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Aramis

Revolução nas imagens que o tempo não levou

"Cidadão Kane" rompeu com a linguagem tradicional do cinema. A narrativa fragmentada, desenvolvida através de quatro personagens - Bernstein (Everett Sloane), Jed Leland (Joseph Cotten) - amigos e colaboradores de Kane, e sua ex-mulher, Susan Alexander (Doroty Comingore) e Raymond (Paul Stewart, ator falecido há 10 dias), faz a reconstrução da vida do homem e do mito - dentro do prisma de "a verdade de cada um". Uma análise dilacerante do mito americano, da grandeza, do self-made man, da política e da imprensa - que, de certa forma, seria retomada, nove anos depois, por Robert Rossen (1908-1966) em "A Grande Ilusão" (All The King's Men), baseado no romance de Robert Penn Warren. Embora centrado na vida de um poderoso editor de jornais, "Cidadão Kane" não é apenas um filme sobre jornalismo. Como não é somente sobre política e poder. É uma miscelânea do sonho americano, da grandeza e da frustração humana - tudo contado através de uma realização absolutamente renovadora do cinema. As imagens e Greg Tolland - usando, com a maior liberdade, as composições claro-escura, a trilha sonora de Bernard Hermann (marcante deste a tétrica seqüência inicial), e a montagem na qual Welles teve como assistente dois jovens que, posteriormente, se transformariam em cineastas dos mais importantes: Robert Wise e Mark Robson. Ao morrer, no dia 10 de outubro de 1985 - mesma data em que também falecia o ator Yul Brynner - Welles deixou um imenso vazio no cinema. Depois de"Citizen Kane" fez alguns outros filmes importantes - mas nenhum tão inovador como este seu primeiro longa-metragem (anteriormente, em 1934, havia co-dirigido com William Vance, "The Hearts of Age", em 16mm). Como ator, Welles apareceu em mais de 50 produções (desde as mais medíocres até filmes magníficos e inovadores, como "Malpertuis", 72, de Harry Kumel, próximo lançamento do Cine Groff). Como narrador, sua voz esteve em cerca de 20 curtas e longas, fez trabalhos para a televisão e rádio (inclusive a célebre montagem de "Guerra dos Mundos", 1938) e deixou 25 projetos cinematográficos irrealizados (ou incompletos). Mas fez um filme - CIDADÃO KANE - o suficiente para justificar toda sua vida e obra.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
28/02/1986

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