Login do usuário

Aramis

Risos (e sorrisos) dos perdedores

É verdade! Pela temática que aborda, "Palco de Ilusões" (Cinema I, 4 sessões previstas... se houver público) é daqueles filmes difíceis de atingir ao grande público. Embora sendo uma comédia romântica, trata de um tema basicamente americano, urbano: artistas que se apresentam em clubes noturnos das grandes cidades, humoristas que contam piadas, os chamados "stand by" capazes de improvisarem histórias hilariantes mas ao espírito americano. Assim, este humor nem sempre transpõe as fronteiras regionais e fica sem graça ao público de outros países - especialmente se não tiver uma (in)formação maior, inclusive em relação a personagens citados nos contextos das anedotas. Entretanto, mesmo com esta limitação, "Punchiline" (o título original, já referindo-se a uma expressão regionalista), é suave, romântico, com toques de humanismo, que confirma a sensibilidade com que o diretor David Seltzer, sabe tratar os personagens. Em "Inocência do Primeiro Amor" (Lucas, 1986), seu longa de estréia (após uma carreira de roteirista e diretor de documentários voltados para temas ecológicos e da natureza), Seltzer contava a história de um garoto (Corey Haim, hoje fazendo carreira como ator adolescente) solitário e discriminado numa pequena cidade americana. Um filme belo, que embora ainda com censura válida (foi lançado no Brasil há dois anos, com uma única semana de exibição no Plaza), mereceria ser revisto em tela ampla (em vídeo, ainda não há cópia disponível). "Palco de Ilusões" também trata com ternura personagens perdedores e deserdados, mas profundamente emotivos: Lilah Zrytisick (Sally Field, uma das melhores atrizes do cinema americano, premiada com Oscar em "Norma Rae", 1979 e "Um Lugar no Coração", 1984) é uma dona de casa de Nova Jersey. Seu marido é um polonês simplório, gordo, mas simpático, capaz de relativamente entender que deixe suas três filhas sozinhas para, de madrugada, tentar um espaço no "Gas Station" (traduzido nas legendas como "Palácio do Riso"), um clube noturno nova-iorquino, no qual o proprietário, Romeo (Mark Rydell, conhecido como diretor, mas ator em sua adolescência e que volta a atuar defronte às câmaras) procura dar chance a novos comediantes. Logo no início, Lilah é enganada por um malandro, Arnold (Paul Mazursky, outro cineasta que eventualmente faz atuações), que lhe vende velhas piadas como se fossem inéditas. Este lance de compra de piadas já é uma surpresa do espectador brasileiro: afinal, por aqui, ninguém conhece este sistema muito utilizado pelos humoristas americanos - a de "comprar" direitos (sic) sobre piadas não conhecidas. Se Lilah enfrenta a barra de ter que se desdobrar entre as responsabilidades de dona de casa e um trabalho noturno (que não a remunera sequer para os gastos com o táxi), Steven (Tom Hanks), devido sua falta de assiduidade aos bancos escolares, é desligado do curso de Medicina e mais do que nunca tenta sobreviver como humorista. A estes dois personagens com seus problemas - mas que, dentro da lei do show bussiness, tem que fazer (ou tentar) o público rir todas as noites, o roteiro de Seltzer acrescenta outros pequenos perdedores, entre comediantes que, no final, buscam sua chance num concurso que levaria o melhor à televisão. Sensível, sem exagerar no enfoque afetivo, ao contrário, profundamente respeitoso nas relações de Lilah e Steven, "Punchiline" é uma obra terna - que, indiretamente, lembra alguns dos personagens de "Broadway Dany Rose" (1984, de Woody Allen), também uma crônica dos artistas que não deram certo ou, recuando-se mais no tempo, a cinebiografia do comediante Joe E. Lewis que Frank Sinatra interpretou em "Chorei por Você" (The Joker is Wild, 1957, de Charles Vidor), que ficou na memória dos cinéfilos pela canção tema "All the Way" (Sammy Cahn / James Van Heusen, premiada com o Oscar e que se tornou standard no repertório de Sinatra). A trilha sonora de Charles Gross em "Palco de Ilusões" não chega a tanto, mas é bonita - assim como o filme é sensível - merecendo ser visto. LEGENDA FOTO - Tom Hanks é Steven Gold, um comediante na busca de seu espaço, em "Palco das Ilusões". Um filme terno embora com um humor caracteristicamente americano. Em exibição no Cinema I, até amanhã.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
22/08/1989

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br