo o processo comercial. Este ano pelo menos mais 30/40 elepês, com diferentes artistas engordarão o catálogo da Revivendo, incluindo nomes que estavam totalmente esquecidos e que Barg, garimpeiro incansável, sabe (re)descobrir. xxx Há uma semana (2/2/90), Leon surpreendeu-se ao ler a "Folha Ilustrada": de Londres, Ivan Lessa - um dos jornalistas mais atualizados da imprensa internacional, há anos radicado na Inglaterra (onde é redator da BBC), mas apaixonadíssimo pela melhor MPB, enviou uma catilinária criticando seu colega Luís Antônio Grion, repórter e crítico musical da "Folha de São Paulo", cujas apreciações em torno de algumas reedições - especialmente "Cartão de Visita", com Carmen e "As Lágrimas Podem Secar" com Aracy de Almeida (Revivendo), mais "Uma Lágrima, uma dor e uma saudade" (Casa Lomuto, São Paulo) - o irritaram profundamente. Ivan Lessa em seu artigo-página ("Crítico decreta guerra a nove entre 10 estrelas") faz colocações sobre a importância de Carmen Miranda (1909-1955), Araci de Almeida (1914-1988) e Orlando Silva (1915-1978), e - com humor mas entusiasmo - reparos as apreciações que Giron havia colocado em seus textos publicados anteriormente na mesma "Folha Ilustrada". xxx Pela segunda vez (a primeira foi o LP "Junto de Vocês", volume 20 da série "Revivendo"), Leon montou um álbum com preciosidades da carreira da "Pequena Notável", a começar pelo primeiro disco que fez, ainda em 1929, quando o violonista baiano Josué de Barros (1888-1959), impressionado com o talento da modesta jovem nascida em Portugal (Marco de Cavases, 9/2/1909), mas desde os 2 anos no Rio de Janeiro e que então trabalhava como chapeleira, a levou para gravar na Brunswick. Ali, Carmen registrou "Se o Samba é Moda", do próprio Josué, que agora, com mais de 13 gravações inéditas em 33 rotações, aparecem pela primeira vez num elepê indispensável para os colecionadores. Simultaneamente ao elepê com preciosidades de Carmen Miranda (e que tem o título de "Cartão de Visita", samba de Floriano Ribeiro do Pinho, gravado em novembro/32), a Revivendo lançou mais dois outros álbuns históricos: "Pedras Dispersas" reunindo Orlando Silva e Gilbertto Alves (Martins, Rio de Janeiro, 15/4/1915) e "Tudo Cabe Num Beijo" com Carlos Galhardo (1913-1985) e o esquecido Manoel Reis (1909-1979), pseudônimo de Manoel Rodrigues Peres, santista, que era chamado de "O Cantor Apaixonado" nos programas de Cesar Ladeira. Violonista e compositor, Manoel Reis usava um violão branco e apesar de ter obtido certa popularidade fez apenas 24 discos com 43 músicas, entre elas a regravação, em 1942, a pedido do general Dutra, da marcha-hino "Cisne Branco". Nunca antes editado em elepê, Manoel Reis pode ser apreciado agora em 7 faixas, inclusive o belíssimo fox-canção "Tudo Cabe num Beijo", que era o prefixo dos programas da pianista Carolina Cardoso de Menezes. LEGENDA FOTO - Carmen Miranda: revivendo em seus anos de ouro graças ao trabalho de Leon Barg.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
09/02/1990

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