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Aramis

Saudades nas telas, nas canções ... (alguns cadáveres ilustres de 1987)

A morte daqueles que, de uma forma ou de outra, contribuiram para que o nosso mundo se tornasse menos amargo e a indústria de sonhos e entretenimento ganhasse formas e cores atinge-nos sempre de uma forma maior. Os obituários de cada dia extendem-se na extensão em que os mortos foram mais ou menos famosos, capazes de deixar saudades e emoções, nas imagens das telas ou nos registros gravados. 1987, como sempre, teve seu saldo de baixas - e mesmo sem um levantamento completo, tarefa para os books of the year, com dados mais amplos, alguns nomes se sobressaem. Em termos de imagem para o público, especialmente para a geração que cresceu amando o cinema entre as décadas de 40 e 50, a morte mais sentida foi a de Rita Hayworth (Margarida Carmem Cansino), em 15 de maio, em Nova Iorque. Uma morte triste e esperada, já que há muitos anos Rita sofria de grave enfermidade e, nas fotos que, vez por outra as agências distribuiam, a imagem era terrível - tão distante da daquela jovem e sensual ruiva que encantou corações e embalou sonhos, não só a "Gilda" - de 40 anos passados, a mulher inesquecível - mas que foi também a "Salomé", "A Dama de Xangai" (no filme dirigido por Orson Welles, um de seus maridos, a cigana e Carmem na versão que Charles Vidor fez em 1952 - tentando repetir (sem sucesso) o êxito que o encontro com Glenn Ford, cinco anos antes havia conseguido - ou mesmo a pecadora Miss Sadie Thompson, da peça "Chuva" de Somersest Maugham, que, em 1954, chegava ao cinema. Rita, mulher inesquecível, ficou com a imagem que se perdeu - antes da morte, na própria vida. xxx Dick Farney (Farnesio Dutra e Silva, Rio de Janeiro - 14/11/1921- 4/8/1987) é, como Sinatra, a imagem de uma música romântica que embalou romances e contribuiu, a sua maneira, para que a população aumentasse (como dizia Vinícius a propósito de seu "Eu Sei Que Vou Te Amar"). Elegante, sofisticado, requintado, Farney foi sempre o cantor de classe A, com um repertório primoroso - tanto é que, nos últimos 10 anos de sua carreira, gravou apenas uma canção nova ("Aeromoça", homenagem de seu amigo Billy Blanco a uma comissária de bordo que seria a última sra. Farney). Difícil conciliar a imagem de Dick e seu requinte sonoro, sua elegância, com a máscara fúnebre. Irônico é pensar que o outro grande cantor de sua geração, o mineiro Lúcio Alves, 61 anos - que com ele dividiu a famosa polêmica romântica dos anos 50 que desembocaria em "Teresa da Praia - há dois anos estava gravando doente, praticamente em coma. Quis o destino que o bom Lúcio sobrevivesse a Dick, de quem ficará eternamente, a imagem do cantor. Copacabana, Princesinha do Mar... A voz negra, Brasil-África, da mãe Clementina não há mais. Em agosto morria a Quelé, a Mãe Clementina, descoberta em 1962, numa taverna da Glória, cantando em sua voz rouca e forte as dores e alegrias de quatro séculos de opressão sobre os negros. O poeta - e seu filho musical, Hermínio Belo de Carvalho, fez Clementina chegar a sensibilidade de muitos, emocionando a tantos, com seus cantos brasileiríssimos - ao morrer, aos 85 anos (nasceu em Valença, RS, em 7/7/1902), Clementina levou consigo os ensinamentos culturais de um povo, de uma raça... Em Curitiba, a 14 de setembro, morria Lindolfo Gaya, pianista, compositor, arranjador (paulista de Itararé, 6/5/1921), que teve uma contribuição maior para a nossa música e que, nestes últimos anos de vida - ao lado de sua querida Stelinha Egg - aqui deixou preciosos ensinamentos a quem soube valorizar a sua dimensão e talento. Menos conhecidos, mas igualmente significativos, desapareceram neste ano o compositor Alcides Gonçalves (Porto Alegre, 1909-1987); parceiro nem sempre lembrado) de Lupicínio Rodrigues em tantas músicas o acordeonista Raul Mascarenhas (morto aos 61 anos, em 13/10) e, em, Los Angeles, EUA, onde residia há mais de 20 anos, o violonista e compositor Bola Sete (Djalma de Andrade, Rio - 16/7/1923 - LA - fevereiro/87). 1987 terminou, no domingo 27 de dezembro, com a morte de Cacáso - o poeta e letrista Antônio Carlos de Brito, que o coração levou aos 43 anos, deixando tantas canções bonitas como sua parceria com Suely Costa, "Dentro de Mim Mora Um Anjo". 1987 levou também o mago da guitarra Andres Segovia (2/6); Peter Tosh, em setembro, assassinado em sua casa, na Jamaica; o pianista Liberace, o cantor italiano Cláudio Villa, a cantriz egípcia Dalida, o tangueiro argentino Hector Varello, o compositor Nico Mendendez ("Aqueles Olhos Verdes") e o violinista Jascha Heifez (2/2/1901-10/12/l987). LEGENDA FOTO: Rita: a imagem que ficou
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
8
31/12/1987

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