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Sadam Hussein, o Dom Corleone do Oriente

Se não tivesse mergulhado meio mundo numa terrível guerra neste início de ano, o ditador Sadam Hussein, do Iraque, teria sido um dos primeiros privilegiados espectadores da antiga sala de projeção de seu palácio em Bagdá a assistir um filme que estreou nos Estados Unidos há 120 dias e que agora é um dos favoritos na corrida aos Oscars, no próximo dia 25: "O Poderoso Chefão III" (estréia nacional dia 15; em Curitiba, Cine Condor). É que, quando tinha tempo de ver filmes, o ditador iraquiano adorava rever "O Poderoso Chefão", em suas duas partes. Realizadas por Francis Ford Coppola e que tiveram, juntos, mais de dez premiações em Oscars (agora, a terceira, concorrendo em seis categorias). Esta revelação, no mínimo curiosa, é feita por duas jornalistas americanas, Judith Miller e Laurie Mylroie, num livro ("Sadam Hussein e a Crise do Golfo", editora Scritta Oficina Editorial, tradução de Vera Maluf, 204 páginas) que, em apenas dois meses e meio já está em terceira edição. No natural boom de obras com informações sobre o Oriente Médio - e particularmente a crise do Golfo, iniciada em agosto de 1990 e que no dia 15 de janeiro explodiu com o início da guerra - esta nova e ágil editora saiu na frente. Em formato de bolso, 18 x 12 centímetros, o livro de Judith e Laurie - "Sadam Hussein and the Crises in the Gulf" lançado nos Estados Unidos em fins de outubro do ano passado (e cujos 8 mil exemplares da primeira edição brasileira se esgotaram em dezembro), se constitui numa análise séria, objetiva e ampla - numa linguagem jornalística dos diferentes aspectos da questão. Judith Miller, desde 1977 no "The New York Times", trabalhou como correspondente internacional em diversas capitais, incluindo o Cairo onde foi chefe da sucursal daquele importante jornal. Atualmente é a editora adjunta para assuntos do Oriente Médio e, anteriormente, publicou "One, One" e "Facing the Holocaust". Sua parceira neste livro, Laurie Mylroie é pesquisadora da Bradley Foundation no Centro de Estudos sobre o Oriente Médio da Universidade de Harvard. Acaba de publicar um outro livro sobre segurança no Golfo Pérsico e, como profissional, esteve no Iraque várias vezes. O livro-reportagem, exemplo do best-seller up to date sobre fatos que estão acontecendo, encontrou excelente acolhida da crítica, além de sucesso de público. James Yuenger, do "Chicago Tribune", registrou que "o esforço de Miller e Mylroie deu origem a um livro competente, historicamente solido na análise dos eventos e decisões que precederam a presença de tropas americanas na Arábia Saudita". Já Marvin Zonis, do "The New York Times Book Review" lembrou que as autoras apresentaram um relato ágil e contundente de como Sadam Hussein, "um visionário esperto, conseguiu manipular seu povo e o mundo para satisfazer suas ambições grandiosas". Entretanto, o crítico do NYT não está totalmente certo. Embora Judith e Laurie não poupem o ditador iraquiano, procuram mostrar também os aspectos políticos e, especialmente, econômicos, que provocaram esta guerra, esboçando um quadro da questão do Golfo e esclarecendo as divergências e confrontos de interesses entre o Ocidente e o Oriente Médio e entre os países árabes. Em relação ao Ocidente, enfatizam a política imperialista - primeiro da Inglaterra e após 1945, dos Estados Unidos. Mesclando informações sobre a vida de Hussein - cuja biografia até hoje tem períodos obscuros, com uma visão política da região, sempre numa linguagem jornalística objetiva, as autoras oferecem um livro, que neste momento, se afigura como uma leitura importante. Afinal, mesmo com o vídeo-guerra na televisão em todos os momentos, a profundidade das informações requer a imprensa e, neste caso, um livro como este que chega a ser didaticamente dos mais oportunos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
26/02/1991

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