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Aramis

Rio de David e 1º de Abril de Letícia

Após bem sucedidas incursões literárias-cinematográficas ("Memórias de Helena", do livro de Helena Morley; "Lucia McCartney", do conto de Rubens Fonseca), o mineiro-carioca David Neves se voltou a um projeto tão lírico e afetivo como é a sua personalidade: um mapeamento truffoneano do Rio de Janeiro. Assim, após "Muito Prazer", com o Leblon como cenário e o encantador "Fulaninha", rodado na Prado Júnior, em Copacabana, justamente na rua em que ele reside, veio "Jardim de Alah", com conflitos e contrastes de um endereço certo, na confluência dos bairros cariocas de Ipanema e Leblon. Um filme carioca 100% - que produz uma empatia local e que talvez não se repita nacionalmente (mas o que também pode acontecer, pois as telenovelas da Globo "cariocarizaram" o gosto de milhões de brasileiros), o filme de David tem problemas de roteiro, há personagens soltos, mas possui uma leveza e encantamento que lhe fizeram merecer o prêmio especial do júri. Filha de um ministro do Supremo Tribunal Federal que renunciou em protesto ao AI-5, Maria Letícia Gonçalves de Oliveira, 41 anos, teve uma demorada gestação de "1º de Abril, Brasil": desde 1981, quando participou da montagem da peça "Vejo um Vulto na Janela, me Acudam que Sou Donzela", de Leilah Assunpção, no Teatro Nelson Rodrigues, surgiu a idéia de fazer sua adaptação ao cinema. Com seu ex-marido, Emiliano Queiroz, trabalhou demoradamente no roteiro, propôs um sistema cooperativista com suas colegas de elenco - Ida Gomes, Tessy Callado, Ana de Fátima e outros - e com todas as dificuldades (comuns no cinema brasileiro) fez o filme com uma linguagem explícita demais, no simbolismo político: o argumento fala de uma república de mulheres vivendo os momentos que antecedem ao golpe militar de 1964. Na montagem de Marília Alvim (premiada com o Kikito) trechos de documentários de época fazem com que políticos como Leonel Brizola, Miguel Arraes, Jango e personalidades como John e Jacqueline Kennedy e até a Miss Universo-64, Ieda Maria Vargas, gaúcha - participem do filme. Rosamaria Murtinho levou o Kikito de melhor atriz. LEGENDA FOTO - Raul Cortez e Imara Reis em "Jardim de Alah".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
21
25/06/1989

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