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Aramis

Roger, o Sr. Coelho com alta tecnologia

Nesta última semana de 1988, o coelho é quem manda! Se não fosse Roger Rabbit desembarcando em 80 cinemas de 35 cidades - em Curitiba nos cines Astor e Bristol - não haveria estréias importantes. Apenas nas primeiras semanas já faturou nos Estados Unidos 100 milhões de dólares e chega ao Brasil com um marketing promocional capaz de ganhar capa de "Veja". A cobertura dada a "Uma cilada para Roger Rabbit" praticamente já esgotou todas as informações. Superprodução unindo o cinema tradicional com a técnica de animação, demorou anos em produção e reuniu os maiores talentos da Amblin Entertainment (a empresa de Steven Speilberg), da Touchstone (subsidiária do conglomerado Disney) e da Light & Magic, a fábrica de efeitos especiais de George Lucas. O diretor é Robert Zaemeckis, que provou sua competência em "Tudo Por Uma Esmeralda" e, especialmente, "De Volta Para o Futuro". O ator principal - Bob Hoskins - é um inglês que já foi premiado em Cannes (por sua atuação em "Mona Lisa"), pelo mesmo filme, ganhou a indicação ao Oscar de melhor ator. Aos 45 anos, é tido como um dos mais vigorosos intérpretes do cinema contemporâneo e aqui vive o detetive Eddie Valiant, private eye no melhor estilo dos personagens criados por Dashiel Hammet e Raymond Chandler. O roteiro foi baseado no livro de Gary K. Wolf e a trama não é facilmente absorvida pelas crianças uma superprodução colorida e com 1.035 efeitos ópticos - a história se confunde muito, lembrando, em parte a trama que Robert Towne criou para "Chinatown", filmada há 20 anos passados por Roman Polanski. O herói é um detetive particular, bêbado e fracassado, Eddie Valiant (Bob Hoskins), que se tornou um inimigo dos desenhos animados porque um deles causou a morte da mulher que ele amava. É contratado por um produtor, R. K. Marroon (Alan Tilbern), para vigiar seu astro, Roger Rabbit - um coelho que lembra Pernalonga. Roger desconfia da fidelidade de sua mulher, a sensual Jéssica - que é uma paródia à sensualidade de Rita Hayworth, e Lauren Bacall (com a voz da atriz Katheleen Turner, dublada por Amy Irving, esposa de Spielberg, quando canta). O suposto amante de Jéssica, e descobridor de talentos Marvin Acme (Stubby Kaye) é assassinado e Rober Rabbit acusado do crime. Até aí, tudo bem! Dá para entender a história. Entretanto entram novos elementos e uma drama que traz um cruel vilão, o juiz Doom (Christopher Lloyd), corrupção para o domínio da terra dos desenhos animados (que lembra "Chinatown", que tinha na especulação imobiliária em Los Angeles uma de suas tramas paralelas) e uma infindável sucessão de vais e vens na história. Como o filme é em versão original, as crianças que não conseguem ler as legendas terão ainda maiores dificuldades de acompanhar o argumento. No final, muitos pais terão dificuldades para traduzir a trama. Tudo isto, entretanto, é secundário. O filme vale como um deslumbramento tecnológico pois embora em 1923 Walt Disney (1901-1966) já pensasse em juntar atores e personagens de desenhos animados - o que só faria em "Mary Poppins" (1966), antecedido porém da presença bailável de Tom & Jerry com Gene Kelly em "Convite à Dança" (1956) - desta vez a tecnologia deste final de milênio permitiu o máximo de recursos para a criação de um filme totalmente mágico em seu envolvimento visual. A Touchstone/Ambler distribuiu farto material mostrando como o filme foi realizado - especialmente destacando o trabalho de Richard Williams, 55 anos, 40 de paixão pelo cinema animado - e que desenvolveu toda a parte de animação para a perfeita junção dos intérpretes vivos com os personagens desenhados - neste, desfilando não só os originalmente concebidos para este filme, mas também o elenco da Walt Disney desde o pioneiro "Branca de Neve e os Sete Anões" (1937) e o sextagenário Mickey até a pioneira Betty Boop (que apareceu em branco-e-preto, vendendo cigarros numa boate) - mas também criações pertencentes a outros estúdios - como o Pernalonga, Picapau, Caffy e outros. Só para resumir: Williams (que em 1972 ganhou o Oscar de melhor desenho animado com "A Christmas Carol") teve que dirigir o trabalho de 326 desenhistas de animação que criaram 82.080 imagens diferentes, quadro a quadro a mão que aparecem no filme. Mais um dado distribuído pela produção: enquanto num desenho animado são feitos dez desenhos por segundo, no de "Roger Rabbit" foram produzidos 23. Dos 103 minutos do filme, 55 têm desenhos animados, criados pela equipe de Williams e retocados para parecerem tridimensionais pela Indústria Light & Magic - a firma de Lucas. LEGENDA FOTO - Zaemeckis na direção de "Uma cilada para Roger Rabbit", com o ator Hoskins e o desenho: inovação.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
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1
23/12/1988

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